O Senhor é Bom…

No Salmo que insiste que ‘O Senhor é Bom Pastor’, descanso. Não sem algumas perturbações: 1) às vezes sou pouco sensitivo deste colo … mas saboreio a liberdade como dom; 2) às vezes acho que algo me falta … mas saboreio o convite a saber saborear até a falta; 3) impressiono-me com o escândalo deste salmo diante de quem tem efetiva fome e dor aguda … mas entendo-me como ‘mandatado pelo Senhor’ para ser eu mesmo uma parte do pastoreio amoroso de Deus.

JP in Sem categoria 12 Novembro, 2025

expulsar do templo o que não é do templo…

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Jo 2, 13-22

Fez então um chicote de cordas e expulsou todos do Templo

Em dia de celebração de templo católico, confrontamo-nos com uma experiência um tanto dramática e radical de Jesus: expulsar (com violência, porque não dizê-lo) os vendilhões do templo. É das passagens evangélicas que mais deveria provocar os cristãos católicos, no sentido de questionar profundamente como se vê, gere e vive o templo, quer o templo físico, quer o templo pessoal que somos nós mesmos. O devir destes lugares é a essencialidade, a profundidade agradecida. O equívoco, por outro lado, é o poder, o ter, o manipular. É o negócio. E como importa sacudir, ainda, no mundo religioso, tudo aquilo que não é essencial…

NOTA: Este texto é repetido/ajustado a partir de evento já publicado anteriormente, neste blog.

DOMINGO XXXII DO TEMPO COMUM

Dedicação da Basílica de Latrão – FESTA


L 1 Ez 47, 1-2. 8-9. 12; Sl 45, 2-3. 5-6. 8-9
L 2 1Cor 3, 9c-11. 16-17
Ev Jo 2, 13-22

JP in Sem categoria 10 Novembro, 2025

compreender e entender…

A realidade no seu todo, sejamos honestos, não pode ser cabalmente compreendida (isto é, não pode apreender-se ou captar-se completamente). Mas pode ser, cada vez mais, entendida (isto é, pode tender-se progressivamente para a compreensão). Trata-se, por isso, de uma opção que segue o grande filão do pensamento cristão, que ficou expresso na fórmula: creio para entender e entendo para crer.

crer

Talvez valha a pena esticar a loucura de crer no amor até à loucura de crer, também, em cenário de  sofrimento e de morte…Será a vida um treino disto mesmo, potencialmente fecundo?…

JP in Sem categoria 6 Novembro, 2025

Ministério ordenado na Igreja Católica: “mulher não entra”?

Paiva, J. C. (2025).Ministério ordenado na Igreja Católica: “mulher não entra”?ulismo e Evangelho. Site Ponto SJ, 06-08-2025. Disponível aqui

O assunto é o acesso feminino ao ministério ordenado da Igreja Católica. O tema já é muito debatido dentro e fora da Igreja Católica e esse é um bom e até esperançoso sintoma, debaixo da espuma dos nossos dias. São conhecidos os mais variados argumentos para ficarmos no mesmo lugar: a tradição (numa visão imobilista e não dinâmica, com toda a certeza); as escrituras (numa versão literalista ou de pesca avulsa interesseira de palavras); a universalidade católica (subtraída de uma verdadeira cultura poliédrica de diversidade); a inoportunidade, face a tantas outras urgências eclesiais (confortável para ir deixando tudo na mesma); o comparativo com outras religiões que, por incluírem mulheres nas lideranças celebrativas, não fizeram crescer o rebanho (transportando um olhar estatístico muito distante da ousadia desconcertante da singularidade numérica dos Evangelhos); entre outros argumentos.

