alumínio: ninguém o viu…

Há um (quase) mistério com o alumínio. Usa-se em janelas e outros materiais, precisamente para evitar a corrosão. No entanto, é dos materiais que oxida mais facilmente e, por isso, entra em imediata e extensa corrosão. Onde está a nuance? É que, precisamente por oxidar facilmente, qualquer pedaço de alumínio cria uma película de óxido de alumínio. Este óxido, ao contrário de outros, é impermeável ao oxigénio e protege a efetiva corrosão sucessiva. Isto é, quando estamos a olhar para alumínio, estamos a ver, de facto, uma peça metálica revestida por uma película de óxido de alumínio, transparente e impermeável ao que permite a corrosão. Em rigor, nunca de nós viu alumínio metálico sem estar protegido por óxido de alumínio… e só numa câmara de vazio se conseguiria tal. “olha alumínio!”: Esquece, já estás a ver óxido de alumínio… Quase tudo o que é… já era. No alumíno, este dinamismo é “só” muitíssimo rápido…

JP in Sem categoria 16 Fevereiro, 2022

se Cristo não ressuscitou, é inútil a nossa fé

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se 1 Cor 15, 12.16-20

«Se Cristo não ressuscitou, é inútil a nossa fé»

A frase de Paulo aos coríntios é bem conhecida dos cristãos e mote de muitas pregações e escritos espirituais. Propõe-se uma ligeira mudança no sujeito da frase “se eu não ressuscito é estéril a minha fé”. Esta frase, traduzida em vida, significa um claro respeito pelas minhas lágrimas, pelas minhas tristezas e pelas minhas “mortes”, mas um olhar sobre o horizonte, mais do que para os próprios pés cansados. Ressuscitar é recomeçar! E este respirar é tanto um alento existencial, como, principalmente, um mote para cada desafio de cada minuto, de cada espaço da nossa vida.

NOTA: Este artigo é repetido/adaptado de um outro já publicado neste blog

DOMINGO VI DO TEMPO COMUM

L1: Jer 17, 5-8; Sal 1, 1-2. 3. 4 e 6
L2: 1 Cor 15, 12. 16-20
Ev: Lc 6, 17. 20-26

JP in Sem categoria 12 Fevereiro, 2022

deixaram tudo e seguiram Jesus

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 5, 1-11

«Deixaram tudo e seguiram Jesus»

Os cristãos, em última análise, são frágeis seguidores de Jesus, o Cristo. O relato de Lucas fala-nos de pesca, de abundância, de deixar tudo e seguir Jesus. A pesca corria mal mas a presença de Jesus trazia abundância. Fascinados com essa plenitude resultante da amizade com Jesus, os discípulos mudaram a orientação da sua pesca, deixaram tudo e tornaram-se “pescadores de homens”. Os critérios de Cristo convidam-nos a uma recentralidade humanista: são os outros homens e mulheres que nos importam. Os cristão podem provocantemente perguntar-se: Que pesca fazemos? Como “convocamos” Jesus para nos acompanhar naquilo que nos importa? Como sentimos a abundância da Sua presença? Que mudanças somos capazes de fazer para O seguir, “pescando” de outra forma?…

NOTA: Este artigo é repetido/adaptado de um outro já publicado neste blog

DOMINGO V DO TEMPO COMUM


L1: Is 6, 1-2a. 3-8; Sal 137 (138), 1-2a. 2bc-3. 4-5. 7c-8
L2: 1 Cor 15, 1-11 ou 1 Cor 15, 3-8. 11
Ev: Lc 5, 1-11

JP in Sem categoria 6 Fevereiro, 2022

Não é este o filho de José?

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 4, 21-30

Não é este o filho de José?

O que é central nesta passagem do Evangelho é o apelo ao perigo da leitura superficial, do preconceito, do julgamento pelas exterioridades. Este Jesus não vale pelo que aparenta nem pelo seu pedigree. Vale pelo que é. Assim deveria ser com cada um de nós, na sua auto-estima e na sua hetero-estima… Valer pelo que se é, explicitado de outra forma, é dar mais importância ao que se diz e ao que se faz, mais do que às origens e aos históricos de cada um. Está aqui implícito um convite à autenticidade, nossa e dos outros, que vale a pena ter em conta com expressão de liberdade…

NOTA: Este texto é repetido/ajustado a partir de evento já publicado anteriormente, neste blog.

