o que se ensina e como se ensina…

Há uma dualidade constante a exercer na vida docente: saber ensinar e saber o que se ensina. Do ponto de vista do professor, há que estar bem com as duas partes, embora sejam áreas intrinsecamente incompletas e em constante tensão evolutiva. Bases sólidas da ciência que se ensina são fundamentais, mas de que valerão conhecimentos profundos de uma certa matéria se não houver aptidões para criar o ambiente interessante para aprender?

JP in Educação Frases 2 Setembro, 2020

Por Vós suspiro, como terra árida, sequiosa, sem água

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Slm 62

Encontramos no Salmo uma imagem muito real de nós próprios:
“terra árida, sequiosa, sem água”. De facto o nosso coração tem uma sede eterna do eterno e esse desejo e essa carência que nos move, na fé e na vida. Quando as nossas apostas se dirigem ao provisório, ao precário, ao passageiro, a terra é regada mas logo seca com o Sol árido da própria vida. É a secura que se torna constante. Há que procurar, pois, para esta terra sedenta que somos, uma fonte, uma fonte de água viva. Para os cristãos, é Cristo esta nascente contínua, que nos rega a cada instante, que nos mata a secura, que nos torna carentes-desejantes-saciados, agora e para sempre.

JP in Espiritualidade 30 Agosto, 2020

grande dádiva

Deus não só arrisca em nós como, em certo sentido, se busca a si mesmo em nós…esta em nós… Eis a grande dádiva…

JP in Espiritualidade Frases 28 Agosto, 2020

Cobre

Cobre

 

Com sulfato

emparelhado,

em pedra

ou solução,

é belo de

azul

metal,

descrição.

Condutor

abraçado

isolante,

corrente

aqui

aparece

adiante.

Maleável,

valioso,

industrial,

abundante.

Ancestral

precioso

em moedas,

vibrante,

polido,

brilhante.

Não sei quem

é mais duro,

se sou eu

ou se és tu.

Gosto mais

do meu nome

pois teu

é feio

…é Cu…

in Paiva, J. C., Quase poesia quase química (2012) (e-book). Lisboa, Sociedade Portuguesa de Química.

acessível aqui (porventura enriquecido com uma ilustração)

 

JP in Ciência Poemas Química 26 Agosto, 2020

funciona…

Há vestígios na nossa vida que resultam de um natural e eficaz pragmatismo: fazemos ‘assim’… porque funciona. A empatia elementar, porém, deve sempre soar e até gritar o mantra de que “funcionar assim comigo não significa que funcione assim com o outro”…

JP in Frases 24 Agosto, 2020

Quem acham que Eu sou?

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 16, 13-20

Há uma pergunta muito central no cristianismo, que nos visita em espiral, sempre com aprofundamentos renovados: quem é Jesus, o Cristo, para mim? Embora a fé vivida na Igreja sublinhe o “nós necessário”, o caminho conjunto (a Igreja pode ajudar-me a que eu “me livre de mim mesmo”, concentricamente…), esta pergunta é muito pessoal e dinâmica. Para os cristãos, é uma pergunta que se vai fazendo e que vai tendo como respostas sucessivas a nossa própria vida (con)formada nessa mesma percepção (assim vivida) de Cristo em nós.

JP in Espiritualidade 22 Agosto, 2020

átomos “gulosos”

Por vezes, podemos arriscar alguma antropomorfismo da matéria para sermos mais claros (ainda que menos rigorosos, como às vezes nos impõe a didática…). Há um conceito importante em química que diz respeito à afinidade electrónica. Este conceito relaciona-se com a energia posta em jogo, quando um átomo recebe um electrão. Se muita energia se libertar nesse processo de captação eletrónica, então a afinidade electrónica (uma medida da tendência desse átomo para chamar a si electrões) é grande. Se, pelo contrário, pouca energia se libertar (ou, como por vezes acontece, se for preciso fornecer energia para o átomo «suportar» mais um electrão), então a afinidade electrónica é pequena. Também noutras palavras e contextos a palavra afinidade tem este significado: ter afinidade com alguém é gostar e querer esse alguém. Falar em «paixão» dos átomos para se ligarem, por exemplo, observando que uns têm mais apetência para se ligarem do que outros, para determinadas espécies químicas, pode ser esclarecedor. O conceito de electronegatividade, que se relaciona com a afinidade electrónica e diz respeito à tendência dos átomos para chamarem a si electrões na ligação química, pode ganhar, do ponto de vista pedagógico, com a palavra «guloso». O átomo de flúor é muito guloso de eletrões (tem grande electronegatividade… e grande afinidade electrónica) e, quando se liga com outro, como o hidrogénio, por exemplo, menos guloso, formando uma molécula de fluoreto de hidrogénio (HF), dá origem a uma molécula polar (com pólos). As cargas negativas (respeitantes aos electrões) estão mais tempo do lado do flúor, que é muito guloso de electrões, do que do hidrogénio, que é menos «guloso»… Como é interessante (e quase humanizante) a interpretação química da natureza…

