Hibridização
Hibridização
Na química,
os aromas mais nobres
são com eletrões de ninguém.
É tal ressonância
que emana
e se espalha em doação.
Na química,
como na química da vida,
é a partilha,
é a não pertença
que nos perfuma…
2019
Hibridização
Na química,
os aromas mais nobres
são com eletrões de ninguém.
É tal ressonância
que emana
e se espalha em doação.
Na química,
como na química da vida,
é a partilha,
é a não pertença
que nos perfuma…
2019
Reduzido
Toma lá,
dá cá,
electrão
já cá está.
Eu fico,
reduzo,
tu perdes,
oxidas,
tu largas
eu uso
electrão,
saltitão.
Reduzi,
oxidei-te
e daqui em
diante
serás oxidado,
e eu
oxidante.
Recebi,
reduzi,
mas também
te oxidei,
lei da vida
é assim:
recebi,
também dei…
in Paiva, J. C., Quase poesia quase química (2012) (e-book). Lisboa, Sociedade Portuguesa de Química.
acessível aqui (porventura enriquecido com uma ilustração)
A Química é mesmo uma ciência dual: empírica mas racional, pragmática mas puxando pela imaginação. A Química, ao mesmo tempo, estuda objetos mas cria objetos, aproxima-se de leis gerais mas pulvilha-se de excepções. Talvez por isto goste de Química… porque também eu sou assim…
Titulada
Pim, pim
cai,
assim,
na solução,
pim, pim
rumo
à neutralização.
No fim,
se indicador
se intromete,
nem sempre
vale
o pH sete.
Gráfico
escada,
subida,
escala andante.
Valor encontrado:
Sabia-se o titulante
Sabe-se o titulado…
in Paiva, J. C., Quase poesia quase química (2012) (e-book). Lisboa, Sociedade Portuguesa de Química.
acessível aqui (porventura enriquecido com uma ilustração)
Os nomes dos elementos químicos e, mais ainda, as suas representações simbólicas (uma, duas ou três letras) têm também uma lógica, algumas vezes «escondida», que nos pode ajudar a entender melhor a natureza. O símbolo químico da prata, Ag, pode relacionar-se com Argentina, pois havia muitas minas de prata (argentium) naquelas terras da América do Sul (onde existe, aliás, o «Rio de la Plata»). A palavra platina é um diminutivo depreciativo de «plata» (prata) e o símbolo químico da platina é Pt (nada a ver com Portugal, bem entendido…).
Cobre
Com sulfato
emparelhado,
em pedra
ou solução,
é belo de
azul
metal,
descrição.
Condutor
abraçado
isolante,
corrente
aqui
aparece
adiante.
Maleável,
valioso,
industrial,
abundante.
Ancestral
precioso
em moedas,
vibrante,
polido,
brilhante.
Não sei quem
é mais duro,
se sou eu
ou se és tu.
Gosto mais
do meu nome
pois teu
é feio
…é Cu…
in Paiva, J. C., Quase poesia quase química (2012) (e-book). Lisboa, Sociedade Portuguesa de Química.
acessível aqui (porventura enriquecido com uma ilustração)
Por vezes, podemos arriscar alguma antropomorfismo da matéria para sermos mais claros (ainda que menos rigorosos, como às vezes nos impõe a didática…). Há um conceito importante em química que diz respeito à afinidade electrónica. Este conceito relaciona-se com a energia posta em jogo, quando um átomo recebe um electrão. Se muita energia se libertar nesse processo de captação eletrónica, então a afinidade electrónica (uma medida da tendência desse átomo para chamar a si electrões) é grande. Se, pelo contrário, pouca energia se libertar (ou, como por vezes acontece, se for preciso fornecer energia para o átomo «suportar» mais um electrão), então a afinidade electrónica é pequena. Também noutras palavras e contextos a palavra afinidade tem este significado: ter afinidade com alguém é gostar e querer esse alguém. Falar em «paixão» dos átomos para se ligarem, por exemplo, observando que uns têm mais apetência para se ligarem do que outros, para determinadas espécies químicas, pode ser esclarecedor. O conceito de electronegatividade, que se relaciona com a afinidade electrónica e diz respeito à tendência dos átomos para chamarem a si electrões na ligação química, pode ganhar, do ponto de vista pedagógico, com a palavra «guloso». O átomo de flúor é muito guloso de eletrões (tem grande electronegatividade… e grande afinidade electrónica) e, quando se liga com outro, como o hidrogénio, por exemplo, menos guloso, formando uma molécula de fluoreto de hidrogénio (HF), dá origem a uma molécula polar (com pólos). As cargas negativas (respeitantes aos electrões) estão mais tempo do lado do flúor, que é muito guloso de electrões, do que do hidrogénio, que é menos «guloso»… Como é interessante (e quase humanizante) a interpretação química da natureza…
Há um eixo concetual da química que torna esta ciência tão necessária quanto fascinante: o que tendemos a fazer, é interpretar as propriedades macroscópicas das substâncias (e das respetivas transformações), com base no dinamismo corpuscular que constitui dinamicamente a matéria. Por exemplo, se um material é duro e/ou se funde a temperaturas altas, é de supor que os corpúsculos que o constituam estejam fortemente ligados… Como é interessante tentar tatear como funcionam as coisas!…
Laboratório químico
Uma pipeta
pipeta a
bureta.
Outra
bureta
torneira
na mão.
Pego no
copo
faço solução,
mexo
com a
vareta
em rotação.
Aqueço
no disco
ou no
bico a gás
dissolvo
e verto
para uma
matráz.
Agito assim,
diluir solução
metendo
com água
para um
simples balão.
É lindo
ver e pensar
mas sempre
seguro,
com muita
atenção.
A química
andando
com muita
emoção…
in Paiva, J. C., Quase poesia quase química (2012) (e-book). Lisboa, Sociedade Portuguesa de Química.
acessível aqui (porventura enriquecido com uma ilustração)
Tabela Periódica
Que Tabela!
Quem pintou
esta tela?
Quem a criou?
Que tabela!
Quem sou,
no meio dela?
Onde estou?
Basta uma vintena
de teus elementos
para compor a cena
dos meus pensamentos.
Carbono e outros que tais
cálcio, ossos, dentes…
elementos iguais
combinações diferentes…
Que tabela
engraçada
o russo
inventou.
Deixou
-lhe
buracos
que a ciência
ocupou.
Há colunas
e linhas
sem ser
linear.
E o mundo
criado,
contando comigo,
tem lá seu lugar
tem lá seu abrigo…
in Paiva, J. C., Quase poesia quase química (2012) (e-book). Lisboa, Sociedade Portuguesa de Química.
acessível aqui (porventura enriquecido com uma ilustração)