DOMINGO IV DO TEMPO COMUM


L1: Jer 1, 4-5. 17-19; Sal 70 (71), 1-2. 3-4a. 5-6ab. 15ab e 17
L2: 1 Cor 12, 31 – 13, 13 ou 1 Cor 13, 4-13
Ev: Lc 4, 21-30

JP in Sem categoria 30 Janeiro, 2022

O “ismo” que interessa…

Paiva, J. C. (2022). O “ismo” que interessa… Site Ponto SJ, 26-01-2022.

Disponível aqui

A palavra tem o seu quê de artefacto, de improviso, de tateamento comunicacional. É a menos má arma que temos contra a nossa indizibilidade. É tão forte e útil, quanto precária e frágil. É, sobretudo, dinâmica, a palavra. Sabemos todos, por experiência própria, que a palavra é também ambígua e não depende só de si mesma. Entre outras coisas, a mesma palavra, se preciso for, tanto mata como liberta… É através da palavra que nos construímos e convergimos, mas, também por ela, nos desencontramos.

O sufixo “ismo” é relativamente recente no nosso linguajar. Incluído há alguns poucos séculos na nossa família linguística, o seu uso tem vindo a intensificar-se e apresenta-se hoje nos mais versáteis cenários semânticos. O “ismo” não tem carga fixa assumindo valores diferentes conforme o contexto. Gostava de me focar no lado mais ‘tóxico’, do sufixo “ismo”. Como sou químico, vou tomar a liberdade de convocar o enquadramento de “dose excessiva”, para querer aludir a certa intensidade, certo enfoque, certo exagero, também… Um exemplo óbvio é a palavra alcoolismo. É um “ismo” que diz respeito a uma dose intensa (porventura letal…) de algo que, tomado na dose certa, é pura e simplesmente bom, até muito bom. O álcool é fonte de sabor, de alegria, de vida e de sinalidade. Tomado a mais, deixa de ser tónico, passa a ser tóxico … e inebria. Nos parágrafos abaixo, situo-me como Cristão Católico Apostólico Romano face a muitos potencias “ismos” que intoxicam:

Importa conservar, principalmente na vida e no coração, uma herança testemunhal milenar que comunitariamente se tece para oferecer sentidos de esperança. Mas conservar, em Igreja, é sempre um gesto aberto e arriscado, atento aos sinais do mundo, dinâmico no mandato evangélico do sempre novo.

Assumo o caráter institucional da minha fé. Reconheço que organização e estrutura ajudaram na história e ajudam no tempo presente, qual copo que vale a pena ter para beber vinho. Mas um copo (instituição) não tem que ter peneiras nem obsessão de ser vinho (Espírito). O copo serve para beber vinho e copos por si mesmos são vidros infecundos, que até fazem feridas…

A fé encarnada é, em si mesma, continuista. Jesus de Nazaré nasce na história e funda e refunda a partir do que existe. É um Judeu que entra na fé e na vida do seu tempo e liberta na continuidade, sem romper com a história. É alguém que, mais do que ter amado e criado, ama e cria, ou, melhor, vai amando e criando… na realidade continuada.

Sem a tradição, esse gesto de transmitir, de dizer o tesouro que se traz no barro frágil, nenhum de nós teria condição de receber e continuar o dom. A tradição contempla igualmente a dimensão comunitária da fé, porque faz por dizer, a partir de Cristo, através dos tempos, o(s) “nós” da Fé. Mas tradição não tem que casar com resistência, com estaticismo e com rigidez. Pelo contrário, também porque a Boa Nova reclama, a tradição só sobrevive se se souber (re)dizer.

