o amor é leve

Rezar é descansar em Deus, Aquele que é jugo suave e leve. Convém, quando fazemos esse ensaio de descanso, libertar aquilo que pesa, em nós, nos outros e no mundo. E se deus pesa, pondere-se se será Deus, pois Deus é apenas e só Amor. E o Amor é leve…

JP in Espiritualidade Frases 18 Agosto, 2020

Mulher, é grande a tua fé

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 15, 21-28

A mulher a quem Jesus dirige as palavras «é grande a tua fé: faça-
se como desejas», é uma mulher gentia, exterior ao povo judeu. Depois de insistir para que Jesus a visse e atendesse, ela vê confirmada a sua aposta no Mestre e é atendida pela Sua misericórdia. Se dúvidas houvesse sobre a porosidade dos que podem aceder a Jesus, este texto do Evangelho recoloca-nos na radical abertura. Fora da esfera formal e institucional da Igreja, como sabemos e vemos, há muita fé! Esta passagem pode ajudar-nos a abrir horizontes e vistas, reprimindo qualquer fundamentalismo religioso. É muito saudável perceber que pode haver salvação (fé, verdade, vida, felicidade, encontro…), fora da tradição de qualquer religião. Dito de outra forma: toda a fé, toda a verdade e toda a vida autêntica, com ou sem rótulo, coerente com o amor, é de Deus.

JP in Espiritualidade 16 Agosto, 2020

As razões da minha fé

 As razões da minha 

Às vezes penso que só creio porque não sei não crer.
De facto, para começar esta reflexão sobre “as razões da minha “,
devo assumir as minhas fragilidades e a minha carência. Daqui nasceu
(e nasce) uma procura inacabada.

Ter , acreditar, é apoiar-me num Deus que acolhe e dá sentido maior
à minha vida. Mas que Deus é este? Deus é também o indizível e há
limitações semânticas para o alcançar com palavras. As “razões da
minha ” (aspas deliberadas, porque são mais do que razões),
encontram-se na história e na minha história, no tempo que passa e no
futuro que saboreio por acreditar. Este futuro com sentido dá luz
maior ao meu presente. Viver acreditando, usando linguagem de uma
geração à frente da minha, é curtido à brava.

Acho que consigo mergulhar no passado e no meu passado, vasculhando
algumas das raízes do meu acreditar. Se a  e a vida se jogam no
tabuleiro da cabeça, do coração e das mãos, metáfora para as dimensões
racional, afectiva e de acção, no meu caso, foram as mãos que
“salvaram”. Por volta dos meus dezassete anos entrei em grande crise
existencial, com perguntas complexas sobre mim, sobre o mundo e sobre
as minhas relações com os outros e com o cosmos. Conversei com muitos,
comigo próprio, escrevi e procurei. Não alcancei pensando. Tive luz
particular quando um dia de manhã, meio desesperado na procura, decidi
aproximar-me de alguém excluído, dando-lhe a minha compreensão, o meu
tempo, as minhas mãos. Fixo esta experiência com a aproximação
possível a uma “definição” de Deus: Alguém que se revela no amor, na
relação. Deus é amor. Eu precisei de outros para saborear o sentido de
acreditar. Certo é que comecei a viver como se o amor fosse o filão de
tudo, o antes, o durante e o depois da minha história e da humanidade.
E a minha vida ganhou sabor, intensidade e coerência.

As referências inspiradoras para esta mudança foram-me dadas pela
Igreja, que me “falou” de Alguém que vivera cerca de dois mil anos a
esta parte, nascera numa manjedoura e marcara a história (com as suas
mãos), vivendo e propondo um estilo de vida simples, polarizado num
incondicional amor a um Deus-amor, que se manifesta paradoxalmente
numa vitória da vida sobre o sofrimento e a morte. Jesus Cristo teve
amigos que foram seus discípulos e depois apóstolos de uma Igreja que
tomou raízes no tempo e chegou pelo tempo até mim. Devo dizer que nem
sempre a Igreja me apresentou (ou eu não vi) uma imagem de Deus
positiva, coerente e possível. Mas no essencial fui conseguindo
apoiar-me nos aspectos mais urgentes da mensagem, redescobrindo
novidades e aproximando-me dos estilos e linguagens mais sintonizados
com a minha procura. Sem perder o sentido crítico, fui aderindo e
comprometendo-me com a Igreja de Jesus Cristo, neste tempo e neste
contexto cultural que sou. Acabava por ir sendo, vestido com os meus
limites, um vivente, um discípulo e um apóstolo de Jesus.  O
compromisso libertara-me. Mas há um jogo de risco no acreditar, que se
repete todos os dias. Digo a mim próprio, muitas vezes, que inventei e
invento um Deus que não consigo “agarrar”, vivo como se Ele existisse
e descubro, com as mãos, que o que eu invento, afinal, existe e sempre
lá esteve, pacientemente à espera, de “graça”…

