aprender fazendo…
A fé pode aprender-se, e até elaborar-se ou suportar-se teoricamente. Mas no mais essencial, a fé é um palco tácito: só se (a)pre(e)nde fazendo…
A fé pode aprender-se, e até elaborar-se ou suportar-se teoricamente. Mas no mais essencial, a fé é um palco tácito: só se (a)pre(e)nde fazendo…
Quase todas as parábolas evangélicas que lançam dicotomias de tensão são para as colocar dentro do “eu” crente. O trigo e o joio, os lobos e os cordeiros, as virgens insensatas e as prudentes, o céu e o inferno… tudo isso mora, convive e luta dentro do mesmo “eu” crente…
A espera tem como perigo maior a impaciência. Por isso a fé é, em certo sentido, a esperança ilimitada que se trilha com a paciência de viver acreditando.
Eu, quasi-ateu me confesso. Deus, é de tal maneira indizível, de tal forma “totalmente Outro” que eu tenho de reconhecer as minhas (muitas) zonas de ateísmo, em que não O sei expressar, em que não O sei viver. Sou ateu quando digo apenas deus(es). Por vezes (quando eu deixo…) há luz e só luz. Mas em risco, em fé. Negar o nosso auto-ateísmo crítico, mesmo sendo pessoas de fé, é talvez perigoso. Como se pudesse haver certeza ou prova científica da existência de Deus. Não, a aventura é de outra ordem: é uma ponte de corda que faz passagens, desde logo entre a morte e a vida (qual Páscoa), mas corda de fios tecidos de incerteza, de mistério, de não palavra, de mergulho. É deste batismo que precisamos sempre.
A verdade religiosa tem dificuldade em penetrar sem ser pela porta da imaginação. Também por isto, Santo Inácio convoca com frequência esta ala imaginativa nas suas propostas de exercícios espirituais.
És amado para o amor. A fé, por pequena que possa ser, é o reconhecimento desse amor.
Convém estarmos a par de certos ventos teológicos que sublinham os afetos no território da fé. Para Sequeri (que nos convida a uma imersão mais óbvia da arte e da imaginação na reflexão sistemática das coisas de Deus), a confiança afetiva e relacionável é a base da fé.
A primazia da confiança, na existência humana, na ciência e nas religiões, é uma pedra angular. O Beneditino Santo Anselmo, já no século XII, afirmava não buscar conhecer para acreditar mas antes crer para conhecer. Percebe-se que ninguém consiga existir sem confiar em alguém. Percebe-se que a ciência só se desenvolve na rede fiduciária duma realidade existente e cognoscível. Percebe-se que a fé é mais crer para ver do que ver para crer…
O sociólogo francês Bastide diz bem sobre a religião: ela não morre, desloca se…
A presença de Jesus nos evangelhos incorpora mas supera a visão, a ação e o comer. Por isso, para aqueles que acreditam e vivem uma relação com Ele, é transcendente.