pedidos de desculpa e assincronismos

Compreendo e valorizo que pessoas e instituições peçam desculpa a quem ofenderam ou maltrataram, importando igualmente os propósitos de emenda e restituição eficazes a empreender, de forma consequente. Há, porém, um cuidado a ter no sentido de contextualizar as experiências sem assincronia, não caindo na desfocagem de julgar o passado de ontem como os dados do presente. Tal assincronismo é injusto e esquizofrénico e pode levar a uma automartirização discutível. A assunção de culpa e o pedido de perdão tiveram sentido, mas havia outros contextos e limitações a ter em conta…

JP in Educação Frases 26 Dezembro, 2018

assertividade e a emoção do outro

A assertividade é uma busca constante. A emoção do outro face a uma eventual crítica minha não é desprezível, mas não é o maior dos argumentos para desempatar a tensão ‘digo/não digo’. Não importa tanto se o outro fica triste ou não com o que digo, importa se o que eu digo é pretexto de crescimento e aproximação da verdade e da justiça. Pessoalmente, entendo que só devo experimentar esta assertividade verbal com quem a deseja receber. Há relações (sem futuro) que não merecem a crítica.

JP in Educação Frases 20 Dezembro, 2018

A insustentável leveza da incompatibilidade entre ciência e religião

“A insustentável leveza da incompatibilidade entre ciência e religião”

O deus em que não acredita Peter Atkins é inacreditável: ainda bem que ele é não crente nesse deus e eu, com entusiasmo, acompanho-o nesse ‘ateísmo’.

Artigo completo em

https://www.publico.pt/2018/12/09/ciencia/opiniao/-insustentavel-leveza-incompatibilidade-ciencia-religiao-1853629

a porosidade da escola

A complexidade escolar contemporânea é aguda. A escola é muito ‘porosa’ a toda a sociedade, particularmente pelo fluxo esmagador de informação por via tecnológica. Pede-se aos professores o impossível e, sem querer vitimizar a docência, admito que seja particularmente difícil nos nossos dias o desafio de educar em dinâmicas tão abertas. Mas espreita sempre a nobreza da educação: se a escola é porosa é porque a vida é porosa. E será na escola, precisamente, que muitos alunos poderão ganhar filtro e resistências culturais críticas, para se protegerem e saberem viver “porosamente”…

JP in Educação Frases 16 Novembro, 2018

Ciência e religião: Conflito, independência, diálogo e integração

J. C. Paiva, Ciência e religião: Conflito, independência, diálogo e integração. Site PontoSJ (que se recomenda…). 05 de outubro de 2018.

 

Disponível aqui

 

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As relações entre ciência e religião, ontem e hoje, são marcadas por certa tensão.

A ciência tem nos nossos dias um valor social impressionante. Tal circunstância, sem escamotear os óbvios benefícios da empresa científica, favorece o perigo de a transformar numa ideologia (cientificismo). Assim não deveria ser pois não podemos extrair, pela via filosófica, pelo seu saber ou pelas suas atividades, qualquer ilação ideológica à ciência. Pelo contrário, parte das enormes virtudes da ciência, no seu nascimento, no seu desenvolvimento e na sua prospetiva devem muito à sua independência dos regimes, das ideologias, das raças e crenças dos cientistas. Ajuda muito esta clarificação pois na maior parte das discussões desnecessariamente divergentes sobre ciência e religião, está (erradamente) a usar-se a ciência como uma ideologia. Muito ganham os cientistas em reconhecer as limitações deste tipo de conhecimento, que caminha como um olhar, entre outros, sobre a realidade cósmica, incluindo o homem. A par da ciência, outros questionamentos, como o ético, o artístico e o religioso, cruzam-se na nossa consciência pessoal e coletiva.

Tão venenosos como a ideologia cientificista são todos os fundamentalismos do tipo religioso.

Na tentativa de clarificar essa complexa relação, o físico americano Ian Barbour propôs, nos finais do século XX, quatro dimensões, a saber: conflito, independência, diálogo e integração.

1- Conflito.

