bioética…
Na dança da ciência com a ética podemos identificar uma espécie de cirurgia ontológica, do tipo “até aqui podem mexer… depois não…”. Mas isto é tudo menos maquinal e por isso a bioética é tão importante e tão dinâmica…
Na dança da ciência com a ética podemos identificar uma espécie de cirurgia ontológica, do tipo “até aqui podem mexer… depois não…”. Mas isto é tudo menos maquinal e por isso a bioética é tão importante e tão dinâmica…
Santo Ireneu, cerca de duzentos anos depois de Cristo, intui bem que Deus é processo a carecer de tempo e trabalho. Dizia ele que Deus não se revela total e imediatamente pela mesma contingência que uma Mãe não dá um bife a um bebé…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 3, 15-16
Também Jesus foi baptizado
Este gesto de Jesus ‘se colocar na fila’ para o batismo (em teoria, prescindível para o Messias…) valoriza-nos a humildade e a procura de realização no ‘ordinário’ de cada dia. O batismo de Jesus é o mergulho no mundo como ele é, em cada um de nós e nas nossas vidas. A forte simbologia da água marca o sinal positivo do batismo como uma imersão voluntária e comunitária no risco da fé, no usufruto do acolhimento, no amparo da água que limpa, purifica e refresca…
Inspiração ecuménica e de amplitude religiosa (por isso Cristã…), é entender e reviver o batismo como ‘batizar-se no outro’. Ali, no outro, sagradamente, mora a plenitude onde vale a pena mergulhar.
NOTA: Este artigo é repetido/adaptado de um outro já publicado neste blog
L1: Is 42, 1-4. 6-7; Sal 28 (29), 1-2. 3ac-4. 3b e 9b-10
L2: At 10, 34-38
Ev: Lc 3, 15-16. 21-22
A ciência vive inúmeras vezes da ponderação de vários fatores que, muitas vezes concorrem em sentidos opostos. A energia de ionização, por exemplo, é um conceito muito relevante para a química: relaciona-se com a energia envolvida na remoção de um eletrão de um átomo (a energia diz-se de ionização porque o átomo vai transformar-se num ião…). É mais fácil arrancar um eletrão ao potássio do que ao sódio, pois tal eletrão encontra-se mais afastado da ação do núcleo, sendo, portanto, necessária menor energia. Isto acontece apesar do aumento da carga nuclear (K: +19 e Na: +11), que é um efeito que levaria a conclusão oposta, mas que tem menor influência. Ponderar: eis algo importante, na ciência como na vida…
O batismo, como mergulho (de risco) na fé, pode ajudar à identidade e à resignificação crente. Mas apenas se o batizado não se esquecer que será sempre um pagão em processo de batismo. Estamos sempre a perceber que não há pontos de chegada mas sim pontos de partida…
A revelação de Deus só se realiza plenamente na ontológica aceitação da liberdade humana
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 2, 1-12
«regressaram à sua terra por outro caminho»
Em celebração de “dia de Reis”, já depois do Natal, há vestígios ainda de “conversão”, no melhor sentido dos termos, isto é, como mudança de vida. O simbolismo dos Reis Magos terem “regressado por outro caminho” é forte: significa que aquele encontro especial (com um sentido, com O sentido…) os fez mudar trajetórias. Talvez uma das maiores riquezas da ritualização espiritual seja o radical e sistemático convite à novidade, ao confronto, à mudança de trajetória, ao “regresso por outro caminho”. Na imagem e no âmago da Igreja, nem sempre vislumbramos este espírito de mudança… Era bom cultivarmos interiormente a disponibilidade de nos tocarmos, de nos co-movermos, quando visitamos alguém, quando ensaiamos novos cenários, quando nos entregamos a novos encontros. E, diante dessas novidades, das novidades da vida, alvitrar outros regressos…
L 1 Is 60, 1-6; Sl 71 (72), 2. 7-8. 10-11. 12-13
L 2 Ef 3, 2-3a. 5-6
Ev Mt 2, 1-12
NOTA: Este texto é repetido/ajustado a partir de evento já publicado neste blog anteriormente.
