transhumanismo

Nas chamadas tendências  GRIN (Genetics, Robotics, Information Technology, Nanotechnology) espreitam dinâmicas de transhumanismo. “Complementos” tecnológicos já expandem e podem ampliar ainda mais as potencialidades humanas. Há aplicações indiscutivelmente interessantes, principalmente como próteses compensadoras de danos irreversíveis em acidentes. Mais discutíveis do ponto de vista ético são certas manipulações que “fintam” o envelhecimento, e onde a crucial pergunta “humaniza-nos?”, grita em fortes brados…

JP in Ciência Frases 30 Setembro, 2019

tempo e espaço

Mais do que estarmos no tempo e no espaço, somos tempo e espaço. Ontologia relevante, que tem as suas consequências: porque “sou” tempo e espaço, não me adianta sair, nem do tempo, nem do espaço… mesmo para tatear transcendências…

JP in Ciência Espiritualidade Frases 24 Setembro, 2019

eu e a química

Eu e a química

 

Interessa-nos

a coisa própria,

a matéria

ou a transformação?

E se ser,

a ontogenia

fosse

só um estado

estacionário

do nosso

interesse

dinâmico?

O que importa

é o que se move,

o que transforma,

e se transforma.

Eu, como tu

sou mais

do que

propriedades.

Somos mudança!

Parados no tempo…

nada valemos.

Sem crescer

nem somos ser…

Portanto,

eu e a química

temos identidade

pelo que criamos:

no universo

no mundo

à nossa volta

em nós

…dentro de nós…

 

in Paiva, J. C., Quase poesia quase química (2012) (e-book). Lisboa, Sociedade Portuguesa de Química.

acessível aqui (porventura enriquecido com uma ilustração)

JP in Poemas Química 20 Setembro, 2019

energia e ligações químicas

Mesmo para não químicos, “ler” o mundo com os olhos postos nas ligações químicas é, no mínimo, fascinante! O que se passa quando petróleo, gorduras ou as famosas moléculas de ATP estão envolvidos em processos muito energéticos? É que quando as moléculas que compõem estes materiais entram em combustão (reagindo com oxigénio) acontecem duas coisas muito relevantes: aumenta a dispersão molecular e formam-se ligações muito fortes, principalmente em moléculas de dióxido de carbono e água. Tudo tem a sua raiz ‘lá em baixo’, na química das coisas…

JP in Ciência Educação Frases Química 6 Setembro, 2019

desejos…

A palavra desejo tem uma etimologia muito curiosa: desiderare relaciona-se com alcançar as estrelas… Fixo-me em Galileu e no seu telescópio… O estudioso da ética deseja o bem, o teólogo deseja a razão das coisas de Deus e o artista deseja o belo. Assim, a ciência deseja compreender um tudo nada mais sobre o funcionamento da natureza…

JP in Ciência Espiritualidade Frases 28 Agosto, 2019

a Terra é um planeta poroso

Chandra Wickramasinghe afirma que há evidência crescente de que a vida na Terra teve origem fora do nosso planeta. Há uma atitude generalizada de resistência a esta hipótese, mas há́ também observações que a atestam cada vez mais: a astronomia continua a revelar a presença de moléculas orgânicas e de lixo orgânico numa escala cósmica imensa, correspondendo a um terço do carbono interestelar. Uma das hipóteses em cima da mesa é a de certas moléculas importantes na origem da vida terem chegado ao nosso planeta encapsuladas em “gaiolas moleculares” com propriedades parecidas com o famoso C60 (futeboleno). Estamos em procura mas há poucas dúvidas de que a Terra, ontem como hoje, é um planeta poroso no Universo…