Um dos tópicos mais apresentados pelos resistentes baseia-se na rica dicotomia eclesial Baltazariana: uma Igreja petrina versus uma igreja mariana, coexistindo em complementaridade. Do lado petrino, a segurança, a rocha, a força, a pujança, a testosterona, talvez. Do outro lado, a faceta materna: doce, atenta ao detalhe, sensível, “redondinha” (já agora, de mãos postas, direitinha e obediente). Ora este estereótipo, principalmente do lado mariano, revela sinais culturais que podem sustentar certa crítica e certa inquietude. Talvez o lado feminino, focado, em particular na imagem de Maria, Mãe de Jesus de Nazaré, pudesse ser um outro: mulher resistente, de lenço na cabeça e mãos na massa, pronta a escutar, cuidar, discernir, decidir… e liderar, certamente. Por aqui anda, confesso, no meu horizonte, o perfume inspirador feminino. É uma ironia que não consigo explicar, esta convicção endémica que tenho sobre a forma absolutamente revolucionária com que Jesus tratou (e contou) com as mulheres e o enquistamento do lugar feminino no seio da Igreja Católica. Reconheço as sementes evangélicas e de traço cristão nos bastidores do alavancamento sociocultural da mulher no último século, mas tal potência está muito aquém de germinar eclesialmente.

Sou obvia e reconhecidamente um ignorante em teologia, cristologia e eclesiologia mas, depois de muitas tentativas, não consigo ganhar entusiasmo e conforto racional ou emocional a partir de nenhum dos argumentos que se me apresentam sobre esta espécie de misoginia eclesial. Sendo também ignorante, mas um pouco menos, no que concerne à relação entre ciência e religião, sou tentado a explicitar um aperitivo original para uma analogia que simboliza, a partir do meu ponto de vista, um argumento óbvio de abertura a esta questão. Enuncio assim: se eu validasse os argumentos que sustêm a conservação do não acesso ao sacerdócio feminino, invalidaria, por arrasto, a boa compatibilização entre ciência e religião. Este não é o fórum certo para desenvolver o tema, mas o que fui lendo e meditando sobre a natureza da ciência e sobre a natureza da religião leva a um lugar óbvio: ciência e religião só serão compatíveis entre si com um primado inegociável de não literalidade bíblica, de dinamismo epistemológico e de abertura sem pré-conceitos rígidos. Os mesmos pressupostos, trazidos para a discussão em causa, eliminam qualquer razoabilidade dos argumentos que sustentam o fechamento às mulheres ao ministério ordenado.

O concílio Vaticano II, tão inspirador e ainda tão distante no protagonismo católico, ofereceu-nos uma forma (re)novada (não nova, porque está no “velho” Evangelho): o mundo e os seus sinais são um bom espelho para nos entendermos, relermos e agirmos. No que diz respeito ao feminino, esse reflexo está por projetar: da geografia cultural onde me encontro, o espaço da mulher na Igreja é, para usar poucas palavras, culturalmente insuportável. A Faculdade de Ciências onde trabalho é (muito bem) liderada por uma mulher. Por que raio de argumentos poderíamos impedir, hoje, uma mulher de ter liderança académica instituída e efetiva? Poderão dizer-me que a Igreja é coisa maior (ou será ‘menor’, no bom sentido do termo?) mas não se consegue entender esta originalidade da Igreja.

Está claro que o ministério ordenado é um serviço e que jamais seria um fim em si mesmo – muito menos uma reivindicação – para qualquer mudança na Igreja. Mas esta cerca ao feminino é sintoma profundo de algo que não está bem. Como ganharíamos todos, homens e mulheres, se tivéssemos mais e mais rasgadas portas para partilhar e assim receber a sensibilidade feminina colhida dos Evangelhos e celebrada na nossa fé comunitária.

Valha-nos, entretanto, o acompanhamento espiritual feminino, que está canonicamente enquadrado e vai sendo, aquém do possível e desejável, realizado em Igreja. Oxalá, no mínimo, possa constituir-se num mais robusto e institucionalizado ministério eclesial, então também liderado no feminino.

Pergunto-me como realizará, hoje, uma jovem adolescente da nossa cultura ocidental este nó patriarcal? A maioria das minhas amigas católicas acompanha-me, genericamente, neste argumentário. Mas a sua história com os Evangelhos e com a Igreja já teve positiva sedução vinculativa e deu lastro a uma pertença, crítica, mas fluente e fiel. Será assim com gente mais nova?

