quero, posso e mando: o último cartucho…

Os educadores, bastantes vezes, terão de ‘puxar da arma da autoridade’ e impor o que tem que ser. Mas, da minha experiência de professor e principalmente de Pai, entendo que devemos ser muito económicos com este ‘armamento’. O abuso do poder, o autoritarismo, saem muito caros às relações pedagógicas: enquanto os educandos são pequenos e frágeis e há poder, parecem valer (não sem causar sofrimento). Quando os educandos ficam maiores, com mais força e discernimento, o poder é insuficiente ou mesmo estéril e a relação (que era baseada no poder), simplesmente termina.

JP in Educação Frases 4 Março, 2019

a terra não nos pertence

Durante a colonização americana os índios nativos deram uma lição à nossa cultura, a propósito do parcelamento e sentido de propriedade da terra, que tanto nos mobiliza, ainda hoje. Diziam eles: “pertencemos à terra mas a terra não nos pertence…”

JP in Educação Frases 28 Fevereiro, 2019

onde estás?

A primeira pergunta do “ajudador” é: onde estás? Não é “quem és?”, “para onde vais?” ou, menos ainda, “para onde deves ir?”…

JP in Educação Frases 26 Fevereiro, 2019

regulação de nascimentos, química e natureza

Uma radical e não dinâmica interpretação da encíclica Humanae Vitae pode cristalizar numa posição segundo a qual só é moralmente aceitável a anticoncecionalidade que recorre aos chamados métodos naturais. Talvez não tenha que ser assim…

 

J. C. Paiva, Regulação de nascimentos, química e natureza. Site PontoSJ (que se recomenda…). 20 de abril de 2018.

https://pontosj.pt/opiniao/regulacao-de-nascimentos-quimica-e-natureza/

 

 

Regulação de nascimentos, química e natureza

Alguns dos aspetos da proposta moral católica têm tido obstáculos acutilantes nos últimos tempos. Em parte, porque há uma tendência intrínseca, externa à Igreja, para certo modernismo ou vanguardismo, ou mesmo porque sociologicamente se regista uma apropriação pouco aprofundada, com base apenas nos comportamentos da maioria. Outra fatia da responsabilidade, porventura significativa, tem a ver com dificuldades de reflexão, elaboração e comunicação a partir do seio da própria Igreja. No caso da moral sexual, a situação é particularmente frágil.

É bom notar que a moral cristã terá de ter sempre o seu toque radical e exigente, não fosse inspirada nos critérios próprios de Cristo. A Doutrina Social da Igreja, para convocar um exemplo simples e óbvio, é de uma grande exigência e vai claramente contra a corrente na sociedade consumista e individualista em que vivemos. Talvez seja, porém, mais bem comunicada, mais cristãmente essencial e mais consensual do que muitas frentes da chamada ‘moral sexual’.

Um dos reflexos destas dificuldades comunicativas é que na mente de muitos ouvintes, incluindo os cristãos, se coloca ‘tudo no mesmo saco’. E, tipicamente, considera-se o saco de tal forma esquizofrénico em relação ao mundo atual, que se ignora, pura e simplesmente, tudo o que é proposto. A elaboração poderia ser colocada nestes termos: “sobre padrões ético-sexuais, as propostas católicas são de tal forma mal apresentadas e desproporcionadas, que não consigo sintonia, elaboro (ou não elaboro…) os meus próprios critérios e atuo e opino na minha conformidade personalista.”

Em particular, no horizonte, fica a séria possibilidade de, por exemplo, serem consideradas ao mesmo nível de (i)relevância: a) o aborto; b) as relações sexuais pré-matrimoniais e c) a anticoncecionalidade. A surdez generalizada, face a tamanho descalabro de quem clama no deserto, é muitas vezes equivalente em relação a estes três aspetos. Deixaremos para outra reflexão a nossa opinião inegociável sobre a condenação radical do ato abortivo. Registamos também algum valor para as entrelinhas positivas de potencial valor do segundo aspeto: critérios de proporcionalidade na linguagem sensual/sexual, clareza da primazia do amor, balanceamento de verdade entre o que se é e o que se diz com o corpo e incondicionalidade de assunção das consequências de qualquer entrega. Há aqui uma simpatia por certa formulação realista e igualmente exigente, num formato do género “diz com o teu corpo, na justa proporção, a verdade que és. E podes usar como medida da tua entrega a preparação para receber e acolher da circunstância tudo o que se possa gerar, de cumplicidade e de vida”.