JP in Ciência Frases Química 8 Agosto, 2019

o tic-tac de Plank…

10 -43 do segundo (sub-parte do tempo inimaginável na sua pequenez) é o “tic-tac” mais pequeno que existe. É o ‘tempo de Plank’. Especula-se se terá havido uma “flutuação de vazio quântico” na parte do tempo anterior ao que conseguimos alcançar no entendimento do big-bang. Mas tal vazio, a existir, é um vazio não ontológico… O “dedo de Deus”? Está aí e em todo o lado, mas não se crê que niguém creia por via da prova científica…

extraterrestres e criação divina

O São Francisco do futuro, além do irmão Sol, da irmã Lua ou da irmã morte, poderia falar do «irmão ET»…

 

J. C. Paiva, Extraterrestres e criação divina. Site PontoSJ. 20 de julho de 2018. Disponível em

 

 

 

Extraterrestres e criação divina

A NASA anunciou que foi descoberto no dia 14 de dezembro de 2017 um oitavo exoplaneta no sistema Kepler-90. É o conjunto de planetas mais parecido com o nosso Sistema Solar.

Há investigação científica séria, muito séria, que, de alguma forma, procura vida noutros planetas. O que se busca é a existência de corpos celestes com propriedades semelhantes às da Terra, isto e, com dimensões e distância ao seu Sol com algumas parecenças com este ‘grão de pó’ em que vivemos. É bom termos a noção da nossa pequenez: habitamos um minúsculo esferóide que anda à volta de um Sol. O nosso Sol é uma das cerca de cem mil milhões de estrelas que constituem a nossa galáxia. E no universo (neste universo…) existem cem milhões de galáxias, cada uma com as suas estrelas…

Nem ciência nem religião negam a possibilidade de vida inteligente noutros planetas e, portanto, a existência de extraterrestres (ET).

A ciência, porém, não conseguiu ainda prova de vida fora do planeta Terra. Não há prova científica de seres extraterrestres. Tentam encontrar-se sinais da vida tal qual a conhecemos, em planetas do sistema solar, mas os dados não são conclusivos. Sondas recolheram amostras na Lua e em planetas do nosso sistema, mas nenhum sinal de vida.

Giordano Bruno (1548-1600) pagou com a vida a defesa da tese de existência de outros planetas habitados. Uma tal hipótese parece colidir frontalmente com a concepção cristã do universo, ainda muito dependente do velho paradigma geocêntrico e antropocêntrico. Compreende-se claramente que algumas das crenças mais fundamentais do cristianismo — como o pecado original como fonte de todo o mal, a encarnação e morte de Cristo para «pagar» pela humanidade descendente de Adão e Eva a culpa desse pecado, e a salvação que a sua morte e ressurreição trouxeram à humanidade — parecem enquadrar-se mal num universo com outros seres inteligentes que nada tiveram a ver com o pecado original bíblico. Terá havido em todos os planetas habitados um pecado igualmente original? Terá a encarnação de Cristo tido um valor de salvação também para os habitantes desses planetas? Ou terá Cristo encarnado em cada um deles, assumindo em cada planeta a forma dos seus habitantes?

Para os cristãos, o Verbo de Deus veio a este mundo e habitou entre nós, isto é, na humanidade inteira. Mas os conhecimentos científicos contemporâneos não se centram necessariamente no nosso planeta. Recentes investigações em astronomia têm encontrado planetas distantes com aproximações à sua estrela semelhantes ao nosso. A probabilidade de existir vida além da Terra é enorme e pensar no assunto pode ser relevante.

O diretor do Observatório Astronómico do Vaticano disse: «Como há uma multidão de criaturas sobre a Terra, poderia haver outros seres, mesmo seres inteligentes, criados por Deus. Isso não contradiz a nossa fé, pois não podemos colocar limites à liberdade criadora de Deus.» O seu antecessor pronunciara-se no mesmo sentido, sublinhando a compatibilidade da fé com a existência de outras formas de vida distantes. O S. Francisco do futuro, além do irmão Sol, da irmã Lua ou da irmã morte, poderia falar do «irmão ET»…

Para os católicos, a ação redentora de Cristo atinge a dimensão do cosmos. Não está confinada ao planeta Terra. Por isso, o facto de haver seres inteligentes noutros planetas não põe em causa a atual doutrina da encarnação, nem da redenção. Se se verificar que eles existem, concluímos que foi também para eles que o acontecimento de Jesus Cristo se dirigiu.