A Igreja tem os seus dogmas e eu viajo com eles, também. Os dogmas são para nós apontamentos fortes do que se entende ser a verdade e, é bom registar, têm naturezas e valores diferentes uns dos outros. Gosto de associar à palavra dogma uma outra, que nada tem a ver, no sentido etimológico: boia. E há boias que quero assumir como verdades que voluntariamente não desejo discutir, mas antes acolher e viver. Preciso delas, a partir de dentro de mim mesmo, para me não afundar no mar gozoso, mas tumultuoso da vida. Uma delas, a boia maior, da qual não me quero apartar, é esta mesma: a certeza que Deus é amor. As outras boia(zitas) ancoram nesta maior e poderão ser mais dinâmicas do que as fazemos… As boias de sinalização no mar oscilam com as correntes. Embora ancoradas, não são estátuas.

Foi e é importante uma certa doutrina, fonte de ensinamento e sabedoria, que nos pode iluminar no caminho e ser em si mesma testemunha de abertura e dádiva. Mas a doutrina não tem que ser doutrinadora… Pelo contrário, se é sabedoria a empreender pedagogicamente (a propor e não a impor, portanto), terá de ser aberta e recíproca. A doutrina cristã de século XXI, inspirada num tal de Jesus de Nazaré, deve ser principalmente de escuta. Propõe-se, mais do que com palavras, com vida(s), mas recebe e ilumina-se na diferença. É, em rigor, por ser cristã, uma doutrina aprendente.

Na Igreja, alimento-me de sacramentos, sinais visíveis que me ajudam nesta ponte tensional inacabada, entre o visível e o invisível, o ausente e o presente, o inatingível e o tocável. Nestes sinais, partilhados, abertos, esbanjados e oferecidos, realiza-se, no lastro da nossa fé, o que se representa. Mas nenhum sacramento pode ser vivido sem a consciência da sua paradoxal mas real infidelidade. O sacramento é, em si mesmo, também, insuficiente. Como a fé em Deus, o sacramento quer precisar da liberdade, da inteireza e da fé de quem participa. Sem adesão coerente e profundamente interior, o sacramento pode ser superficializado… e infecundo.

Portanto, assumidamente, sou conservador, institucional, continuador, tradicional, dogmático, doutrinal e sacramental. A vida espiritual não exige o ser religioso. Estes apontamentos comunitários de pertença vão-me ajudando a ser o que posso ser, salvando-me de mim mesmo. Mas… recuso e até gasto alguma energia de luta contra os “ismos” caricaturais de fundamentalismo destas procuras. Afasto-me do conservadorismo, do institucionalismo, do continuismo, do tradicionalismo, do dogmatismo, do doutrinismo e do sacramentalismo.  São estas doses excessivas, brotando de dentro e para dentro e para fora da Igreja Católica, que, tantas vezes, desperdiçam o tónus fundamental. Outros “ismos” de certo sentido oposto, como os progressismos ou os descontinuismos (revolucionários), também me repelem. Mas fica para outra reflexão tal desenvolvimento.

O “ismo” que vale a pena é mesmo o do Cristianismo… Admito que para o sentido da minha vida e do mundo, a identificação com Cristo é da ordem do ‘quanto mais melhor’. Deste “ismo”, sim, quero voluntariamente embebedar-me. Há uma ironia, nos próprios Evangelhos, que me sustenta: Jesus de Nazaré, em muitos dos seus gestos, palavras e sinais, opõe-se, precisamente, a todos os fundamentalismos, essas sombras que não deixam eclodir a proposta do radical amor. O cristianismo é um “ismo” que precisa sempre, para evitar os “ismos” que não contém, de três pilares fundamentais: a abertura, a novidade e o dinamismo. É também por isto que desejo celebrar, quotidianamente, com tanta alegria e vontade quanto (auto)desperdício, o “ismo” que me dá Ser: por Cristo, com Cristo, em Cristo…

JP in Sem categoria 28 Janeiro, 2022

restituir a liberdade aos oprimidos

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 1, 1-4: 4, 14-21
«restituir a liberdade aos oprimidos»

Na sinagoga, local religioso da Sua própria cultura, Jesus proclama ao que vem, fazendo pontes (páscoas…) antecipadas entre a tradição e a Sua própria novidade. Podemos centrar-nos no apelo à liberdade, aqui invocada como uma restituição, apelando a certa potencialidade, liberdade e bondade originais que nos constituem. Jesus e a(s) sua(s) igrejas, entretanto tecidas no tempo e no espaço, nem sempre sublinharam devidamente esta essência de liberdade. Mas certa opressão existencial, que pessoal e coletivamente carregamos, tem uma saída em Cristo. A(s) igreja(s), ou apontam esta liberdade, ou não serão de Cristo…

NOTA: Este texto é repetido/ajustado a partir de evento já publicado anteriormente, neste blog.

