química – ciência participada…

A química não foi semelhante à física ou a outras ciências no que concerne à sua história. Não se pode falar numa ‘revolução do tipo galilaica’, no caso da química. Pelo contrário, de forma muito contínua, a química vai-se instituindo enquanto ciência à medida que são tornados públicos os processos alquímicos e outras técnicas e procedimentos de misturas e produções. É desta popularidade, muito ligada ao quotidiano (aos metais e aos boticários, aos sabões e à cozinha…), de boleia com a imprensa e outros facilitadores de certa globalização, que a química se vai tecendo… Agrada-me participar numa ciência que nasceu tão participada…

JP in Ciência Química 16 Outubro, 2024

entropia e tempo

A Segunda Lei da Termodinâmica, na sua interpretação simples e qualitativa, diz-nos que a entropia (medida de desordem dos sistemas) está sempre a aumentar. De alguma forma, esta lei dá-nos «a seta do tempo», o que é bem curioso, pois a ciência responde assim a uma pergunta que um filósofo tem grande dificuldade em encarar: “o que é o tempo?”. O tempo é então uma função que aumenta quando a entropia aumenta. Por outras palavras, hoje é hoje e não é ontem, porque há mais desordem no universo. E ontem era ontem e não hoje porque ontem havia mais ordem no universo…

JP in Ciência Educação Frases Química 16 Maio, 2023

diamante e grafite

Sempre me fascinou a grafite (usada nos lápis de escrever) e o diamante. Para compreender melhor a dureza do diamante, a química ajuda: as fortes ligações entre os átomos de carbono, numa malha tridimensional coesa, justificam a rigidez deste material. Por isso, o diamante corta tudo ou quase tudo. Já a grafite, mais quebradiça, é constituída por camadas de átomos de carbono fracamente ligadas entre si, deslizando umas sobre as outras. O fascinante destes dois materiais, grafite e diamante, é que são ambos constituídos por carbono e só carbono. As mesmas unidades estruturais, arrumadas diferentemente, dão origem a materiais tão diferentes…

JP in Química 16 Janeiro, 2023

alquimia na China

A procura de eternidade é mesmo muito antiga. No século VIII antes de cristo, na China Antiga, a procura do ouro tinha esse fito do metal inalterável, da materialização do eterno. Muitos elixires (enxofre, arsénio e mercúrio), já nessa altura, inspiraram feiticeiros. Esse agarrar na palma da mão a imortalidade pode ter custado a vida (por envenenamento) a inúmeros imperadores… Já naquele tempo, agarrar (deuses ou dinheiros) viria a ser uma perdição…

JP in Ciência Química 16 Dezembro, 2022

ureia, química e vida

De todas as sínteses químicas há uma que merece especial atenção: a síntese da ureia. Em 1828 consegue-se o primeiro ensaio de produção artificial daquilo que sabemos hoje ser dinitrometanal. Como componente do mundo vivo, e dos fluidos humanos, em particular, a química, já aprendiz de criadora dos objetos que estuda, passa o rubicão da síntese da natureza. De lá para cá, a par das ciências biológicas e físicas, tem sido um processo e uma aventura fascinantes. Não sem melindres e perigos. Este ‘mexer na vida’ tem tanto de ousado e belo quanto de titubeante. A mim, enquanto pequeno e insignificante protagonista da química, apesar dos limites que implica, liberta-me a metafísica de um certo sentido sagrado da vida… Por isso, tudo que a química fizer, será para promover e dignificar a vida, nunca o seu contrário…

JP in Ciência Química 18 Outubro, 2022

dose certa

Na dose certa

 

Procuro a

minha dose.

Quanto dou?

Que espaço ocupo?

Que tempo tomo?

Às vezes, estou demais,

quase veneno.

Encho com excessivas

palavras.

Melhor fora ser

silencioso solvente.

Outras vezes

devia ser mais presente.

Mais soluto.

Mais concentrado.

Sou micro-escala

quando deveria

gritar ao mundo

uma qualquer injustiça.

Meu sonho?

Ser tónico, não tóxico.

Procuro a

minha dose,

a dose certa…

2011

JP in Poemas Química 22 Setembro, 2022

plásticos…

Há contas por fazer sobre o balanço relativo do uso (e abuso) do plástico e do papel. Custa-me a elaborar que o papel é mais inócuo para o ambiente do que o plástico. O problema essencial, penso, não está em ser plástico ou papel. Está no sentido ético que determina comportamentos. É doloroso ver estômagos de animais marinhos cheios de plásticos ou vestígios nas bordas dos rios de uma espécie de sedimentos plásticos. Mas o problema não está no plástico, está em quem não o reciclou…

JP in Ciência Química 16 Setembro, 2022

gás e espírito…

A palavra gás pode ter origem em ‘geest’ que, em holandês significa espírito. Terá sido Van Helmont que batizou esse ‘espírito’ como ‘gás silvestre’, afinal o que se liberta quando uma substância natural perde a forma por combustão. Seria o nosso atual dióxido de carbono. Estas histórias são curiosas e o que acho simplista e metodologicamente uma grande salgalhada é deduzir coisas como: agora que, graças à ciência, sabemos que é dióxido de carbono, então não há espírito…

JP in Ciência Espiritualidade Química 16 Agosto, 2022

Espectro

Espetro

 

O espetro

é esperto

pois diz

o que é

a sua raiz.

A luz,

acertada,

dança

com matéria,

na esperança

de ir perto.

O que sai

dessa dança

é coisa

bem séria:

dançam

os átomos,

com a radiação,

o espetro

te dá

a informação.

Transporta

consigo

o que é,

donde vem,

e dados

escondidos

que vão

mais além.

O teu espetro,

óh humano,

o outro

é que sente,

não é improviso.

Sincero, a metro

teu espetro

de gente

será

um sorriso…

in Paiva, J. C., Quase poesia quase química (2012) (e-book). Lisboa, Sociedade Portuguesa de Química.

acessível aqui (porventura enriquecido com uma ilustração)

 

JP in Ciência Poemas Química 22 Fevereiro, 2022

energia livre

A capacidade preditiva em ciência é um dos seus grandes trunfos. Há critérios de tendência para energia mínima e de tendência para entropia (grau de desordem, grosso modo) máxima. Determina crucialmente a ocorrência ou não de um processo saber qual a “energia livre” posta em jogo…

JP in Ciência Química 30 Dezembro, 2021