internet e sentido crítico

Impõe-se na escola uma educação para o espírito crítico no uso da internet. Este aspecto é mais importante face ao digital do que na bibliografia clássica em papel. É que na Internet está tudo, o bom e o mau… Será preciso aferir a informação, filtrá-la. Na internet, muitas vezes, falta revisão científica de conteúdos. Em muitos casos, desde logo, a fonte chancela a informação, garantindo-a. Estão em planos diferentes, por exemplo, a informação da Tabela Periódica digital da Royal Society of Chemistry ou uma página de um curioso desconhecido sobre elementos químicos…

JP in Educação Frases 2 Setembro, 2019

memória traidora…

A memória é importante mas pode trair-nos, precisamente quando não nos abre à novidade… Isto revela-se nos mais elementares aspetos da nossa vida, como, por exemplo, no simples ato de comer…20

JP in Educação Espiritualidade Frases 20 Agosto, 2019

digo ou não digo ao outro?

Digo ou não digo, eis a questão. Um critério interessante é perguntarmo-nos se o que tenho para dizer faz crescer, se o outro a quem se destinam as palavras quer ouvir e se está em condições de escutar. Pensemos no sentido crítico, em particular. Será interessante usar mais do expediente seguinte, face a alguém que nos merece uma palavra crítica, numa relação com futuro: “tenho uma coisa para te dizer, que tem certo sentido crítico. Desejas ouvir?”. A exceção a esta regra de indagar a vontade de escuta são as situações que envolvem óbvias e gritantes injustiças e estilhaços para terceiros. Nesses casos, sem perder a noção de oportunidade, de modo e de tom, há que denunciar, doa a quem doer…

JP in Educação Frases 14 Agosto, 2019

férias e escola

Tenho sérias dúvidas sobre os ‘prémios escolares’. Há alguns «prazeres» associados à auto-superação e ao esforço. Recordo-me de sensações da minha vida de estudante, quando me sabiam particularmente bem as férias, também porque me tinha esforçado no tempo letivo. Esse era o meu autoprémio, mais valioso do que a possível bicicleta, prémio de passagem, que nunca tive nem dei… e ainda bem!

JP in Educação Frases 2 Agosto, 2019

o tic-tac de Plank…

10 -43 do segundo (sub-parte do tempo inimaginável na sua pequenez) é o “tic-tac” mais pequeno que existe. É o ‘tempo de Plank’. Especula-se se terá havido uma “flutuação de vazio quântico” na parte do tempo anterior ao que conseguimos alcançar no entendimento do big-bang. Mas tal vazio, a existir, é um vazio não ontológico… O “dedo de Deus”? Está aí e em todo o lado, mas não se crê que niguém creia por via da prova científica…

teoria e prática na escola

Uma educação virada para as aplicações práticas pode ajudar a fomentar um conjunto de competências úteis aos alunos, nos mais variados níveis. É, muitas vezes, fazendo que se aprende. Por outro lado, não se deve desprezar a «ginástica mental», a conceptualização, a teoria, que podem, precisamente, sustentar mais e melhores práticas, usando o conhecimento. A prática representa um forte incentivo para a motivação, mas, pedagogicamente, é tão frágil pensar sem fazer, como fazer sem pensar…

JP in Educação Frases 8 Julho, 2019

humildade radical

De todas as urgências existênciais há um lugar especial para a radical humildade: constatar e estar atento e consciente face à autocegueira intrínseca, no que diz respeito ao conhecimento do mundo, à espiritualidade, às próprias virtudes…

JP in Educação Espiritualidade Frases 24 Junho, 2019

Verdade, Ciência e Religião

A Ciência e a Religião partilham pelo menos uma abordagem ao (complexo) conceito de Verdade: ambas se alimentam do mistério que envolve essa mesma Verdade e sabem-na, intrinsecamente, inalcançável.

J. C. Paiva, Verdade, Ciência e Religião. Site PontoSJ (que se recomenda…). 2 de março de 2018.

https://pontosj.pt/opiniao/verdade-ciencia-religiao/

 

Verdade, Ciência e Religião

Sempre que falamos de ciência e religião teremos de ter em conta que as pontes a lançar não deverão violar a consciência de que, uma e outra, possuem diferentes metodologias. Será interessante colocar em diálogo o que é diferente e atender a uma certa artificialidade compartimentalista, que está subjacente à criação humana das várias disciplinas. Mas nunca pisando o risco de chamar igual ao que se distingue e muito menos usar a mesma malha metodológica para “pescar peixe” diferente. Por isto mesmo, a palavra-chave entre ciência e religião nunca é inferência. A palavra inferência, no seu sentido lógico, remete-nos para afirmações de verdade deduzidas a partir de outras proposições consideradas verdadeiras. Ora, é este o terreno pantanoso da relação entre ciência e religião, observável, por exemplo, na conhecida teoria do “design Inteligente”, que, a partir de algumas evidências científico-biológicas induz afirmações de caráter religioso e vice-versa.

