ciência: how e não why…

A ciência, convém referir, autoafirma-se, também, com a clarificação dos seus limites. Mais focada na funcionalidade do mundo como objeto, a ciência responde a questões do tipo how e não do tipo why

JP in Ciência 16 Junho, 2022

dificuldade e caminho…

A ideia de que a vida é fácil, muitas vezes vertida em teorias e práticas educativas, é de sacudir. Claro que também não ajuda o avesso pessimista, de que a vida é só e principalmente negro. Inspira a máxima de Simone Weil: “não é o caminho que é difícil, é o difícil que é caminho”…

JP in Educação Espiritualidade Frases 14 Junho, 2022

Ele vos guiará para a verdade plena

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Jo 16, 12-15

«Ele vos guiará para a verdade plena»

Temos no Evangelho de hoje uma alusão à Santíssima Trindade: ” Tudo o que o Pai tem é Meu”, diz Jesus, ao mesmo tempo que refere que o “Espírito Santo nos falará de Si próprio”, deste amor inteiro entre o Pai e o Filho. Entre outras imagens ricas do Espírito Santo, como a pomba da paz ou a água do Baptismo, temos este “qualquer coisa” que transporta um amor imenso, como o que existe entre o Pai e o Seu Filho. Se falta amor em alguma das nossas relações, ouçamos o Espírito Santo que nos convida a um coração que se doa e que recebe, como acontece entre Jesus e o Seu Pai. Convém notar que a simbologia entre Pai e filho é a possível face à indizibilidade da relação plena de Deus, mas é sempre intrinsecamente incompleta e imperfeita, já que os pais e filhos que somos ou conhecemos, podendo amar-se, (ainda) não amam como Deus ama, com tão radical gratuitidade e risco amoroso…

NOTA: Este texto é repetido/ajustado a partir de evento já publicado neste blog anteriormente.

DOMINGO XI DO TEMPO COMUM

SANTÍSSIMA TRINDADE


L1: Prov 8, 22-31; Sal 8, 4-5. 6-7. 8-9
L2: Rom 5, 1-5
Ev: Jo 16, 12-15

JP in Sem categoria 12 Junho, 2022

Ciência para a frente e religião para trás…

Há um equívoco segundo o qual à medida que a ciência avança a religião recua. Tem razão de ser, embora como equívoco… Com o Renascimento e o desenvolvimento rápido das ciências físicas e matemáticas e de muitos instrumentos de observação, especialmente o telescópio, o conhecimento empírico ganhou crescente autonomia em relação à filosofia e à teologia. Galileu não teve apenas problemas com os teólogos, mas também com os filósofos. Os problemas que a filosofia aristotélica enfrentava com a nova scientia estão bem ilustrados na obra de Galileu “Diálogo sobre os dois grandes sistemas do mundo”. Dada a estreita relação que se tinha estabelecido entre a filosofia aristotélica e a mundivisão cristã, era natural que os problemas da primeira arrastassem na sua queda a segunda. Foi a partir daqui que se estabeleceu o equívoco do recuo da religião com o avanço da ciência…

Ora, o que aconteceu desde o Renascimento não tem sido o recuo da religião provocado pelo avanço da ciência, mas sim um progressivo esclarecimento, que ainda hoje continua, da natureza da religião e da natureza da ciência. A religião não tem que ser para os crentes a fonte do conhecimento dos fenómenos naturais, do modo como funcionam as leis da natureza. Tal tarefa pertence à ciência. Por outro lado, a ideia de uma ciência que prometia um conhecimento objectivo e definitivo do universo e da vida deu lugar a uma concepção de ciência em que muito do que parecia definitivo se revela provisório. Apesar das pontes, possíveis e desejáveis, a autonomia de cada uma das áreas só pode ser benéfica, tanto para a ciência como para a religião, no sentido de levar a que se esclareça cada vez mais a natureza de cada uma delas.

JP in Espiritualidade Frases 10 Junho, 2022

ser religioso e justiça

Na explicitação da minha fé, também e porventura principalmente por certos pontos fracos meus, tenho vindo a acrescentar um devir de lutar pela justiça. O motivo maior é que sentiria como curta a minha aspiração à plena liberdade num sentido pessoal. A promoção da justiça empurra-me para o nós e torna estéril, senão mesmo impossível, a ideia de uma “salvação” pessoal… Talvez, também por isto, me inscreva como uma pessoa, além do crente, religiosa.

JP in Espiritualidade 8 Junho, 2022

preces…

A prece é uma triangulação: eu (ou nós), a realidade e Deus… mas um Deus nem marioneteiro, nem manipulável, nem surdo…

JP in Espiritualidade Frases 6 Junho, 2022

Enviai, Senhor, o vosso Espírito e renovai a face da terra

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Slm 103

«Enviai, Senhor, o vosso Espírito e renovai a face da terra»

Há no salmo que hoje rezamos liturgicamente um rasgo interessante no judaico-cristianismo: trata-se duma cumplicidade entre o Espírito e a terra, entre o transcendente e o imanente. Uma fusão entre o real e o sagrado. “Esticando a corda” da inspiração, com intenção deliberadamente catequética, potencialmente ajustadora de religiosidades muito etéreas, de misticismo duvidoso e desligadas da vida, seria bom colocarmo-nos na senda de escutantes do Espírito Santo que, claramente, fala na e pela realidade. Dentro e fora do fenómeno religioso, vou ficando com a ideia de que se apostam em simbolismos mais ou menos mágicos, desligados do que somos. Pelo contrário, o sopro dá-se na matéria e os sinais da sede do Espírito topam-se numa terra que comunica… Bom domingo de Pentecostes!