Agostinho da Silva tem uma etimologia falsa muito curiosa: pegar numa criança, parti-la ao meio e meter um pedaço de adulto é … adulterar…
Albert Camus, ao expressar que “a moderação não tem que ser morna”, oferece-nos um trilho que contempla a radicalidade (ligação às raízes) e o equilíbrio sistémico…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Ben-Sirá 3
«Aquele que teme a Deus honra os seus pais»
A Igreja celebra a festa da família, inspirada na própria família de Jesus. A ver pela leitura do Evangelho que se lê hoje, a família de Jesus não era isenta de tensões, de desencontros e de perdas…
O livro de Ben-Sirá apresenta-nos uma proposta de coesão familiar que marca a tradição judaico-cristã e tem grandes repercussões sociais e de organização política: “honrar os pais”.
Vamos assumir que “honrar os pais”, na sua forma mais explícita, é um apelo ainda urgente para o apoio à terceira idade, para o acolhimento dentro e fora da família dos mais frágeis, para a não descartabilidade, para o cuidado. Mais ainda, o jeito cristão de honrar Pai e Mãe supera a consideração e o sentido crítico (até as feridas) dos progenitores. Mesmo aí, o convite é para amar. Porém…
É útil, contudo, refletir sobre uma maior profundidade deste tema, sem moralismos e convocando a (holísticamente libertadora) proposta cristã.
A sabedoria da vida e a própria reflexão da ciência psicológica chamam-nos à atenção para a complexa teia familiar e para os intrincados laços, conscientes e inconscientes, das relações entre pais e filhos. Neste sentido, o de uma interpretação não só histórico-crítica mas também sistémica, os textos da Bíblia são ainda mais radicalmente não literais. Vejamos: se os pais forem bastante possessivos, castradores, chantageadores e manipuladores (e muitos assim há, mais novos ou mais velhos), não poderá ser uma libertação (para os filhos, para os pais e para as relações) romper, cortar, afastar? (apesar de ‘os ter no coração’).
Imaginemos uma Mãe ou um Pai de perfil narcisista, por isso mesmo com grande potencial “des-libertador” dos filhos. Não tendo cerimónia na linguagem, para facilitar, vamos chamar a este perfil de pais (nem por isso muito raro) “monstros”. Para suavizar (…), assumamos que todos nós, pais, temos um pedaço de “monstro” dentro de nós… A pergunta, que pode inspirar muitos filhos (todos nós) e até fazer-nos refletir enquanto ajudadores de sofrimentos familiares, é esta: alimentar o monstro é honrar os pais? Não seria maior ‘honra’, para a vítima, para o perseguidor, para a relação e para o mundo, quebrar, enfrentar, colocar os pontos nos “i”s?…
É claro que o “jeito cristão” de promover estas ruturas haverá de reservar no coração um lugar de retoma, não veicular ódio, estimular o perdão. Mas nenhum destes propósitos muitos cristãos deve tanger qualquer moralismo submisso. Honrar Pai e Mãe é caminhar em família para uma verdade que liberte e tal poderá incluir assertividades agudas, definição de fronteiras e até ampliação de distâncias: críticas, relacionais, temporais e geográficas…
Para toda esta gestão não fácil das redes familiares há que fazer um discernimento contínuo, “contar armas”, avaliar sistemática e corajosamente. Muitas vezes, há uma competição de amores e muitos poderão, por exemplo, ter de “arrefecer” a atenção aos pais, para poderem responder a outras demandas, como o cuidado da conjugalidade e dos próprios filhos. Não há super-homens, nem super-mulheres, nem super-pais nem super-filhos. Em todos os casos, a honra é a procura de uma verdade que liberte…
Este texto é adaptado em parte ou na totalidade de palavras anteriores já publicadas.
L 1 Sir 3, 3-7. 14-17a (gr. 2-6. 12-14); Sl 127 (128), 1-2. 3. 4-5
L 2 Cl 3, 12-21
Ev Lc 2, 41-52