Ao contrário das inferências, podemos, isso sim, com eventual vantagem pedagógica, usar algumas analogias. As analogias são fundamentais na comunicação e na compreensão de muitos processos e conceitos. Usamo-las, inúmeras vezes, sem nos apercebermos. O dinamismo das analogias pressupõe um conceito alvo (onde se quer chegar) e um conceito análogo (de onde se parte). Estabelecem-se então pontes e relações que podem ajudar a clarificar alguns assuntos. Convém referir que as analogias são sempre não perfeitas e, sem exceção, apresentam pontos frágeis.

A procura da Verdade (neste texto deliberadamente escrita em maiúscula) é um assunto mobilizador em toda a nossa história cultural e mantém-se como ponto de interesse na atualidade.

A grande maioria dos cientistas reconhecerá que, em certo sentido, procura a Verdade. Muitos pensadores dedicam-se a tentar conhecer melhor como se processa o próprio conhecimento científico. Para Karl Popper, por exemplo, será preferível dizer que o que procuramos ao fazer ciência é afastar-nos do erro, sendo que, quanto mais esse caminho é trilhado, mais assuntos existem por conhecer.

A Ciência e a Religião partilham, pelo menos, uma abordagem ao (complexo) conceito de Verdade: ambas se alimentam do mistério que envolve essa mesma Verdade e sabem-na, intrinsecamente, inalcançável.

O confronto com o conceito de Verdade leva-nos à encíclica de Bento XVI, Caritas in Veritate. Ali, podemos assumir, confunde-se a própria Verdade com o amor (versão porventura mais “fresca” da palavra caridade). Acontece, porém, que o amor é, ele próprio, indizível, porquanto é identificável com a transcendência, mais do que um seu atributo. Um apontamento para o amor seria tomá-lo como a fonte de uma explicitação radical: “tu podes ser tu diante de mim”. Este primado de aceitação do outro, sinalizado (encarnado?) na relação de Deus com os homens e, assim, entre eles mesmos, tem alguma analogia com a forma como a ciência lida, aceita e tenta desvendar a realidade natural.

Um apontamento de Verdade para os católicos seria a própria tradição. Também aqui há alguma analogia com a ciência, que se faz com “gigantes aos ombros de gigantes”. Estas são palavras de Newton. Com efeito, um cientista acrescenta à ciência sempre a partir do que outros disseram e descobriram e não empreende qualquer investigação sem a respetiva revisão de literatura. Neste sentido, a ciência também se funda na tradição. Há um conjunto de regras de comunicação e ações que são respeitadas pela comunidade científica e que permitem consensos e progressos notáveis. Dir-se-á que a ciência está, ao contrário da religião, sacudida de dogmas de partida. Mas essa colocação é duvidosa… Há pressupostos essenciais na empresa científica, sempre latentes ao longo da sua própria génese e história. Nomeadamente, há ciência porque: 1) entendemos que a realidade existe; 2) entendemos que é possível conhecer a realidade e 3) entendemos que é bom conhecer a realidade. Dogma maior, qual crença, seria o de que existe unicamente o que é materializado e que apenas os óculos da ciência conseguem ver lucidamente o mundo.

A tradição da Igreja, porém, não é um fim em si própria, nem, tão pouco, se lhe pode subtrair o dinamismo de linguagem e atualização. A tradição vale na medida exata em que não é defendida como um projeto enterrado mas antes como um tesouro vivo, redito e religado com a realidade…

Poderemos ainda envolver a questão das emoções e dos sentimentos, cruzada cada vez mais com as nossas próprias virtudes e limitações biológicas. O nosso cérebro tem, à partida, tantas potencialidades quanto constrangimentos: face a um objeto, capta certa realidade (tateia?) mas, imediatamente, fica aquém de um certo sentido de totalidade, que é próprio da Verdade.

A Verdade, isso parece inequívoco, não será monopólio da ciência (cientificismo) nem de ninguém. Andará em espaços de uma tensão incontornável do próprio sentido da vida humana, algures entre a imanência das coisas (realidade) e as entrelinhas do mistério (transcendência).

o simples e o complexo em educação…

Há uma tensão constante entre aprofundar uma ideia e aligeirá-la. Por um lado, é missão do professor, precisamente, simplificar, mas, por outro lado, há simplificações que são simplistas e comprometem a verdadeira percepção da realidade, que é tipicamente complexa…

A procura docente bem se poderia resumir no equilibrio dinâmico destes dois pólos: o simples e o complexo…

JP in Educação Frases 12 Junho, 2019