DOMINGO III DO TEMPO COMUM


L1: Ne 8, 2-4a. 5-6. 8-10; Sal 18 B (19), 8. 9. 10. 15
L2: 1 Cor 12, 12-30 ou 1 Cor 12, 12-14. 27
Ev: Lc 1, 1-4: 4, 14-21

JP in Sem categoria 22 Janeiro, 2022

Deus tece

Deus não domina, tece…com fios que transportam a nossa própria liberdade.

JP in Sem categoria 20 Janeiro, 2022

não têm vinho…

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Jo 2, 1-11 

«Não têm vinho»

O relato do Evangelho que hoje nos inspira diz respeito às Bodas de Caná, onde se saboreia o primeiro carente mas depois abundante néctar do vinho. Podemos fazer uma pergunta de paragem: “que vinho nos falta?” (na família, no trabalho, na rua…). Valorizar esse desejo e tomar nota que não é tendo tudo que se está bem. Não é necessariamente cheio que se está pleno. Há que viver o processo de transformação: assim como o da água em vinho, o da rotina em sabor, o da carência em saciedade, o da morte em vida…

NOTA: Este texto é repetido/ajustado a partir de evento já publicado neste blog anteriormente.

DOMINGO II DO TEMPO COMUM


L1: Is 62, 1-5; Sal 95 (96), 1-2a. 2b-3. 7-8a. 9-10ac
L2: 1 Cor 12, 4-11
Ev: Jo 2, 1-11

JP in Sem categoria 16 Janeiro, 2022

Também Jesus foi baptizado

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 3, 15-16

Também Jesus foi baptizado

Este gesto de Jesus ‘se colocar na fila’ para o batismo (em teoria, prescindível para o Messias…) valoriza-nos a humildade e a procura de realização no ‘ordinário’ de cada dia. O batismo de Jesus é o mergulho no mundo como ele é, em cada um de nós e nas nossas vidas. A forte simbologia da água marca o sinal positivo do batismo como uma imersão voluntária e comunitária no risco da fé, no usufruto do acolhimento, no amparo da água que limpa, purifica e refresca…

NOTA: Este artigo é repetido/adaptado de um outro já publicado neste blog

DOMINGO do Batismo do Senhor

FESTA
Branco – Ofício da festa. Te Deum.
+ Missa própria, Glória, Credo, pf. próprio.

L1: Is 42, 1-4. 6-7; Sal 28 (29), 1-2. 3ac-4. 3b e 9b-10
L2: At 10, 34-38
Ev: Lc 3, 15-16. 21-22

JP in Sem categoria 8 Janeiro, 2022

Desejo(zinhos) de Ano Novo

Paiva, J. C. (2022). Desejo(zinhos) de Ano Novo. Site Ponto SJ, 01-01-2022.

Disponível aqui

Os típicos leitores destas palavras têm, como eu, pão na mesa, banho quente, médico a quem recorrer e tanto mais. Quem não tem estes mínimos, só pode desejar tê-los. Assim, este artigo pode fazer sentido apenas para os primeiros.

Na entrada do novo ano fazem-se balanços e balancetes, memórias e celebrações. Reinventa-se a esperança e tecem-se propósitos. Vive-se a transição do ano como se deveria viver: em festa.

O ano que termina de 2021 foi duro, talvez até mais duro que 2020. Porque o segundo murro no estômago doí mais do que o primeiro. Uma primeira pandemia tem, na vivência e na leitura, a atenuante do inesperado, a ausência de livro de instruções. As vagas seguintes são extrapoláveis dos gráficos científicos, dos ciclos virais e mutações, mas moem e levam ao grito agora continuado do “nunca mais acaba”. Este ano teve alguns fôlegos, de esperança e de liberdade, como se fossem o queijo e o fiambre de uma sanduiche, do duro pão ressequido de janeiro e dezembro, que o diabo amassou.