Tenho esperança na sinodalidade como processo de ser Igreja e estou disposto a pagar o preço da lentidão deste avanço. Mas reconheço perigos imobilistas.

Para algumas pessoas dentro da Igreja, ou menos preocupadas com este assunto, ou ainda instaladas na ideia de que pouco importa esta questão, o acesso feminino à liderança ministerial católica é não só difícil de abordar, como também inconveniente e, sobretudo, irrelevante. Será mesmo assim?

JP in Sem categoria 4 Novembro, 2025

viver eternamente…

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se pode escutar-se, entre outras leitiras Jo 6, 51-28

quem comer deste pão viverá eternamente

O texto de João recentra-nos na força da banalidade e da crucialidade do pão, do pão quotidiano, confrontado com a ‘vida eterna’. Sabemos que podemos ajustar a frase “quem comer deste pão viverá eternamente” para uma outra versão mais ‘em trânsito’ que, não perdendo a escatologia, traz o alimento para este tempo e para esta fome que somos: quem comer deste pão vive intensamente. Quando celebramos a morte, e, por isso a vida, temos como num espelho, não a receita mas o caminho face à vida e a morte, nossa, dos que amamos e de todos: viver intensamente é a celebração da vida… e da morte!

DOMINGO XXXI DO TEMPO COMUM

Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos


Terceira Missa
L 1 Is 25, 6a-7-9; Sl 22, 1-3a. 3b-4. 5. 6
L 2 1Ts 4, 13-18
Ev Jo 6, 51-58

JP in Sem categoria 2 Novembro, 2025

Há pessoas que morrem



Há pessoas que morrem
e ficam penduradas
em papéis como defuntos.
Há pessoas que morrem…
e são choradas como o vento
que se sente mas escapa.
Há pessoas que morrem
e populam na memória
mas não se podem abraçar.
Há pessoas que morrem
e parecem não mortas
e aparecem meias vivas.
Há pessoas que morrem…
… com elas vou morrendo…

JP in Sem categoria 30 Outubro, 2025

Morreu a Tia

Hoje morreu(-me) a Tia

Hoje chorei o dia

Em que alguém (me) morreu.

Minha Tia.

Já viveu.

A cova onde jazia

Era descanso seu.

Nesse dia (me) morria

Noutro dia, já viveu.

Hoje foi a minha Tia,

amanhã serei só eu.

Hoje foi a minha Tia,

amanhã serei só eu…

abril 2021

JP in Sem categoria 28 Outubro, 2025

sou mesmo melhor do que aquele outro…

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 18, 9-14 

«…por não ser como os outros homens, que são ladrões, injustos e adúlteros, nem como este publicano»

Este trecho de Lucas puxa por todos nós, como num espelho. Distraídos, olhando criticamente os outros, estamos a milímetros de uma super-auto-consideração… Na perspectiva espiritual, entende-se como a relação com Deus, esse tateamento que só progride na verdade do que somos, precisa de gente disposta a olhar para si com menos defesas de qualquer superioridade. A consciência de que somos publicanos (comuns carentes) pode tornar-nos mais livres para acolher a confiança (comuns crentes…).

DOMINGO XXX DO TEMPO COMUM

NOTA: Este artigo é repetido/adaptado de um outro já publicado neste blog

L1: Sir 35, 15b-17. 20-22a (gr. 12-14.16-18);
Sal 33 (34), 2-3. 17-18. 19 e 23
L2: 2 Tim 4, 6-8. 16-18
Ev: Lc 18, 9-14

JP in Sem categoria 26 Outubro, 2025

paciência social…


Na solidariedade social, o caminho, quando algo corre menos bem, é dar melhor e não deixar de dar. Por isso, a par da melhoria da eficácia, sem persistência e sem paciência não há bom cuidado social.

JP in Sem categoria 24 Outubro, 2025