A questão da regulação dos nascimentos é, na nossa opinião, mais complexa. Uma radical e não dinâmica interpretação da encíclica Humanae Vitae pode cristalizar numa posição segundo a qual só é moralmente aceitável a anticoncecionalidade que recorre aos chamados métodos naturais. Sobre este assunto, ocorrem-nos os seguintes aspetos:

1- O duplo sentido associado às relações sexuais num casal tem coerência interna sólida: os teores unitivo e procriativo daquela entrega amorosa de corpos são coerentes com a antropologia cristã e os insights bíblicos de certa cosmovisão, que a Igreja oferece e edifica.

2- A ideia de que só “a natureza” garante uma gestão responsável e moralmente enquadrável é muito discutível. Pode até haver certa simpatia pelos métodos naturais, do mesmo modo que se aprecia passeios nas montanhas e produtos biológicos na alimentação. Isto é, os argumentos não têm qualquer vínculo moral e estão até mais perto de uma posição algo hippie face à vida e aos recursos naturais.

3- É cientificamente muito discutível, extravasando o plano moral, a ideia segundo a qual “o que é natural é bom”. A química dá-nos boas respostas: o veneno de uma rã azul venenosa da austrália é natural, muito natural… mas mata um humano em poucas horas, mesmo que em doses pequeníssimas. Também a cafeína ou o álcool podem ser extraídos de produtos naturais, porém, ingeridos em grandes quantidades, podem igualmente matar. A exposição ao Sol em horas impróprias e em grande extensão, Sol ‘natural’, bem entendido, também pode fazer muito mal… Os exemplos são infindáveis mas centram-nos bem na constatação de que as interações que estabelecemos com a realidade são físico-químico-biológicas e seria frágil pensar que há átomos ou moléculas naturais e átomos ou moléculas artificiais ou (mano/nano)facturados. São as mesmas entidades atómico-moleculares em contextos diferentes…

4- Compreender-se-ia mal que uma dor de cabeça curada com aspirina (fruto da Graça, através do trabalho intelectual, científico e tecnológico de gerações sucessivas) tivesse menos valor moral do que se fosse curada com um produto natural com ácido acetilsalicílico… A tecnologia, neste contexto, é irrelevante e sem qualquer indução ética. Da mesma forma, não tem sentido hipervalorizar o ‘natural’ como supremacia moral, incluindo na contracepção.

5- Poderá haver casais que se sentem bem e em progresso com o recurso exclusivo a métodos naturais, quer pelas simpatias ecológicas da situação, quer por certa disciplina rotinada de contenção que entendam como positiva ou por outros fatores que considerem equilibrantes. Mas sem superioridade moral.

6- A abertura ou fechamento à vida é a mesma, precisamente a mesma, quando se tenta acertar com um período não fértil da mulher ou quando se usa um preservativo. As contas do método podem errar e o  preservativo pode estar mecanicamente avariado. Se resultar uma vida, ambos os casais terão de viver a tensão ética de acolher ou não o filho e o casal é inequivocamente convidado a dizer sim.

7- Também a ofensa ao primado do amor pode ser praticada com ou sem a natureza: é igualmente reprovável usar preservativos “a torto e a direito”, coisificando outros, como forçar uma relação sexual, porque é “dia sim” na regulação natural.

8- Valeria a pena, a este propósito, a Igreja usar o seu “tempo de antena sobre o assunto” com uma argumentação sólida, exigente e eticamente estruturada que propusesse aos casais cristãos o uso de métodos anticoncepcionais não abortivos.