A doutrina do pecado original também não sofrerá com a dita hipótese. O pecado original significa a inauguração do mau uso da liberdade que Deus deu ao ser inteligente, com a consequência do mal que a continuidade desse mau uso provoca na história. Se se descobrirem seres inteligentes noutros planetas, dotados de liberdade e com capacidade de a usar bem ou mal, a noção do pecado original, tal como a teologia a formula no momento presente, também se lhes aplica.

A probabilidade da existência de planetas semelhantes à nossa Terra é muito grande. Basta fazer umas contas… O que andamos a fazer (e de uma forma original, com a chamada ciência participada, em que qualquer cidadão pode colaborar com os cientistas) é tentar observar sinais dessa presumível evidência. Mas, na mesma proporção, a probabilidade de entrarmos em contacto com essas formas de vida é, para já, muito reduzida. Limitações espácio-temporais impedem-nos, com os dados e tecnologias que possuímos, de comunicar com entidades tão distantes. O Deus em que acreditamos, porém, supera-nos sempre. Será sempre o Deus Cósmico, nas palavras de Teilhard de Chardin, que ultrapassa a nossa cidade, o nosso país, o nosso continente, o nosso planeta, a nossa religião. O Deus Cristão supera tudo, só não supera o amor, porque Ele mesmo é amor.

 

JP in Ciência Espiritualidade 18 Julho, 2019

ironia ao natural

Ironia ao natural

 

É natural,

é bom

e quanto mais melhor,

como os cogumelos

vermelhos,

as rãs azuis

ou o suco de serpente…

É químico,

processado,

é mau,

como a

aspirina,

um perfume

ou o plástico

da válvula

cardíaca

de um coração…

in Paiva, J. C., Quase poesia quase química (2012) (e-book). Lisboa, Sociedade Portuguesa de Química.

acessível aqui (porventura enriquecido com uma ilustração)

JP in Ciência Poemas Química 28 Junho, 2019

Verdade, Ciência e Religião

A Ciência e a Religião partilham pelo menos uma abordagem ao (complexo) conceito de Verdade: ambas se alimentam do mistério que envolve essa mesma Verdade e sabem-na, intrinsecamente, inalcançável.

J. C. Paiva, Verdade, Ciência e Religião. Site PontoSJ (que se recomenda…). 2 de março de 2018.

https://pontosj.pt/opiniao/verdade-ciencia-religiao/

 

Verdade, Ciência e Religião

Sempre que falamos de ciência e religião teremos de ter em conta que as pontes a lançar não deverão violar a consciência de que, uma e outra, possuem diferentes metodologias. Será interessante colocar em diálogo o que é diferente e atender a uma certa artificialidade compartimentalista, que está subjacente à criação humana das várias disciplinas. Mas nunca pisando o risco de chamar igual ao que se distingue e muito menos usar a mesma malha metodológica para “pescar peixe” diferente. Por isto mesmo, a palavra-chave entre ciência e religião nunca é inferência. A palavra inferência, no seu sentido lógico, remete-nos para afirmações de verdade deduzidas a partir de outras proposições consideradas verdadeiras. Ora, é este o terreno pantanoso da relação entre ciência e religião, observável, por exemplo, na conhecida teoria do “design Inteligente”, que, a partir de algumas evidências científico-biológicas induz afirmações de caráter religioso e vice-versa.

