Páscoa quântica
Na Páscoa quântica, que a “ponte” entre a escuridão e a luz, abra a porta a fotões da luz de Cristo na nossa vida…
Na Páscoa quântica, que a “ponte” entre a escuridão e a luz, abra a porta a fotões da luz de Cristo na nossa vida…
A Ressurreição é muito mais do que um acontecimento. É um processo… Mais do que exterior – embora seja dádiva – importa a ressurreição que vem de dentro… Entendemos a maioria dos processos quando os tomamos por ontológicos. O mais crucial da fé cristã é que Jesus está a ressuscitar em nós…
“nada é grave” poderia ser um pulsar existencial, um mantra, um respirar interior. Em rigor, vivemos e vamos treinando essa atitude. No limite, poderemos, moribundos, morrer como vivemos, fruindo esse segredo e essa prática: “nada é grave”…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 24, 13-35
«pensando que era o jardineiro»
Um dos traços comuns das aparições de Jesus é o facto de Ele aparecer, muitas vezes, “disfarçado”. É o caso do diálogo travado com Maria Madalena. Ela julga estar a falar com um jardineiro e com ele desabafa o seu desalento e a sua preocupação. É questão teológica curiosa e complexa esta de um Deus que quase se esconde. Revelar, aliás, é ir tirando o véu… Traduzível na vida dos cristãos é a pergunta metafórica: quantos jardineiros se atravessam sem que os vejamos, anunciando a ressurreição?
Em tempos pascais de pandemia global e de desafio universal de maturação coletiva, brotante da fragilidade humana, seria uma boa síntese da esperança cristã e da ressurreição o seguinte lema: “cresceremos todos!”.
Há uma nobreza particular, nestes tempos de confinamento em pandemia, que importa sublinhar: sem nunca ter feito contas precisas, diria, em boa aproximação, que a probabilidade de uma pessoa jovem morrer em virtude do covid19 é inferior aquela de morrer igualmente, noutros tempos, atropelada ou em acidente de viação (e, então, arriscava sair-se à rua…). Ora, assim sendo, principalmente os jovens, fazem quarentena pelos seus avós (latus sensus). Bonita, humana e divina (se quisermos), esta alteridade pelos mais frágeis… Que nos anime a todos a resignificar esta clausura.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se At 2, 42-47
«viviam unidos e tinham tudo em comum»
As primeiras comunidades cristãs eram convidadas a uma vida de partilha e de unidade. Na verdade, esta era (este é!) o fruto da Páscoa… Ter em comum é tão libertador quanto difícil de concretizar. É impressionante constatar, a título de exemplo, o número de ‘corta-relvas’ que existem numa rua de casas com jardins, sendo que um só, partilhado, sobraria… O excesso de bens que possuímos, ainda por cima, em muitos casos, à custa de extorsões da natureza que, pelo menos indiretamente, afetam os mais pobres, são uma provocação adicional para esta Páscoa da partilha.
Sempre desejei ensaiar um “Pai Nosso” em versão responsabilizante. Seria uma oração incompleta, porque, a menos do “Nosso”, lhe falta maior grau de sublinhado do ‘nós’ e apresenta uma assumida desproporção da expressão “eu”. Mas seria assim:
Pai Nosso, que estás em mim.
Reconheça eu a Tua bondade existente.
Acolha eu os Teus critérios
em tudo aquilo que realizar, hoje e sempre.
Deixe-me eu perdoar pelo Teu perdão
assim inspirador para o perdão aos outros.
Saiba eu viver pleno na tentação
promovendo o Bem, que és Tu.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 28, 1-10
Não está aqui: ressuscitou
A Páscoa, mais confinada numa intimidade familiar ou mais pública, em comunidades maiores, é sempre a afirmação vivida de que a morte não vence. Nenhum contratempo, nenhum vírus, nenhuma contenção, nenhuma indefinição, serão a última palavra. O Evangelho poderia ter escrito, sobre a ida ao túmulo por parte das mulheres: “a morte não está aqui, ressuscitou…”
Páscoa é ponte, passagem. Da morte à vida. É a ponte do serviço, que só o é se for muito concreto. Em tempos, tentei ser concreto com sugestões para crianças, que fossem exemplos possíveis de ‘pontes de serviço’. Hoje reconheço que podem fazer sentido, também para mim:
1- Eu tinha o poder de me armar que tive boa nota no teste mas posso servir ajudando os colegas com mais dificuldades.
2- Eu tinha (e tenho) o poder de andar de carro porque os meus pais têm carros mas posso servir a natureza e andar mais a pé.
3- Eu tenho poder de gritar e dizer disparates e até ofender mas posso servir, escutando mais e dizendo coisas agradáveis aos outros…
4 Eu tenho o poder de gerir as minhas coisas e ficar com elas só para mim mas posso servir e emprestar ao irmão, ao vizinho, à amiga.
5- Etc.
Será honesto que qualquer um de nós, talvez tendo que se despir de heroísmos do tipo religioso ou outro, assumir o seu medo. Sentir medo, é pois, vital e humano. O que é evitável, porque dramático, é ter medo. Isto é, apropriar e apropriar-se do medo. Ficar com ele – o medo – retê-lo, congelar ali, refém e preso…