teimosia complexa da realidade
O cientista, em certo sentido, faz o esforço de reduzir a complexidade. Trata-se de uma relação de quase patologia com a realidade, porque essa é teimosamente complexa…
O cientista, em certo sentido, faz o esforço de reduzir a complexidade. Trata-se de uma relação de quase patologia com a realidade, porque essa é teimosamente complexa…
A ciência tem um enorme potencial de transparência e sentido de partilha: ela vale – a ciência – quando e se for publicada, para ser usada, contestada e ter dinamismo…
Falta a muitos cientistas uma profundidade elementar sobre a ciência que praticam. A inevitabilidade epistemológica (a pergunta “o que é a ciência?”) é tao fulcral e inesgotável para um cientista como é para todos os humanos a pergunta existencial “quem sou eu?” …
A tradição da ciência é focar-se no mecanismo e esquecer o sentido e o significado. Também por este facto, a ciência pode humildemente incorporar as suas próprias limitações.
A fé (ao contrário da ciência) está para além da evidência…mas não é negada pela evidência.
Há quem entenda que a ciência nasce na europa judaico-cristã, não por acaso. O monoteísmo cristão ajustava-se, então, aos objetivos da construção dos chamados três pilares de que a empresa científica necessitou para se edificar: o ontológico (a realidade existe), o espistemológico (é possível conhecer a realidade) e o ético (é bom conhecer a realidade).
Homenagens
Prescindo
hoje e amanhã
(mesmo em cinzas)
de uma qual-quer(?)
homenagem.
Prefiro a memória
Simples e discreta
De um qual-quer(?)
Rasto de amor.
Custa-me ver a fila
(a logística, a mobilização)
para saudar uma honra.
Use-se tal energia
Para abraçar alguém,
Para amparar
Uma qual-quer(?)
pessoa frágil.
Acresce ainda
Que nada mereço.
E a haver uma honra
Seja endereçada
À graça de Deus
Que, por graça também,
Me usou (quando eu deixei)
para se espelhar.
2018
Ciência ou poesia?
Entre focos de prazer:
ciência ou poesia,
pergunto, o que fazia
se tivesse de escolher.
Ciência e poesia…
acho que me apetecia
fazer desta maneira:
as duas na algibeira!
A ciência escolheria
Se quisesse mais rigor,
com saber eu saberia
como cresce uma flor.
E olhando essa flor
a colhesse com alegria
e oferecesse em amor,
embrulhava em poesia…
Se em vez de perceber
eu quisesse antes dizer
o que a fórmula não diria,
escolheria então a poesia…
Não vou escolher, mas juntar
Trago ciência e poesia.
Ciência é luz a brilhar,
poesia é luz no meu dia.
in Paiva, J. C., Quase poesia quase química (2012) (e-book). Lisboa, Sociedade Portuguesa de Química.
acessível aqui (porventura enriquecido com uma ilustração)
A palavra desejo tem uma etimologia muito curiosa: desiderare relaciona-se com alcançar as estrelas… Fixo-me em Galileu e no seu telescópio… O estudioso da ética deseja o bem, o teólogo deseja a razão das coisas de Deus e o artista deseja o belo. Assim, a ciência deseja compreender um tudo nada mais sobre o funcionamento da natureza…
J. C. Paiva, Extraterrestres e criação divina. Site PontoSJ. 20 de julho de 2018. Disponível em
A NASA anunciou que foi descoberto no dia 14 de dezembro de 2017 um oitavo exoplaneta no sistema Kepler-90. É o conjunto de planetas mais parecido com o nosso Sistema Solar.
Há investigação científica séria, muito séria, que, de alguma forma, procura vida noutros planetas. O que se busca é a existência de corpos celestes com propriedades semelhantes às da Terra, isto e, com dimensões e distância ao seu Sol com algumas parecenças com este ‘grão de pó’ em que vivemos. É bom termos a noção da nossa pequenez: habitamos um minúsculo esferóide que anda à volta de um Sol. O nosso Sol é uma das cerca de cem mil milhões de estrelas que constituem a nossa galáxia. E no universo (neste universo…) existem cem milhões de galáxias, cada uma com as suas estrelas…
Nem ciência nem religião negam a possibilidade de vida inteligente noutros planetas e, portanto, a existência de extraterrestres (ET).