Não se tendo alcançado a  pela razão, não significa isso, de forma
alguma, que a  seja irracional. A edificação do meu acreditar
centrou-se na vida e numa entrega essencialmente afectiva onde a
racionalidade, sempre presente, se deixou colocar ao serviço da causa
maior, apriorística e essencial do amor. Aí posso admitir uma
limitação em relação a outros amigos não crentes que, numa primeira
análise, poderão ter uma maior “liberdade” de pensamento (dou de
barato que, para alguns, estou viciado à partida): por necessidade,
por limitação, por carência, por experiência de sentido, deixei-me
embriagar pela convicção, pelo risco, pela ideia de existir um Deus de
amor que está antes, durante e depois de tudo. Viver assim é bom e eu
rendi-me!

Utilizo a razão e a inteligência para lubrificar as minhas buscas e
relações. Com todos os pensamentos “embrulho” sistemicamente o meu
coração e as minhas mãos no tempo que passa. Este Deus (de amor, como
preciso de insistir) é de gerúndio: vai-se revelando, sem nunca se
poder possuir. Há uma dinâmica de mistério, de incompletude. Deus é
“já” mas sempre “ainda não”. Mas este futuro por descobrir dá um sabor
interessante à minha liberdade.

Dilemas como a teodiceia (a equação de Espinosa e de tantos outros)
são desafios constantes à minha razão. Como entender um Deus
omnipotente e associado a amor, que, podendo poupar os homens, permite
o sofrimento e a morte, aparentemente errática e sem sentido. Talvez
não seja para entender mas para ir entendendo, ou talvez para ir
vivendo. Talvez Deus seja “omni-impotente”, expondo-se frágil e não
impondo-se poderoso. Talvez este dilema encerre como um tesouro o
melhor formato da nossa liberdade. Talvez outras coisas que posso
descobrir…

A Igreja, que sou eu e os outros e não só nem essencialmente uma
instituição, tem um potencial para ser fonte de Deus. Nem sempre o
foi, nem sempre o é. Mas Deus, convém dizê-lo em explicitação
ecuménica, é maior do que a Igreja. Tenho para mim muito claro, que na
suposição imagética da barca de Gil Vicente para entrar no paraíso,
ninguém me perguntará, para escolher o meu lugar na vida eterna, “a
quantas missinhas fui”. O Evangelho, aliás, já estabeleceu “as
perguntas”: tive fome e deste-me de comer, tive sede e deste-me de
beber… (Mt 25, 34-36). Esta pergunta, claro está, é para responder com
a vida do agora e do aqui. Os aperitivos do paraíso jogam-se desde já
e o “prémio” (como o nosso “inferno”) são deste tempo, naturalmente. O
que vem depois é a consequência natural das escolhas e das apostas do
nosso tempo presente…e sobre isso a misericórdia de Deus pode ter
universais e desconcertantes surpresas. Eu vou à missa porque acredito
e experimento que essa celebração da paixão de Jesus alimenta, em mim
e nos outros com quem comungo a , a “loucura” de viver o Evangelho.

O sonho de Deus é uma festa. Uma festa que se vai fazendo mas que está
por universalizar. Sinto (diz-se ser uma graça – dada gratuitamente)
que eu, como cada homem, somos feitos à imagem e semelhança de Deus.
Podemos tomar como nosso o Seu sonho de festa. A nossa missão é
encontrar sentido em ser pedras de uma construção comum, um mundo
melhor. Nunca ninguém fez boa festa sozinho. Por isto Deus não tem
mãos e as minhas, as tuas e as de todos, são as Suas mãos. É esta a
“razão” da minha !

Porto, Março’ 2010

JP in Espiritualidade Textos 14 Agosto, 2020

rezar é difícil…

Rezar é difícil…

Queremos e cremos uma oração centrada em Deus.

É precioso, este tempo que Lhe damos.

É uma fonte de calma e de encontro…

É já bom tomar consciência deste tempo que passa

…e em que queremos estar mais de perto com Deus…

difícil… mas possível, como a vida…

JP in Espiritualidade Frases 12 Agosto, 2020

razão, fé e vida

Os argumentos e o raciocínio, são ingredientes fundamentais à sustentabilidade existencial e à crença ou não-crença no transcendente. No que concerne a fé, porém, é bom sublinhar que é difícil «chegar a Deus apenas com a cabeça». Acreditar na existência de Deus nunca é um dado adquirido, mas um processo dinâmico. Importante é viver como crente e confiar, como uma criança ao colo da sua mãe, que mais do que questionar a sua existência «goza» o seu afecto.