Para alguns foram tempos de hospital e até de morte. Para todos foi privação, cansaço, confinamento, menos toque, menos rua, menos prosperidade, mais e diferente trabalho. Também menos frenesim, menos gestos mecânicos, mais tempo em casa com outras pessoas debaixo do mesmo teto. Foram coisas intensas que a vida teima em nos ensinar: temos muito realidade a circundar-nos e tão pouco na nossa mão. Caminhamos com pés de barro numa estrada que nos é oferecida e só a fragilidade comum nos une, de facto. A demanda maior chama-se paciência.

Compreende-se que se peçam coisas novas ao novo ano (escutará ele tais pedidos?): saúde, fim de pandemia, empregos, novos amores e reconciliações. Mas, deste lado privilegiado do mundo, desejo desafiar-me a um só pedido: que eu saiba receber a novidade do Novo Ano e que me encha de alegria viver esse pedido. Se um dia eu soubesse pedir apenas esse sonho maior e sem forma, de me bastar o abraço garantido que me habita…

Os propósitos são típicos desta transição do calendário. Propormo-nos a algo é desde logo uma porta de entrada na mudança. Mas, reconheçamos, tantos propósitos ficam precisamente à porta, aquém, por serem ora ingénuos, ora megalómanos, ora inalcançáveis. Faltam muitas vezes os meios realistas para os alavancar, avaliar e neles progredir para crescer. Um exemplo de propósito comum mas vago seria “tratar melhor do meu corpo”. Melhor será “fazer mais exercício”, mas, melhor ainda “correr dia-sim-dia-não quinze minutos por dia”. Da mesma forma, “escutar mais os outros” é largo de mais e convém afunilar para “telefonar a uma amigo ou familiar uma vez por semana”. Outro exemplo ainda: “não dizer sempre que sim”; terá sentido para algumas personalidades mas poderá ganhar em ser concretizado, tirando da cartola, face a qualquer solicitação, em vez de um sim automático, a mágica expressão “dá-me um tempo, vou pensar, discernir se é oportuno e responder em conformidade” (e abusar desta expressão…). Um dos propósitos mais ouvidos na catolicidade é o propósito de “rezar mais”. Poderá ser mais realista, por exemplo, “parar mais” ou, melhor ainda, “reservar solenemente dez minutos por dia, na hora, na forma e no local mais convenientes, para um espaço de silêncio”.

Talvez baste estar no aqui e no agora, atento ao que se passa, colher cada cheiro, fixar as cores da natureza, ver o rosto de quem se cruza comigo e sentir o renascimento de tantos gestos. Às vezes, eu bem sei, não há ânimo que aguente, não há inspiração no olhar, nem força na algibeira, nem esperança no caminhar. Às vezes morremos. Pois aí está o grande pedido, aí está o cerne do sonho grande, a vacina de que precisamos: acreditar que a morte – as pequenas mortes de tudo e de todos – não são a última palavra. Alguns chamam a isto Ressurreição… e saibamos nós viver para que algo ressuscite em nós: eis o mais cristão dos pedidos.

2022 será também um ano decisivo para a Igreja sinodal. Escuta-se e caminha-se a horizontalidade de uma casa comum. Um sínodo sobre o sínodo é uma redundância deliberada que nos leva a perceber que só o diálogo e o caminhar juntos nos dão sentido, que só se é Igreja em sínodo permanente, hoje e amanhã. Dar vez e voz a cada um foi o que um tal nazareno veio propor ao mundo, algo que o Concílio Vaticano II sublinhou e que será sempre o devir da Igreja que somos.

O que eu desejava desejar para 2022 era que este texto, um dia, fizesse sentido a todos porque todos tinham pão na mesa, amassado também nas minhas mãos.

Bom mesmo seria assumir este ano de 2022 como francamente Novo. E essa consideração de novidade está nas nossas mãos, para além de qualquer teste covid. Que nos bastasse a surpresa confiada de ver novas todas as coisas. Talvez este desejo maior possa ir diminuindo o tamanho do mero desejo(zinho). Talvez isto nos permita ir sendo a Paz a cada dia.

JP in Sem categoria 4 Janeiro, 2022