A ciência, porém, não conseguiu ainda prova de vida fora do planeta Terra. Não há prova científica de seres extraterrestres. Tentam encontrar-se sinais da vida tal qual a conhecemos, em planetas do sistema solar, mas os dados não são conclusivos. Sondas recolheram amostras na Lua e em planetas do nosso sistema, mas nenhum sinal de vida.
Giordano Bruno (1548-1600) pagou com a vida a defesa da tese de existência de outros planetas habitados. Uma tal hipótese parece colidir frontalmente com a concepção cristã do universo, ainda muito dependente do velho paradigma geocêntrico e antropocêntrico. Compreende-se claramente que algumas das crenças mais fundamentais do cristianismo — como o pecado original como fonte de todo o mal, a encarnação e morte de Cristo para «pagar» pela humanidade descendente de Adão e Eva a culpa desse pecado, e a salvação que a sua morte e ressurreição trouxeram à humanidade — parecem enquadrar-se mal num universo com outros seres inteligentes que nada tiveram a ver com o pecado original bíblico. Terá havido em todos os planetas habitados um pecado igualmente original? Terá a encarnação de Cristo tido um valor de salvação também para os habitantes desses planetas? Ou terá Cristo encarnado em cada um deles, assumindo em cada planeta a forma dos seus habitantes?
Para os cristãos, o Verbo de Deus veio a este mundo e habitou entre nós, isto é, na humanidade inteira. Mas os conhecimentos científicos contemporâneos não se centram necessariamente no nosso planeta. Recentes investigações em astronomia têm encontrado planetas distantes com aproximações à sua estrela semelhantes ao nosso. A probabilidade de existir vida além da Terra é enorme e pensar no assunto pode ser relevante.
O diretor do Observatório Astronómico do Vaticano disse: «Como há uma multidão de criaturas sobre a Terra, poderia haver outros seres, mesmo seres inteligentes, criados por Deus. Isso não contradiz a nossa fé, pois não podemos colocar limites à liberdade criadora de Deus.» O seu antecessor pronunciara-se no mesmo sentido, sublinhando a compatibilidade da fé com a existência de outras formas de vida distantes. O S. Francisco do futuro, além do irmão Sol, da irmã Lua ou da irmã morte, poderia falar do «irmão ET»…
Para os católicos, a ação redentora de Cristo atinge a dimensão do cosmos. Não está confinada ao planeta Terra. Por isso, o facto de haver seres inteligentes noutros planetas não põe em causa a atual doutrina da encarnação, nem da redenção. Se se verificar que eles existem, concluímos que foi também para eles que o acontecimento de Jesus Cristo se dirigiu.
A doutrina do pecado original também não sofrerá com a dita hipótese. O pecado original significa a inauguração do mau uso da liberdade que Deus deu ao ser inteligente, com a consequência do mal que a continuidade desse mau uso provoca na história. Se se descobrirem seres inteligentes noutros planetas, dotados de liberdade e com capacidade de a usar bem ou mal, a noção do pecado original, tal como a teologia a formula no momento presente, também se lhes aplica.
A probabilidade da existência de planetas semelhantes à nossa Terra é muito grande. Basta fazer umas contas… O que andamos a fazer (e de uma forma original, com a chamada ciência participada, em que qualquer cidadão pode colaborar com os cientistas) é tentar observar sinais dessa presumível evidência. Mas, na mesma proporção, a probabilidade de entrarmos em contacto com essas formas de vida é, para já, muito reduzida. Limitações espácio-temporais impedem-nos, com os dados e tecnologias que possuímos, de comunicar com entidades tão distantes. O Deus em que acreditamos, porém, supera-nos sempre. Será sempre o Deus Cósmico, nas palavras de Teilhard de Chardin, que ultrapassa a nossa cidade, o nosso país, o nosso continente, o nosso planeta, a nossa religião. O Deus Cristão supera tudo, só não supera o amor, porque Ele mesmo é amor.