o que posso ser
Se eu me deixasse ser aquilo que posso ser, mais do que aquilo que deveria ser, seria melhor o meu ser…
Se eu me deixasse ser aquilo que posso ser, mais do que aquilo que deveria ser, seria melhor o meu ser…
Pó
Esmagado pelo pó.
Garganta entupida
do pó que sou.
Pó de amanhã…
Ser pó, ser pouco
me empurra
para um sentido novo
de formas mais sólidas.
Gostava, nesta manhã
de caminhar
sem medo,
nem do meu pó
…de hoje,
nem do meu pó
…de amanhã.
2010
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Slm 121, 1-5
«Alegrei-me quando me disseram: vamos para a casa do Senhor»
O salmo 121 é frequentemente cantado na entrada das celebrações litúrgicas. Nada melhor, quando nos preparamos para a festa no templo de Deus, do que enfatizarmos a alegria que sentimos por esse facto. Um primeiro desafio de confronto com este salmo, para os católicos romanos, seria perguntarmo-nos se as nossas celebrações são e espelham tal alegria… Mas a dimensão da eucaristia, como sabemos, ultrapassa a componente celebrativa. Há que viver a missa “fora da missa”, quando nos oferecemos para ser alimento de amor para os outros. Assim, alegramo-nos quando entramos noutras casas do Senhor: na nossa casa, na casa da vizinha, na casa do café, na casa da escola, na casa dos amigos, na casa do estádio de futebol, na casa do hospital e até, pela graça de Deus, na casa do cemitério… Esta é a ‘missa de todos os dias’ que desejamos.
L1: 2 Sam 5, 1-3; Sal 121 (122), 1-2. 3-4a. 4b-5
L2: Col 1, 12-20
Ev: Lc 23, 35-43
Há uma afirmação compreensível e universal, que pode ser auto-acolhida e autovalidada: “tenho medo de morrer!”. Esta frase, porém, é radicalmente insuficiente…
De todas as disposições que são inspiradoras nos aniversários tenderia a escolher esta: tenho a idade que tenho de ter…
É bom fazer por não sofrer a dor do outro num sentido que reduza a zero a distância crítica. A compaixão move mas não seremos chamados a carregar a cruz do outro, a “cobri-lo”, a nos deixarmos tomar por essa dor… Posso acompanhar alguém que sofre e francamente ajudar. Mas a cruz do outro é sagradamente do outro e a minha convocatória não é para a carregar por ele, é para, sendo oportuno e viável, dar contributos para que ele a carregue, para que sinta e esteja acompanhado na sua jornada de luta…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 21, 5-19
“Tende presente em vossos corações que não deveis preparar a vossa defesa”
O Evangelho de Lucas que escutamos contém certas recomendações, quotidianas e escatológicas. Na sua pior interpretação, podem ser lidas como ameaças, com algum potencial de amedontramento… Há ainda um enviesamento hermenêutico que conviria evitar: a ideia de um Deus mágico que resolve e ‘cobre’ o que fizermos e o que não fizermos. Pelo contrário, o traço da proposta Cristã é o de contar com a humanidade, livremente mandatada, para a construção do sonho de Deus. Na fé, podemos contar com a confiança de um Deus presente e, por isso, não sermos defensivos na nossa ação e na nossa existência. Para alguns de nós, enquanto Igreja, podemos ter neste texto um espelho crítico sobre as estratégias excessivamente identitárias e defensivas. As trincheiras, a bem dizer, não são a nossa guerra…
L1: Mal 3, 19-20a; Sal 97 (98), 5-6. 7-8. 9
L2: 2 Tes 3, 7-12
Ev: Lc 21, 5-19
O Deus em quem os cristãos acreditam e confiam e a quem, por isso, dão crédito, pode valer a pena. Os crentes não sabem explicar muito sobre o que a Ele se refere, mas o pouco que sabem é suficiente para fundamentar a sua fé. Mais do que saber explicar, procuram saber viver de acordo com os valores cristãos. Deus tem mais a ver com a sabedoria do que com o saber. Acreditar em Deus relacional, pessoal e comunitariamente, na Igreja Católica (também noutras denominações, com toda a certeza), dá aos cristãos paz e sentido para a vida. Por isso mesmo, dão crédito a Deus e à Igreja, apesar da inalcancibilidade total do primeiro e das fragilidades da segunda… O fundamento desta crença é, pois, simultaneamente, racional e relacional.
Há Deus nos céus, além das estrelas e no palco bíblico da Terra, que Galileu descentrou. Castelos e sopros de éden, que Darwin evolucionou. Um Universo imenso: o da vida, onde se rasga Deus e os Homens, e o da Palavra (nem óbvia, nem literal) onde a transcendência se propõe…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 20, 27-38
«Não é um Deus de mortos, mas de vivos»
Os sadoceus colocam a Jesus uma pergunta deveras difícil: qual dos sete irmãos que casaram sucessivamente com a mesma mulher a irá “possuir” depois de morrer. A lógica e a aritmética dos sadoceus tem todo o sentido e é um bom ingrediente para justificar o seu cepticismo quanto à Ressurreição. Jesus apresenta-nos uma ideia diferente, que aponta para uma outra lógica e para um outro quadro de referência depois da morte. Nenhum de nós sabe o que se passará mas acreditamos que esta nova vida que nos espera terá a ver com o Amor, que é o próprio Deus. Podemos experimentar um aperitivo desse encontro, entre-tanto re-velado: já nesta vida, quando estamos a ser construtores do sonho de Deus, em relação com todos os seres humanos e com a natureza. Um “Deus dos vivos”, portanto…
NOTA: Este texto é repetido/ajustado a partir de evento já publicado neste blog anteriormente.
L1: 2 Mac 7, 1-2. 9-14; Sal 16 (17), 1. 5-6. 8b e 15
L2: 2 Tes 2, 16 – 3, 5
Ev: Lc 20, 27-38 ou Lc 20, 27. 34-38