Usar em relação a si próprio e aos outros a racionalidade é um caminho útil para o cristão. Mas se a fé é uma procura para viver, será a vida a fornecer a maior luz. Neste sentido, a contemplação do mar, a amizade, uma criança, uma festa ou até uma contrariedade, um jogo ou lavar a louça, são experiências que, vividas com intensidade e entrega, poderão ser valiosas para um crente se deixar tocar pelo Deus de amor que nos está a criar.

JP in Espiritualidade Frases 10 Agosto, 2020

Coragem! Sou eu. Não tenham medo!

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 14, 22-33

A passagem do Evangelho em que Jesus caminha sobre as águas é, antes de mais, uma convocatória para reconhecer a possibilidade de um Deus-amor que caminha sempre com cada um, mesmo quando as águas da vida estão agitadas. Há uma conhecida tensão entre a fisicalidade eventual dos relatos evangélicos e a projeção simbólica que lhes podemos dar. No presente caso torna-se secundário ou mesmo insignificante a fixação na realidade da cena: importa, e muito, que este ‘surfar’ de Cristo nas ondas da vida de todos nós pode ser uma viagem não só dinâmica, mas de medo amparado e, além de tudo mais, com um sentido…

JP in Espiritualidade 8 Agosto, 2020

moral sexual e consciência

Era interessante robustecer os cristãos com ferramentas que permitissem um discernimento sério e profundo para um verdadeiro desenvolvimento da sua consciência pessoal, mais do que ditar prescrições rígidas mais ou menos infantilizantes. Estas cartilhas, em muitos casos, não ajudam mas antes bloqueiam o acesso das pessoas à melhor felicidade, reduto último da religião. Os assuntos de sexualidade, incluindo o uso do preservativo, são muitas vezes discutidos numa ridícula estrada de «sim ou não», que não corresponde a uma colocação séria do problema. A questão da consciência pessoal (e/ou diante de Deus, para os crentes) parece ser o elo mais crucial mas o menos abordado em muitos discernimentos, nomeadamente os que se prendem com as questões da sexualidade. Para formar esta consciência, porém, a religião terá de trabalhar mais e melhor a sua catequese. A «gestão» da nossa sexualidade é assunto tão fascinante quanto complexo e muitos cristãos estão suspensos ou mesmo «entalados» entre propostas moralistas, cujo verdadeiro significado não entendem, e uma proposta facilitista, que se joga na contemporaniedade e que entra pela televisão e por outros média. Ao ser menos prescritiva em algumas questões de moral e tentar formar a consciência global e profunda dos crentes, a Igreja poderia arriscar outro caminho, igualmente exigente mas ‘de dentro para fora’, escolhido e assumido por cada um. Esta postura baseia-se numa antropologia mais «confiante» no homem. Por vezes, parece haver medo da «desregração», mas, assim como nas famílias educar não é controlar, a moral católica poderia ser menos retalhada e mais baseada em princípios gerais de fraternidade, respeito por si próprio, pelos outros e pela vida. Seria o desfecho de consciência pessoal, sempre confrontável com acompanhamento espiritual, que determinaria a liberdade no amor de cada homem e mulher. Intui-se até que, se fosse bem construída esta formação, capaz de ler e integrar o património de cultura, fé, psicologia e sociologia que forma a consciência, as escolhas dos cristãos seriam mais interiorizadas. Não se trata de “baixar a fasquia”, mas de a propor num caminho ancorado internamente, em vez de o impor moralisticamente…

JP in Educação Espiritualidade 6 Agosto, 2020

luta e interioridade

A nossa vida interior tem algo de luta. Se assim for, a oração é um convite a pousar as preocupações, como o guerreiro pousa o arco e a flecha… e se rende…

JP in Espiritualidade Frases 4 Agosto, 2020

O Senhor é clemente e compassivo, paciente e cheio de bondade

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Slm 144

O salmo 144 caracteriza de forma muito bonita o indizível que é Deus: um Deus clemente e compassivo, paciente e cheio de bondade. Um Deus paciente que nos convida a recomeçar, que nos dá a mão direita e que contraria a nossa tendência autodestrutiva face aos nossos desvios (às vezes sinistros). O nosso Deus não se impõe mas antes nos convoca para O coadjuvarmos na história. Por isso somos convidados, hoje, homens e mulheres a ser também nós pacientes e cheios de bondade para com todos os outros.

JP in Espiritualidade 2 Agosto, 2020

mulheres do nosso tempo

Escrevi a uma amiga, mulher deste século, com uma provocação: Cara professora-mãe-esposa-sensual-gestora de casa-cidadã-não-super-mulher…”

JP in Frases 30 Julho, 2020