conversões…
Nenhum Santo converteu ninguém porque ninguém converte ninguém, só Deus e o próprio se convertem… se vão convertendo…
Nenhum Santo converteu ninguém porque ninguém converte ninguém, só Deus e o próprio se convertem… se vão convertendo…
O purgatório saiu de moda e talvez ainda bem: tinha resquícios muito óbvios de crivo apertado, jugo pesado, métrica de mérito e jogo de prémio e castigo. Mas conseguiria recuperar pelo menos parte desse contexto conceptual se o purgatório fosse uma destilação amorosa da fusão entre a nossa humanidade experimentada e a Essência de Bem sempre contida… Assim sendo, não se espere mais e vamo-nos então destilando purgatoriamente…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 21, 25-28.34-36
«A vossa libertação está próxima»
Começa para os cristãos católicos romanos o chamado tempo de Advento, de espera, de esperança e, em certo sentido, de preparação para os brotares do tempo. Os ciclos litúrgicos são um ritual ajudante, uma pedagogia, um convite de consciencialização comunitária para os movimentos do espaço, do tempo e do espírito. Mas estes ciclos maiores reproduzem-se no dia-a-dia. Hoje mesmo, na linha do texto proposto, provavelmente, vou viver sinais fantásticos que a natureza me vai oferecer, vou viver angústias interiores e exteriores, vou-me ver lançado em dilemas complexos, vou deixar-me provocar por esperanças, encontros e desencontros. Vou, com toda a certeza, fazer pontes de Páscoa, em que mortes geram vida. Portanto, o Advento, o Natal, a Quaresma, o Tempo Comum e a Páscoa, são, mais do que ciclos litúrgicos, ciclos de vida quotidiana. Preparar, vigiar e dar toques de esperança e de futuro ao que sou e ao que faço, isso é vida, isso é Advento…
Este texto é adaptado em parte ou na totalidade de palavras anteriores já publicadas.
L 1 Jr 33, 14, 16; Sl 24 (25), 4bc-5ab. 8-9. 10 e 14
L 2 1Ts 3, 12 – 4, 2
Ev Lc 21, 25-28. 34-36
Os anjos, na sua contradição ontológica, devem ser abordados pela sua função (como pontes entre o visível e o invisível) e não pela sua natureza que, em certo sentido, não existe… Coisificar anjos e demónios é um caminho pantanoso, muito frequente nas religiões…
Impressionam os relatos de Primo Levi – o químico escritor – ou Esther Hillesum sobre o Holocausto. Também no filme ‘a vida é bela’ se foca nesta saída: a abertura à novidade gera-se no nosso interior, se a trabalharmos, se a buscarmos, se a descobrirmos e se a recriarmos. As circunstâncias, todas as circunstâncias, por mais irónicas e agudas que sejam, são propícias ao sentido, à liberdade e à abertura à transcendência, berço da novidade.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Jo 18, 33b-37
«É como dizes: sou Rei»
A linguagem dos reis e dos reinados é muito específica e bastante presente nos livros da Bíblia. Com Jesus, em particular, há um confronto agudo e sistemático com vários reinados. Jesus é e assume-se como Rei, mas, para os seus seguidores (porventura alguns de nós) importa clarificar que Rei é este e quais as caraterísticas do seu reinado. Notar que este texto precede a Páscoa, a passagem da morte à vida, o enorme gesto amoroso. Mais ainda, paradoxalmente, o reino de Jesus (a chave dos Seus critérios) é a originalidade do ‘despoder’. Isto é, o poder é não poder, é a doação e a entrega. Podemos perguntar-nos se estes critérios nos seduzem, se viver neste reinado despoderado nos interessa, se faz sentido ser súbdito deste rei-escravo… se servir, nos enche a alma…
Este texto é adaptado em parte ou na totalidade de palavras anteriores já publicadas.
L 1 Dn 7, 13-14; Sl 92 (93), 1ab. 1c-2. 5
L 2 Ap 1, 5-8
Ev Jo 18, 33b-37
Treinar crer
Crer é danado
caminho e
lazer.
Crer é treinar
o que é dado
ao meu ser.
Crer é tatear
aprender a morrer.
O ‘silêncio de Deus’, concretamente face à dor do mundo, discute-se à anterióri: é impensável a existência humana sem a liberdade friccioante e sem a morte própria das criaturas finitas…
Qualquer criatura humana pensante, crente ou não crente, se perguntará porque é que a revelação a todos os povos não é mais óbvia. Na posição de fé há que assumir que não será por Deus não poder ou não querer. Este ‘ainda não’ da revelação plena é uma inevitabilidade criatural. Resulta da tensão entre a transcendência e a contingência da finitude humana e pode ter uma resposta nossa: assumirmo-nos como revelação em acontecimento.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se o slm 15
«Senhor, porção da minha herança»
Os salmos são textos poderosos mas encerram um poética carente de extração e contextualização histórico-teológica. Importam, muitas, vezes, os traços subtis cantados transversalmente. No presente caso, seja a confiança.
Pode ser interessante fixarmo-nos numa palavra, num verso, numa ideia, e a partir dela… tecer. Seja a frase: « Senhor, porção da minha herança». Podemos refletir sobre as heranças, isto é, aquilo que nos foi deixado pela geração anterior ou o que deixaremos para outras gerações. Se perguntarmos o que mais precioso nos foi legado pelos nossos pais, pelos que estiveram antes de nós, terão sido os bens, casas ou terrenos, posições sociais ou diplomas? E o que gostaríamos de deixar aos que nos seguirão, à geração seguinte, aos filhos, se os tivermos? Estamos conscientes de que a esperança, a confiança, pode ser o mais precioso legado que podemos deixar a alguém?…
Este texto é adaptado em parte ou na totalidade de palavras anteriores já publicadas.
L 1 Dn 12, 1-3; Sl 15 (16), 5 e 8. 9-10. 11
L 2 Heb 10, 11-14. 18
Ev Mc 13, 24-32