9- Detalhar excessivamente a questão da regulação dos nascimentos incorre numa linha quase ridícula de “prescrevisionismo”. No limite caricatural, pode perguntar-se sobre a validade moral de certos detalhes íntimos, como as posições de cópula…

Em todos os casos, parece-nos existir um caminho e um progresso óbvio nestas questões: por mais confortável que possam ser as posições rígidas, formalistas e legalistas, que não oferecem nuances e mantêm firmes e hirtos os seus militantes, há que apostar na formação dinâmica das consciências. Não para que tudo se relativize e se perca a radicalidade da proposta cristã, mas para que se incorporem e se resignifiquem as escolhas com base numa pedagogia não moralista. Para que nos embalemos na tradição (crítica) da Igreja, sem subtrair o primado da validação misericordiosa e contemplando a avaliação positivamente subjetiva de cada caso, de cada discernimento, de cada história, de cada terreno sagrado humano…

 

JP in Ciência Educação Textos 18 Fevereiro, 2019

“casa comum” – a síntese das sínteses

Podem apontar-se três sínteses fundamentais para os nossos tempos: a síntese da transcendência, por via da mística, a síntese da humanidade, por via da ética e a síntese cósmica, por via ecológica. A visão do Papa Francisco sobre a nossa “casa comum”, de alguma forma, faz a síntese destas três sínteses: é que o apontamento ecológico de Francisco contém mas supera a ecologia natural, incluindo, por isso, no “ser ecológico”, o “ser humanista”, o “ser transcendente”, o “ser social” e, assim, o “ser cósmico”.

JP in Ciência Educação Espiritualidade Frases 14 Fevereiro, 2019

sala de aula: um verdadeiro templo…

Embora consciente da determinante centralidade do aluno no processo educativo, bem como da crucialidade de todo o contexto que o envolve, assume ainda e sempre primordial importância a função do professor. Com mais ou menos inovação estética/didática/curricular/tecnológica, é relevante o palco principal em que os docentes atuam, que se chama sala de aula: um verdadeiro templo…

JP in Educação 8 Fevereiro, 2019

acaso e necessidade…

No seu mistério amoroso, permito-me imaginar que o nosso Deus, que não quis ser marioneteiro, arriscou tecer – está a tecer – em fios de acaso e necessidade.

O astrónomo Jesuita George Coyne, disse a este propósito: “Dois átomos de hidrogénio encontram-se no início do universo. Por necessidade (leis da combinação química), eles estão destinados a tornarem-se uma molécula de hidrogénio. Mas por acaso, as condições de temperatura e pressão naquele momento não são as que permitem a combinação. Os dois átomos movem-se no universo até que finalmente se combinam. E há triliões e triliões destes átomos no mesmo processo. Pela interacção de acaso e necessidade forma-se muitas moléculas de hidrogénio as quais, finalmente, se combinam com moléculas de oxigénio tornando assim possível a água, e assim por diante, até chegarmos a moléculas muito complexas e, finalmente, aos organismos mais complexos que a ciência conhece: o cérebro humano”.

o mito dos telemóveis que roubam o diálogo familiar…

Há poucas dúvidas, quando se olha o quotidiano familiar, que os telemóveis e dispositivos congéneres, principalmente nas mãos do mais novos, parecem subtrair ao diálogo familiar. Sem prejuízo de algo nessa linha acontecer (e dos educadores tomarem as suas precauções criativas e normativas*), pode ser um “mito” por confirmar. Quem nos diz que nas família de ontem, sem telemóveis mas com outros bloqueios, como o autoritarismo, havia genuíno diálogo familiar?…

  • regras como ‘à mesa, quando se come, não há, assim como TV, telemóveis’ são perfeitamente razoáveis e oportuníssimas…
JP in Educação Frases 2 Janeiro, 2019

educação: método I, método II e método III

Thomas Gordon* refere que, muitas vezes, à tirania dos professores e dos adultos enquanto pais (o que ele chama «Método I»), se opõe o não menos mau Método II, que é a «tirania das crianças ou dos alunos». Ele aponta-nos o Método III, baseado na negociação, conhecido pelo método «sem vencidos nem vencedores». A procura deste método (III), em casa e na escola, é um dos maiores dasafios da educação. Puxa pela nossa criatividade e paciência.

*

1 Gordon, T. (1998), Eficácia na Educação dos Filhos, Encontro Editora, Lisboa.
2 Gordon, T., Burch N. (1998), P.E.E. Programa do Ensino Eficaz, edição Escola Superior São João de Deus, Lisboa.

JP in Educação Frases 28 Dezembro, 2018