fé aberta…
O teólogo Balthasar tem uma expressão-síntese, tão simples quanto fulcral, tão cristã quanto universal: “Deus espera por todos”. Esta confiança pode ser mote existencial de vida e alimenta uma esperança comum e radicalmente aberta.
O teólogo Balthasar tem uma expressão-síntese, tão simples quanto fulcral, tão cristã quanto universal: “Deus espera por todos”. Esta confiança pode ser mote existencial de vida e alimenta uma esperança comum e radicalmente aberta.
Ter fé está muito para além de acreditar na existência de Deus. Uma criança que está ao colo da sua Mãe não questiona a sua existência, antes goza o acolhimento maternal. A fé tem algo de semelhante: muitas vezes, o «colo de Deus» vem antes da «confirmação» da Sua própria existência…
O Deus em quem os cristãos acreditam e confiam e a quem, por isso, dão crédito, pode valer a pena. Os crentes não sabem explicar muito sobre o que a Ele se refere, mas o pouco que sabem é suficiente para fundamentar a sua fé. Mais do que saber explicar, procuram saber viver de acordo com os valores cristãos. Deus tem mais a ver com a sabedoria do que com o saber. Acreditar em Deus relacional, pessoal e comunitariamente, na Igreja Católica (também noutras denominações, com toda a certeza), dá aos cristãos paz e sentido para a vida. Por isso mesmo, dão crédito a Deus e à Igreja, apesar da inalcancibilidade total do primeiro e das fragilidades da segunda… O fundamento desta crença é, pois, simultaneamente, racional e relacional.
Há quem não aprecia o conceito de “cultura”, precisamente por ser vago e poder dizer quase tudo. Mas não encontro melhor semântica para esta geografia cruzada de saberes e de vivências. Mais ainda, enquanto crente judaico-cristão, vejo com grande dificuldade a possibilidade de extrair com proveito algo da potencialidade bíblica, sem a respetiva configuração cultural. E como membro de uma Igreja, não consigo igualmente vislumbrar como será possível caminhar e estar atento aos sinais dos tempos, sem um mergulho no empapado cultural em que nos movemos. Cultura e Fé, pois claro!
Nem a não certeza da fé é uma desgraça pois há graça neste processo de acreditar ser precisamente… um processo…uma graça…
A fé é um apoio vivente na convicção de que a carência, a dor, o desassossego, a inquietude, a incompletude e a morte, podem gerar abertura ao Espírito…
Se me perguntassem de que fios é feita a minha fé, escolheria três: a graça (prévia), a necessidade e o desejo.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 9, 18-24
«tome a sua cruz todos os dias e siga-Me»
Tomar a nossa cruz, ao jeito cristão, tem o seu quê de rendição e, em certo sentido, de entusiasmo. O Evangelho é sistémico e, noutras passagens, esta mesma cruz pode relacionar-se com um ‘jugo leve’ e uma companhia mansa. A cruz e o seu carrego, com mais ou menos religiosidade e simbolismo, é uma evidência antropológica que se impõe além da fé. A vida não é fácil e essa é uma constatação que não carece de fé. Os que acreditam, porém, poderão ser originais na forma como carregam a sua cruz. Nessa originalidade, pela esperança numa vida vivida que vive sempre, os Cristãos tentam seguir Jesus no estilo lutador mas aceitador, frágil mas fiel.
Nota: Este texto é reutilizado/adaptado a partir de um post já publicado neste blog
L1: Zac 12, 10-11; 13,1; Sal 62 (63), 2. 3-4. 5-6. 8-9
L2: Gal 3, 26-29
Ev: Lc 9, 18-24
A fé relaciona-se com uma convicção paciente. Por confronto, o agnosticismo seria a entrega apenas a uma hipótese e o ateísmo seria refém de uma desilusão. Em cada um de nós, temos de reconhecer, haverá áreas de crença, agnosticismo e ateísmo. Talvez esteja na nossa mão estimular diferentemente essas áreas…
A cena bíblica dos irmãos Abel e Caim é plena de complexidades e contém ingredientes de clara violência (como a vida…). Há uma pergunta arrepiante que é lançada, absolutamente crucial e cheia de potencial ecuménico. É a pergunta de onde podemos partir para nos situarmos no plano pessoal, histórico, cultural e teleológico. É uma questão simples: “onde está o teu irmão?”…