JP in Ciência Química 20 Agosto, 2020

o amor é leve

Rezar é descansar em Deus, Aquele que é jugo suave e leve. Convém, quando fazemos esse ensaio de descanso, libertar aquilo que pesa, em nós, nos outros e no mundo. E se deus pesa, pondere-se se será Deus, pois Deus é apenas e só Amor. E o Amor é leve…

JP in Espiritualidade Frases 18 Agosto, 2020

Mulher, é grande a tua fé

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 15, 21-28

A mulher a quem Jesus dirige as palavras «é grande a tua fé: faça-
se como desejas», é uma mulher gentia, exterior ao povo judeu. Depois de insistir para que Jesus a visse e atendesse, ela vê confirmada a sua aposta no Mestre e é atendida pela Sua misericórdia. Se dúvidas houvesse sobre a porosidade dos que podem aceder a Jesus, este texto do Evangelho recoloca-nos na radical abertura. Fora da esfera formal e institucional da Igreja, como sabemos e vemos, há muita fé! Esta passagem pode ajudar-nos a abrir horizontes e vistas, reprimindo qualquer fundamentalismo religioso. É muito saudável perceber que pode haver salvação (fé, verdade, vida, felicidade, encontro…), fora da tradição de qualquer religião. Dito de outra forma: toda a fé, toda a verdade e toda a vida autêntica, com ou sem rótulo, coerente com o amor, é de Deus.

JP in Espiritualidade 16 Agosto, 2020

As razões da minha fé

 As razões da minha 

Às vezes penso que só creio porque não sei não crer.
De facto, para começar esta reflexão sobre “as razões da minha “,
devo assumir as minhas fragilidades e a minha carência. Daqui nasceu
(e nasce) uma procura inacabada.

Ter , acreditar, é apoiar-me num Deus que acolhe e dá sentido maior
à minha vida. Mas que Deus é este? Deus é também o indizível e há
limitações semânticas para o alcançar com palavras. As “razões da
minha ” (aspas deliberadas, porque são mais do que razões),
encontram-se na história e na minha história, no tempo que passa e no
futuro que saboreio por acreditar. Este futuro com sentido dá luz
maior ao meu presente. Viver acreditando, usando linguagem de uma
geração à frente da minha, é curtido à brava.

Acho que consigo mergulhar no passado e no meu passado, vasculhando
algumas das raízes do meu acreditar. Se a  e a vida se jogam no
tabuleiro da cabeça, do coração e das mãos, metáfora para as dimensões
racional, afectiva e de acção, no meu caso, foram as mãos que
“salvaram”. Por volta dos meus dezassete anos entrei em grande crise
existencial, com perguntas complexas sobre mim, sobre o mundo e sobre
as minhas relações com os outros e com o cosmos. Conversei com muitos,
comigo próprio, escrevi e procurei. Não alcancei pensando. Tive luz
particular quando um dia de manhã, meio desesperado na procura, decidi
aproximar-me de alguém excluído, dando-lhe a minha compreensão, o meu
tempo, as minhas mãos. Fixo esta experiência com a aproximação
possível a uma “definição” de Deus: Alguém que se revela no amor, na
relação. Deus é amor. Eu precisei de outros para saborear o sentido de
acreditar. Certo é que comecei a viver como se o amor fosse o filão de
tudo, o antes, o durante e o depois da minha história e da humanidade.
E a minha vida ganhou sabor, intensidade e coerência.