As situações de conflito são conhecidas na história da ciência. O caso Galileo é sobejamente conhecido (não necessariamente bem compreendido, já que os conflitos gerados podem ter mais a ver com contextos históricos da reforma e contra-reforma do que com ciência e religião). Ainda hoje, nas redes sociais, em livros e no senso comum, há espaço de conflitualidade. Muitos desses aspetos residem em posições extremadas de materialismo científico e de fundamentalismo religioso, principalmente relacionado com a literalidade dos textos sagrados. Por vezes, sob uma capa aparentemente inofensiva, os comunicadores de ciência deixam passar alguns traços de fundamentalismo ideológico. É o caso do brilhante Carl Sagan que, a dado passo, escreve: “o Cosmos é tudo o que existe, que existiu e que existirá!”…

2- Independência.

Focados nas diferentes linguagens, metodologias, limitações e objetos de estudo podemos valorizar essas mesmas diferenças e associar independência (ou autonomia) a estas duas áreas: ciência e religião. Esta consciência de autonomia vem do tempo medieval, onde já se dizia que o livro da natureza e o livro da revelação são do mesmo autor (…) e, como tal, não se podem contradizer.  Inclui-se na independência da ciência o sacudimento de quaisquer secularismos. João Paulo II explicitou-o bem: “ciência e religião devem preservar a sua autonomia e a sua peculiaridade. Cada uma tem os seus próprios princípios e formas de proceder”. Podemos ter posições excessivas no que concerne à dimensão da independência, que colocam a tónica numa tal diferenciação que tange a esquizofrenia. Neste sentido, o físico Plank radicaliza a autonomia com a ideia de que ciência e religião são duas vias paralelas que só se encontram no infinito. Nem tanto, talvez haja algum entrançado..

3- Diálogo.

Se a dimensão de independência é tomada radicalmente, nem sequer há espaço para o conflito. O diálogo entre ciência e religião é possível e porventura necessário e útil porque há que construir pontes na diferença. Não dialogar (encrostados na radical autonomia) faria lembrar os casais que não discutem, não conflituam e não dialogam… porque não falam nos assuntos de potencial fraturante (condenação ao fracasso relacional, como sabemos…). Uma das formas de entender o manancial de diálogo entre ciência e religião é compreender estas realidade no contexto mais amplo da noção de cultura. O caldo cultural, onde se misturam a realidade da vida, as relações, a arte e tudo mais que disser respeito à humanidade, ai se entendem melhor as urgências dialogantes, incluindo aquelas que dizem respeito às diferentes perspetivas do olhar científico e do olhar religioso. A neutralidade não é boa conselheira… Apesar das diferenças nos seus aspetos ontológicos, epistemológicos e metodológicos, ciência e religião têm matizes comuns, correlações e paralelismos potenciais, concretamente face às grandes questões relacionadas, por exemplo, com a origem do universo e com a evolução humana.

4- Integração

A integração seria uma dimensão um tanto mais comprometedora entre ciência e religião. É, porventura, destes quatro enunciados, a área mais polémica. As teses integrativas arriscam beliscar a autonomia. Há exemplos de boas e mais duvidosas integrações. Parece-me cheia de potencial, por exemplo, a abordagem de Chardin que se inspira nas teorias da evolução para dar novos ventos à teologia, principalmente no que diz respeito ao pecado original. Já considero muito duvidosas, senão perniciosas, as influência da teoria do “design inteligente”, que estabelece veleidades integrativas com base numa perfeita confusão entre o objeto e a metodologia da ciência e as questões últimas que importam a fé. É bom, por isso, não omitir o que é diferente, preferindo, sempre que possível, a linguagem da analogia, em vez da inferência. Por exemplo, dizer: “assim como a espécie humana parece em constante evolução, podemos, por analogia, referir-nos aos dinamismos evolutivos da própria vida de Cristo” será mais prudente do que invocar, em excessividade integrativa ideias do tipo “como a ciência descobriu a teoria do big-bang, então existe Deus”.

A proposta de Barbour, um cristão da Igreja reformada que venceu o prémio Templeton, é bastante útil embora não elimine as ambiguidades: há ideias e argumentos que vistas de um certo ângulo, se situam numa área de conflito mas que, noutra perspetiva, poderão, por exemplo, ter certo caráter integrativo. Notar ainda que não há qualquer cronologia histórica (do conflito à integração) nem sequer juízo de valor sobre estas quatro dimensões. Nos nossos dias, há aspetos de algum conflito no terreno misto da ciência e da religião, no domínio ético, por exemplo, que são compreensíveis e têm de ser assumidos.

Há autores que preferem a explicitação de uma outra (quinta) dimensão, algures entre o diálogo e a integração, a que chamam complementaridade. Trata-se de uma abordagem curiosa, convidando a uma compatibilidade mutuamente potenciadora, como acontece, por exemplo, com a religião e a arte.

Sem, obviamente, dependermos da ciência para suportar a nossa fé, é também certo que esta forma de olhar e compreender o mundo que é praticada pelos cientistas nos pode induzir aprofundamentos de natureza religiosa. Notar que a ciência tem uma forte componente de procura e encontro com a beleza, na beleza que é o universo (assim também é com Deus, que é cúmplice do belo…).  Do ponto de vista filosófico, também o conhecimento científico pode levar-nos à religião, desde logo porque o mistério de conseguirmos tatear o funcionamento do cosmos nos pode convidar a encontrar uma causa última que justifique a nossa própria racionalidade. Subindo a parada, um mundo contingente e inteligível, como  constatamos e sentimos, abre hipóteses a um Deus necessário e racionalizável…

dicotomia pedagógica 1: razão e afetos

Razão / Afetos

Talvez se possam catalogar determinadas práticas pedagógicas do passado como «paraísos da razão». Na relação professor-aluno e no próprio processo de ensino e aprendizagem importaria uma clareza racional objectiva, uma relação «higiénica» e quase independente das pessoas e dos seus setimentos. Os afetos eram inibidos ou separados dos alunos, dos professores e, em geral, da educação. As emoções eram recalcadas em absoluto. Não há cabimento, hoje, para esta separação entre o que é racional e o que é afectivo. Conhecem-se espaços pedagógicos onde também os afetos imperam desmesuradamente, em que não há distância crítica suficiente para, também com a razão, observar e agir melhor. Se quisermos, há professores que não o chegam a ser, porque são só «tipos porreiros»…

Texto parcialmente inspirado no livro “Fascínio de Ser Professor” (JPaiva). Texto Editores, 2007.

JP in Educação Textos 8 Outubro, 2018

vida imposta

Às vezes não sabemos o que havemos de fazer com a vida que nos foi dada. Em nome da verdade, sem querer alimentar vitimismos, há um certo drama na existência: a vida não nos foi só dada, foi também imposta! Poderá ajudar a dica de Virgílio Ferreira e o filão da responsabilidade: “somos responsáveis pelo que fazemos da vida e até pelo que fazemos do que outros fizeram de nós”.

JP in Educação Espiritualidade Frases 2 Outubro, 2018

objetividade e subjetividade

Há exageros na metáfora objetivista de grelhas, métricas e outras parametrizações exageradas. Ocorre promover a positiva subjetividade, no sentido humanista do termo. Curiosa, a este propósito, a máxima de Fernando Savater: “se fosse um objeto era objetivo, como sou um sujeito, sou subjetivo…”

julho’ 2018

JP in Educação Frases 29 Julho, 2018

Livros escolares

Escrevi e vou esrevendo umas dezenas livros escolares, principalmente na área de química (do 7º ao 12º anos) e sempre em coautoria.

Estes livros podem ser consultados em

https://www.joaopaiva.net/wp-content/uploads/2018/06/CURRIC_VITAE_JOAO_PAIVA_marco2018-v37.docx.pdf

A mioria dos livros pode ser daquirida nas livrarias ou em sites on line como www.wook.pt (João Paiva na pesquisa)

JP in Educação Livros 26 Julho, 2018