Ao contrário das inferências, podemos, isso sim, com eventual vantagem pedagógica, usar algumas analogias. As analogias são fundamentais na comunicação e na compreensão de muitos processos e conceitos. Usamo-las, inúmeras vezes, sem nos apercebermos. O dinamismo das analogias pressupõe um conceito alvo (onde se quer chegar) e um conceito análogo (de onde se parte). Estabelecem-se então pontes e relações que podem ajudar a clarificar alguns assuntos. Convém referir que as analogias são sempre não perfeitas e, sem exceção, apresentam pontos frágeis.

A procura da Verdade (neste texto deliberadamente escrita em maiúscula) é um assunto mobilizador em toda a nossa história cultural e mantém-se como ponto de interesse na atualidade.

A grande maioria dos cientistas reconhecerá que, em certo sentido, procura a Verdade. Muitos pensadores dedicam-se a tentar conhecer melhor como se processa o próprio conhecimento científico. Para Karl Popper, por exemplo, será preferível dizer que o que procuramos ao fazer ciência é afastar-nos do erro, sendo que, quanto mais esse caminho é trilhado, mais assuntos existem por conhecer.

A Ciência e a Religião partilham, pelo menos, uma abordagem ao (complexo) conceito de Verdade: ambas se alimentam do mistério que envolve essa mesma Verdade e sabem-na, intrinsecamente, inalcançável.

O confronto com o conceito de Verdade leva-nos à encíclica de Bento XVI, Caritas in Veritate. Ali, podemos assumir, confunde-se a própria Verdade com o amor (versão porventura mais “fresca” da palavra caridade). Acontece, porém, que o amor é, ele próprio, indizível, porquanto é identificável com a transcendência, mais do que um seu atributo. Um apontamento para o amor seria tomá-lo como a fonte de uma explicitação radical: “tu podes ser tu diante de mim”. Este primado de aceitação do outro, sinalizado (encarnado?) na relação de Deus com os homens e, assim, entre eles mesmos, tem alguma analogia com a forma como a ciência lida, aceita e tenta desvendar a realidade natural.

Um apontamento de Verdade para os católicos seria a própria tradição. Também aqui há alguma analogia com a ciência, que se faz com “gigantes aos ombros de gigantes”. Estas são palavras de Newton. Com efeito, um cientista acrescenta à ciência sempre a partir do que outros disseram e descobriram e não empreende qualquer investigação sem a respetiva revisão de literatura. Neste sentido, a ciência também se funda na tradição. Há um conjunto de regras de comunicação e ações que são respeitadas pela comunidade científica e que permitem consensos e progressos notáveis. Dir-se-á que a ciência está, ao contrário da religião, sacudida de dogmas de partida. Mas essa colocação é duvidosa… Há pressupostos essenciais na empresa científica, sempre latentes ao longo da sua própria génese e história. Nomeadamente, há ciência porque: 1) entendemos que a realidade existe; 2) entendemos que é possível conhecer a realidade e 3) entendemos que é bom conhecer a realidade. Dogma maior, qual crença, seria o de que existe unicamente o que é materializado e que apenas os óculos da ciência conseguem ver lucidamente o mundo.

A tradição da Igreja, porém, não é um fim em si própria, nem, tão pouco, se lhe pode subtrair o dinamismo de linguagem e atualização. A tradição vale na medida exata em que não é defendida como um projeto enterrado mas antes como um tesouro vivo, redito e religado com a realidade…

Poderemos ainda envolver a questão das emoções e dos sentimentos, cruzada cada vez mais com as nossas próprias virtudes e limitações biológicas. O nosso cérebro tem, à partida, tantas potencialidades quanto constrangimentos: face a um objeto, capta certa realidade (tateia?) mas, imediatamente, fica aquém de um certo sentido de totalidade, que é próprio da Verdade.

A Verdade, isso parece inequívoco, não será monopólio da ciência (cientificismo) nem de ninguém. Andará em espaços de uma tensão incontornável do próprio sentido da vida humana, algures entre a imanência das coisas (realidade) e as entrelinhas do mistério (transcendência).