As referências inspiradoras para esta mudança foram-me dadas pela
Igreja, que me “falou” de Alguém que vivera cerca de dois mil anos a
esta parte, nascera numa manjedoura e marcara a história (com as suas
mãos), vivendo e propondo um estilo de vida simples, polarizado num
incondicional amor a um Deus-amor, que se manifesta paradoxalmente
numa vitória da vida sobre o sofrimento e a morte. Jesus Cristo teve
amigos que foram seus discípulos e depois apóstolos de uma Igreja que
tomou raízes no tempo e chegou pelo tempo até mim. Devo dizer que nem
sempre a Igreja me apresentou (ou eu não vi) uma imagem de Deus
positiva, coerente e possível. Mas no essencial fui conseguindo
apoiar-me nos aspectos mais urgentes da mensagem, redescobrindo
novidades e aproximando-me dos estilos e linguagens mais sintonizados
com a minha procura. Sem perder o sentido crítico, fui aderindo e
comprometendo-me com a Igreja de Jesus Cristo, neste tempo e neste
contexto cultural que sou. Acabava por ir sendo, vestido com os meus
limites, um vivente, um discípulo e um apóstolo de Jesus.  O
compromisso libertara-me. Mas há um jogo de risco no acreditar, que se
repete todos os dias. Digo a mim próprio, muitas vezes, que inventei e
invento um Deus que não consigo “agarrar”, vivo como se Ele existisse
e descubro, com as mãos, que o que eu invento, afinal, existe e sempre
lá esteve, pacientemente à espera, de “graça”…

Não se tendo alcançado a  pela razão, não significa isso, de forma
alguma, que a  seja irracional. A edificação do meu acreditar
centrou-se na vida e numa entrega essencialmente afectiva onde a
racionalidade, sempre presente, se deixou colocar ao serviço da causa
maior, apriorística e essencial do amor. Aí posso admitir uma
limitação em relação a outros amigos não crentes que, numa primeira
análise, poderão ter uma maior “liberdade” de pensamento (dou de
barato que, para alguns, estou viciado à partida): por necessidade,
por limitação, por carência, por experiência de sentido, deixei-me
embriagar pela convicção, pelo risco, pela ideia de existir um Deus de
amor que está antes, durante e depois de tudo. Viver assim é bom e eu
rendi-me!

Utilizo a razão e a inteligência para lubrificar as minhas buscas e
relações. Com todos os pensamentos “embrulho” sistemicamente o meu
coração e as minhas mãos no tempo que passa. Este Deus (de amor, como
preciso de insistir) é de gerúndio: vai-se revelando, sem nunca se
poder possuir. Há uma dinâmica de mistério, de incompletude. Deus é
“já” mas sempre “ainda não”. Mas este futuro por descobrir dá um sabor
interessante à minha liberdade.

Dilemas como a teodiceia (a equação de Espinosa e de tantos outros)
são desafios constantes à minha razão. Como entender um Deus
omnipotente e associado a amor, que, podendo poupar os homens, permite
o sofrimento e a morte, aparentemente errática e sem sentido. Talvez
não seja para entender mas para ir entendendo, ou talvez para ir
vivendo. Talvez Deus seja “omni-impotente”, expondo-se frágil e não
impondo-se poderoso. Talvez este dilema encerre como um tesouro o
melhor formato da nossa liberdade. Talvez outras coisas que posso
descobrir…

A Igreja, que sou eu e os outros e não só nem essencialmente uma
instituição, tem um potencial para ser fonte de Deus. Nem sempre o
foi, nem sempre o é. Mas Deus, convém dizê-lo em explicitação
ecuménica, é maior do que a Igreja. Tenho para mim muito claro, que na
suposição imagética da barca de Gil Vicente para entrar no paraíso,
ninguém me perguntará, para escolher o meu lugar na vida eterna, “a
quantas missinhas fui”. O Evangelho, aliás, já estabeleceu “as
perguntas”: tive fome e deste-me de comer, tive sede e deste-me de
beber… (Mt 25, 34-36). Esta pergunta, claro está, é para responder com
a vida do agora e do aqui. Os aperitivos do paraíso jogam-se desde já
e o “prémio” (como o nosso “inferno”) são deste tempo, naturalmente. O
que vem depois é a consequência natural das escolhas e das apostas do
nosso tempo presente…e sobre isso a misericórdia de Deus pode ter
universais e desconcertantes surpresas. Eu vou à missa porque acredito
e experimento que essa celebração da paixão de Jesus alimenta, em mim
e nos outros com quem comungo a , a “loucura” de viver o Evangelho.

O sonho de Deus é uma festa. Uma festa que se vai fazendo mas que está
por universalizar. Sinto (diz-se ser uma graça – dada gratuitamente)
que eu, como cada homem, somos feitos à imagem e semelhança de Deus.
Podemos tomar como nosso o Seu sonho de festa. A nossa missão é
encontrar sentido em ser pedras de uma construção comum, um mundo
melhor. Nunca ninguém fez boa festa sozinho. Por isto Deus não tem
mãos e as minhas, as tuas e as de todos, são as Suas mãos. É esta a
“razão” da minha !

Porto, Março’ 2010

JP in Espiritualidade Textos 14 Agosto, 2020