visitar o túmulo…

Em sábado de Semana Santa há um convite para acolher as trevas, o tempo de que precisamos para chamar ao sofrimento e à morte os nomes que são esses mesmos…

Uma oportunidade de visitar o nosso túmulo, as nossas próprias sombras. Nenhuma vida, muito menos uma vida nova, brotará da fuga daquilo que somos. Portanto, desde já afagados pela companhia duma ressurreição garantida, saibamos visitar a realidade radicalmente frágil que somos. Só conhecendo-a e aceitando-a, poderemos ressuscitar, num amanhã que se antecipa.

JP in Espiritualidade Frases 16 Abril, 2022

ontologicamente contigo

Ontologicamente contigo

 

 

Meio de meio

século

Contigo

É tempo

De meia vida.

Assim me ligo

Tecido

Em filhos de linho

Docemente

Protegido

Por amor prévio

Caminho.

Teu sorriso

Me seduz

Tuas mãos

Imanam luz

Tua alma

Santifica

Teu ventre

Me frutifica.

E eu, João,

Em nini

Comprometido

Te tomo

E retomo aqui

Como sendo

Teu querido.

Preso

Nesta liberdade

Sou por dentro

Teu marido.

Promotor

Sou promovido

Atulado

Em amor

Mais ainda

Agradecido.

 

1 de agosto de 2016

JP in Poemas 2 Agosto, 2021

ainda que todos te abandonem, eu não te abandonarei

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mc 14, 1-15, 47

ainda que todos te abandonem, eu não te abandonarei

A descrição da Paixão de Cristo, que meditamos em domingo de Ramos, é tão longa quanto profunda e repleta de sinais. Uma das formas de mergulhar neste texto é situarmo-nos nas diversas personagens e, em atitude criativa de composição do lugar, perguntar-se “quem sou eu neste cenário?” Pedro, que prometera não abandonar o Mestre, mas que o nega? Simão, o cireneu, que ajuda Jesus a levar a cruz? Um soldado? Um personagem incógnito que vê a cena mas não se envolve nem se co-move? Pilatos, que lava as mãos? O próprio Jesus? Maria, que assiste em envolvimento e dor? Barrabás, que se safa na frincha da sorte? O bom ladrão, que in extremis se arrepende e confia?…

JP in Espiritualidade Frases 28 Março, 2021

Sensual avulso

SENSUAL AVULSO

Um seio,

um olhar,

um sorriso,

uma sedução.

Um corpo,

um sexo

escravidão.

Apalpar

fazer e tocar

em provocação.

O que era belo

o que é belo

em liquidação!

…in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.

acessível aqui

JP in Poemas 2 Dezembro, 2020

Oceano de bem estar

OCEANO DE BEM ESTAR

O oceano

de bem estar

deixa atónita

a razão de ser

de tanta felicidade.

Vive-se sem perguntar

o mundo belo

duma aventura bonita.

Está-se leve mas

consciente,

apostado nos dois

mas aberto ao mundo!

…in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.

acessível aqui

 

JP in Poemas 2 Julho, 2018

Esta noite

ESTA NOITE

Esta é a noite

difícil e bela

em que mesmo que pudesse

não dançaria contigo.

É a noite em que te perco

e ofereço o meu

gemido de alegria.

Esta noite é dura e bela

é a noite do amor.

…in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.

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JP in Poemas

Presente na falta

PRESENTE NA FALTA

Pela falta

sinto-te presente.

Falta o teu

calor de sorrisos

a tua voz

de vida.

Falta o teu cheiro

perfume

as tuas mãos

delicadas.

Faltam os teus

lábios belos e

teus cabelos

de cor.

Por não estares

te sinto tanto,

e só não desato

em pranto,

por saber do

nosso amar.

Assim saboreio

com gosto

o que seria

desgosto

se não fosse

acreditar.

…in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.

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JP in Poemas

Esperava tudo…

ESPERAVA TUDO…

Esperava tudo

da vida

menos sofrer

de paixão!

Esperava tudo

menos respirar

dificilmente.

Esperava tudo

da vida

menos esta partida

de não me conhecer.

Sou criança.

Não sei

escrever poemas

sem nenhum

verso de esperança.

…in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.

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JP in Poemas

Espera

ESPERA

Olho

pela janela

do quarto escuro,

aquilo que sobra

da noite.

O tempo passa,

o sonho perde.

Vejo baço.

Respiro no vidro

dos olhos…

…in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.

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JP in Poemas

O último poema da paixão

O ÚLTIMO POEMA DA PAIXÃO

Desejo escrever

com uma pena leve

e tinta de raiva,

o último poema

da paixão.

Quando o tempo

é longo,

ouve-se a voz

que muda a rota

da gaivota.

Destino diferente

um porto perdido.

…in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.

acessível aqui

JP in Poemas