tempo como dom
Fico com a sensação que nos bastaria tomar o tempo como uma dádiva que existe sempre, até nós existirmos e porventura mais além. Ora, muitas vezes, antecipamos ou adiamos o tempo, em vez de ‘surfar’ nele como um dom…
Fico com a sensação que nos bastaria tomar o tempo como uma dádiva que existe sempre, até nós existirmos e porventura mais além. Ora, muitas vezes, antecipamos ou adiamos o tempo, em vez de ‘surfar’ nele como um dom…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se o texto Mc 10, 17-30
«Vende o que tens e segue-Me»
O repto lançado por Jesus ao jovem rico é, também hoje, lançado a cada um de nós. Ao cristão que se encanta e se aproxima de Jesus, querendo segui-Lo, é sempre pedido mais, como convite de liberdade e não como jugo pesado. As riquezas de que fala Jesus não representam essencialmente, embora também, o dinheiro e as coisas. Temos riquezas quando estamos cheios: de objetos, de projetos, de instintos possessivos, de nós mesmos. E alguém cheio de coisas dificilmente passa por uma porta estreita. O sentido espiritual da entrega é ‘o depósito’ do nosso jugo no colo de Deus, deixando-nos leves para o amor. Para este exercício, há que praticar o verbo largar…
Este texto é adaptado em parte ou na totalidade de palavras anteriores já publicadas.
L 1 Sb 7, 7-11; Sl 89 (90), 12-13. 14-15. 16-17
L 2 Heb 4, 12-13
Ev Mc 10, 17-30 ou Mc 10, 17-27
Num trilho de humildade, a ciência colocar-se-ia numa perspectiva segundo a qual não tem o mundo na mão, nem sequer um pedaço dele… A ciência, antes constrói uma interpretação do cosmos que é, em certo sentido, provisória e parcial. Por isso, talvez felizmente, se possa dizer que há muito a saber além da ciência…
A profundidade busca-se na solidão, na quietude e no silêncio, mas, também, na relação, no gesto e na palavra. Importará um justo equilíbrio onde estar só qualifique a atenção ao outro, parar potencie o agir e silenciar abra espaço ao dizer ligante.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se o texto Mc 10, 2-16
Não separe o homem o que Deus uniu
Uma reflexão sobre o casamento e a proposta católica: o apontamento para a indissolubilidade do matrimónio religioso (um conceito de insinuação química, por sinal…) parece-me um tesouro a guardar, um convite a manter e um processo a trabalhar continuamente, também pelo valor antropológico, cristão e sociológico que contém.
Acontece que, como muitas propostas evangélicas, trata-se de algo libertador, mas exigente e radical. Muitos casamentos católicos podem não ter sido devidamente entendidos e vivenciados (era bom criar as condições de acesso pleno e popular a uma eventual declaração de nulidade). Ou as possibilidades reais, de cada um, dos dois, do acumular de circunstâncias e fragilidades, podem ter-se tornado insuportáveis. Chegados a esse ponto (não inócuo, para todos), em todo o caso tentando não banalizar, vulgarizar e ‘saltitar’, importa mais, à boa maneira de Cristo, o potencial de crescimento e recomeço do que o martírio culpabilístico, legalista e excluidor. A Igreja, sinal do amor de Cristo no mundo, é convidada a ajudar a ‘fazer as malas’, avaliar criticamente, amparar, acolher e estabelecer bases (elas próprias exigentes e carentes de trabalho interior e relacional) para efetivos recomeços integrativos.
Este texto é adaptado em parte ou na totalidade de palavras anteriores já publicadas.
L 1 Gn 2, 18-24; Sl 127 (128), 1-2. 3. 4-6
L 2 Heb 2, 9-11
Ev Mc 10, 2-16 ou Mc 10, 2-12
Lido mal com as expressões e vivências que passem por “defender a Igreja”. O resultado de defender pode estar perto de enterrar… Não me parece, também, esta metáfora defensiva, a agenda do fundador…. Inspira-me, portanto, uma Igreja em saída…
Halik diz bem algo que muitos crentes católicos teimam em não admitir e vivem como se assim não fosse: “o rio da fé galgou as suas antigas margens; a Igreja perdeu o monopólio da fé”. (in ‘Halik, T. A Tarde do Cristianismo’. Paulinas, 2021.p 268).
Não simpatizando eu com certas militâncias religiosas, que mais fazem lembrar os tempos idos das cruzadas, não nego, porém, o caráter intrinsecamente apostólico da pertença religiosa cristã. Apostaria, porém, na ontologia de vida, debaixo do lema: “converter” (mesmo assim, com aspas) é converter-se… e abrir-se à aprendizagem…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se II Tg 5, 1-6
as vossas riquezas estão apodrecidas e as vossas vestes estão comidas pela traça
O texto da epístola de Tiago alude à precariedade da materialidade e à fragilidade da acumulação. A Bíblia, no Antigo e no Novo Testamento, aponta, em inúmeras passagens, para a fragilidade do ter, face à força do ser. Para aqueles que leem estas palavras e já possuem alguma cultura espontânea de austeridade e a quem a vida já ensinou que vale muito pouco a pena acumular, convém abrir uma outra porta, que nos conserva sempre uma positiva inquietação: é que há ainda muitos humanos no nosso planeta que não têm os mínimos e a quem seria imoral pedir qualquer desprendimento, qualquer austeridade. É legítimo que esses desejem ter o mínimo que nunca tiveram e de que precisam. Não chega, portanto, sermos modestos e austeros (embora seja um ponto de partida
importante). Parte do movimento de todos nós, mesmo dos menos materialistas, é incentivar e empreender genuínas partilhas, à escala global. No limite, criar condições para uma austeridade escolhida, fundada na dignidade de todos. Essa partilha, sim, é garantia que a traça não corrói…
Este texto é adaptado em parte ou na totalidade de palavras anteriores já publicadas.
L 1 Nm 11, 25-29; Sl 18 (19), 8. 10. 12-13. 14
L 2 Tg 5, 1-6
Ev Mc 9, 38-43. 45. 47-48
Invoco com frequência a teologia negativa de Ekart e de tantos outros. Na teologia, como na vida, “Deus livrou-nos de (ter) Deus (no bolso)”…