benção como chance
É rasgada a proposta de Elmar Salmann sobre a benção: ela mesma, dada e recebida, é a chance de viver um mistério amoroso.
É rasgada a proposta de Elmar Salmann sobre a benção: ela mesma, dada e recebida, é a chance de viver um mistério amoroso.
A mitologia grega apresenta a osmose entre os deuses e os homens, tangendo muitas vezes o rubicão da morte.
Viver como se a morte não existisse não me parece o caminho… vejo outra janela (espreito-a com as mãos): morrer por amor, desde já, nesta vida…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 25, 14-30
A parábola dos talentos é de uma riqueza enorme e pode ser lida de muitas formas. Fixemo-nos na personagem do “servo mau e preguiçoso”, que se aninhou sem dar fruto no seu único talento. Notemos que ele diz ao seu deus: Senhor, sempre te conheci como homem duro. Isto é, o que esteve na base da sua inércia e da sua ineficácia foi o medo do senhor. Uma má imagem de Deus, que passe ao lado da Sua abundante misericórdia, gera retração e falta de vida. A deixarmo-nos encantar por Deus, só vale a pena um Deus que perdoa, encoraja e ama. Assim confiados e descansados nesta promessa, veremos como Ele (em nós) frutifica tantos talentos.
Seria desejável, para crentes e não-crentes, que questões e saberes se cruzassem numa malha de ciência e religião. À religião importa ajudar a Humanidade a saber viver, enquanto à ciência importa saber explicar os fenómenos da natureza. Neste sentido, religião e ciência não competem, antes se complementam. Talvez possam ambas cooperar no objectivo maior de compreender o mundo e o sentido da existência humana.
Dar sentido à vida não é só conhecer e compreender com a razão o que se passa à nossa volta. A religião continua a ter sentido porque, para quem acredita, sem ela faltaria sentido a muita coisa. Este facto, porém, não invalida que, no passado e, infelizmente, ainda no presente, haja quem use Deus para tapar os buracos da ignorância, científica e não só. Deus, está visto, não se agarra deste modo e não é um “tapa-buracos”.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 25, 1-13
Portanto, estejam sempre atentos
Seguir (encontrar-me com o noivo), implica decisão (candeia) e compromisso alimentado (azeite). Alimentar uma candeia com azeite neste convite metafórico riquíssimo implica: trabalhar, persistir, ser fiel, acompanhar o processo. É importante ser perseverante nas empreitadas e propósitos pessoais, profissionais e apostólicos em detrimento de ser imprudente (candeia bonita mas sem azeite…). Seria interessante um confronto com os nossos rótulos de potencial conformista: “sou católico”; “vou à missa”; “sou consagrado”; “pertenço a estruturas da igreja e de movimentos”, “sou amigo de…”; “sou casado com”; “sou Pai…”; “sou professor” etc. Isto são candeias! E o azeite?… E o combustível da alimentação da chama? …
Há inspirações não bíblicas que são quase indispensáveis para a construção humanista. Sempre me impressionou o que Homero escreveu a propósito do marinheiro náufrago, que deu à costa face num reinado que cultivava a hospitalidade. O Rei ordenou: tratem-lhe as feridas, vistam-no, dêem-lhe de beber e de comer e, no final, perguntem-lhe de onde vem… A hospitalidade, de facto, é inimiga do preconceito…
Temos células e não somos biólogos celulares. Temos átomos e não somos todos químicos. Temos neurónios e não somos neurologistas… Temos é vida… no tempo e no espaço… mas não somos donos dessas realidades, estrondosas, fecundas e misteriosas…
Alfredo Dinis foi(é) um amigo. Padre jesuita, com quem partilhei aventuras literárias, humanas e cristãs. Escrevi, no dia da sua morte: