esperança e incerteza
A esperança não é um corolário da certeza. Pelo contrário, é uma resposta estendida à dúvida e à carência. Tal esperança vivida dá lastro à promessa. Não toca a certeza mas veste-se de convicção e sentido.
A esperança não é um corolário da certeza. Pelo contrário, é uma resposta estendida à dúvida e à carência. Tal esperança vivida dá lastro à promessa. Não toca a certeza mas veste-se de convicção e sentido.
Às vezes na oração perguntamos a pergunta certa, para trabalhar espiritualmente. Tipicamente, é pergunta para a vida… Encontrei esta, bem desafiante para mim: “o que ando a adiar?”…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 12, 13–21
«A vida de uma pessoa não depende da abundância dos seus bens»
O Evangelho fala-nos do desprendimento e do desapego espiritual dos bens. É uma linha de rumo que serve para os bens materiais, mas não só. Certos dons, relações, afectos são também para serem partilhados. No olhar Cristão, tudo serve para irradiar, nada serve para possuir. A parábola do agricultor que, em vez de partilhar a sua abundância, constrói maior celeiro para mais acumular, é de uma grande força, pela explicitação de quanto é estéril “guardar para si”. E nós, quando temos as nossas “colheitas”, tendemos a partilhar ou construímos “novo celeiro”?…
NOTA: Este artigo é repetido/adaptado de um outro já publicado neste blog
L1: Co (Ecle) 1, 2; 2, 21-23; Sal 89 (90), 3-4. 5-6. 12-13. 14 e 17ac
L2: Col 3, 1-5. 9-11
Ev: Lc 12, 13-21
Amanhã é dia de Inácio. A sua (nossa) experiência fundante dos Exercícios Espirituais abre-nos portas a um ginásio espiritual gozoso, promissor e fecundo.
Sou um medíocre utilizador dos meus ouvidos, inúmeras vezes silenciados pela minha boca. Se auditivamente eu fosse o que desejaria ser, quereria ouvir sem limites … e falar apenas o que edificasse..
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Slm 137
«Quando Vos invoco, sempre me atendeis, Senhor»
A vida de oração de um cristão, porque é uma relação, pressupõe a petição. Pedir é uma atitude fundamental em qualquer relação, embora pressuponha humildade. Quem entende que tem tudo, é autossuficiente e não pede… Pedir a Deus com um coração puro é certeza de receber. Será importante “não manipular”, isto é, embora colocando explicitamente o que acontece e se elabora, o que preocupa e o que se tece no tempo e no espaço, não deixar de ser sempre um pedir “o que for melhor para mim e para os outros”, o que é, por sua vez, intrinsecamente indeterminado… De alguma forma, pedir em oração, com fé, é passar um cheque em branco. Pedir é rasgar para receber. A quem pedir assim, o Senhor atende… A maior liberdade neste contexto é pedir, sim, pedir muito, mas pedir para receber, receber bem e plenamente, o que a realidade – qual dádiva – nos vai oferecendo.
NOTA: Este texto é repetido/ajustado a partir de evento já publicado neste blog anteriormente.
Há um caminho, por um lado longo, mas apenas a começar, segundo o qual temos que colocar o lugar da consciência antes da moral, da doutrina e do dogma. Estas mediações de ajuda só interessam em função do sonho maior: uma consciência elevada, pessoal e comunitária, da essência amorosa da vida.
A caminho da morte amorosa
às vezes o meu passo é largo.
Intuo que baixarei a frequência
quando o Sol se esconder um pouco mais…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 10, 38-42
«Marta, Marta, andas preocupada e aflita com tantas coisas, quando uma só é necessária»
É sobejamente conhecida esta passagem e muito inspiradora para nos auto-acalmarmos quando a azáfama nos toma como prisioneiros. Escrevi de propósito ‘auto’, pois dizer a alguém ‘olha que estás como Marta’ é capaz de não ajudar, como não ajuda a ninguém muito nervoso dizer ‘tem calma’… Mas não há dúvida que o atulhar de coisas para fazer, uma certa excessiva operacionalidade, nos inibe de muitas escutas e essencialidades. Convém, ao mesmo tempo, uma certa auto-condescendência para com as nossas ‘martisses’: as coisas têm de ser feitas e há fases de vida em que ser Maria é mesmo difícil… O convite implícito deste texto é a procura dinâmica dum justo equilíbrio entre o fazer e o parar…
NOTA: Este texto é repetido/ajustado a partir de evento já publicado neste blog anteriormente.
L1: Gen 18, 1-10a; Sal 14 (15), 2-3a. 3cd-4ab. 4c-5
L2: Col 1, 24-28
Ev: Lc 10, 38-42
Parece-me que talvez haja uma porta universal, incluindo para os meus amigos filosoficamente materialistas, no que diz respeito à dádiva e à bênção: reconhecer que nos é estendido o que vem, neste tempo e neste espaço, é bem-dizer. Reconhecer que nos é oferecido o que tecemos, importando pouco se pela Terra, se por um totalmente-Outro, se por-coisa-nenhuma…