NOTA: Este texto é repetido/ajustado a partir de evento já publicado neste blog anteriormente.

DOMINGO DE PENTECOSTES


L1: At 2, 1-11; Sal 103 (104), 1ab e 24ac. 29bc-30. 31 e 34
L2: 1 Cor 12, 3b-7. 12-13 ou (própria do Ano C): Rom 8, 8-17
Ev: Jo 20, 19-23 ou Jo 14, 15-16. 23a-26

JP in Sem categoria 4 Junho, 2022

professor sabichão / professor fixe

O professor de Química que saiba só química não irá longe… Imagine-se um aluno do ensino básico, seja o João. O João não percebe uma dada geometria molecular. O professor sabe muito de geometria molecular, tem modelos sofisticados e estratégias encantadoras. Mas onde irá o professor se for indiferente ao facto de, ontem, o pai do João, alcoolizado, ter batido na mãe? De que servirá a sua sabedoria química sem a apreensão social e, principalmente, sem a criatividade sensível de uma aproximação ao aluno, talvez privada, expressa, porventura, na mágica expressão: «Como te posso ajudar?»… Está claro também que, do outro lado, caricaturalmente, está o (pseudo) professor de Química, que, dominando o mundo da psicologia ou da sociologia, com elegante aproximação afetiva, não sabe da ciência que está a ensinar, não se prepara e não se forma continuamente, sendo, tão só, um professor «fixe»…

JP in Educação 2 Junho, 2022

Hoje, como sempre, quem canta o salmo sou eu…

Paiva, J. C. (2022). Hoje, como sempre, quem canta o salmo sou eu…Site Ponto SJ, 22-04-2022.

Disponível aqui

– “Hoje, como sempre, quem canta o salmo sou eu”.
– “Esse é o meu lugar na missa”.
– “Tanta coisa que eu dei a este grupo de catequese… e agora fazem-me isto”.
– “Se há pessoa que merece ir a este curso de formação, depois de tantos anos de empenho, sou eu”.
– “Preparei com tanta dedicação esta oração, e acabaram por meter tudo no lixo.”
– “Tantos anos a trabalhar nesta paróquia, para levar agora um ‘chuto’.”
– “Sempre quis pertencer a este grupo… e hei-de conseguir!”
– “Os cânticos são comigo!”.
– “Escolhem sempre os mesmos (nunca a mim…)”.
– “Fiz tanta formação e não me aproveitam”.
– “Uma vida dada a esta congregação, para me colocarem agora numa prateleira…”
– “Paguei tanto para esta obra e agora não tenho direito a nada”.
– Etc, etc.

Sem comentários, para lançamento de conversa, temos, acima, expressões que podemos ouvir em paróquias, grupos de reflexão Cristã, Movimentos e carismas, bastidores religiosos, congregações religiosas e comunidades.

Todas estas expressões, algures entre a imaginação e a criatividade, projetam um forte entrançado psico-socio-religioso de comparação, procura de reconhecimento, mérito, prémio, vitimismo, falta de autoestima e protagonismo. Os bastidores destas frases, sem exceção, inclinam-se mais para o privilégio e para a cobrança, do que para a gratuitidade e para a consciência do dom. Projetam também, claramente, algo que nos une a todos: fragilidade, sede, busca de sentido e procura de um lugar.

A Igreja é, definitivamente, uma casa para todos. Novos e velhos, bons e maus cantores, gente mais e menos culta. E falo de pessoas com variada relação, quer com a cultura das academias, quer com a (agri)cultura da natureza e da vida. O que nos une a todos é uma esperança e uma carência comuns, que converge num sentido de esperança vivida de forma comunitária, tendo o Evangelho como referência. Todos temos lugar. Acontece que Cristo – Presente na fé e inspirador – nos remete para uma tensão de (auto)descentramento constante. E, por Ele, com Ele e n’Ele, estamos não só autorizados, mas incentivados, a mexer as águas. Respeitar demasiado (entenda-se…) as posições/vontades/desejos/sonhos de cada um parece-me, cada vez mais, pouco cristão.

O equívoco central desta problemática é uma bomba explosiva de mérito e procura de reconhecimento. Quando se entende que “se merece” seja o que for, em dinamismo apostólico, está o caldo entornado. Pelo contrário, a colocação de dádiva desinteressada deveria ser o filtro da porta da entrada em qualquer protagonismo de estrutura eclesial.  Cada um propõe ou propõe-se, e a circunstância é mesmo essa: uma proposta. Só é genuína proposta se for desapegada, livre, desautocentrada, pronta, portanto, a ser aproveitada ou não. Quem se impõe, ou impõe, mesmo que subtilmente, não tem lugar na comunidade dos cristãos. Cristo é modelo de perfil proponente, numa fidelidade de desapego que sacode livremente o pó das sandálias.

É evidente que este processo de filtro purificante de intenções é um exercício complexo e moroso para todos nós, a pedir trabalho pessoal, comunitário e, sobretudo, criatividade comunicacional. Mas, esse é o ponto central desta despretensiosa reflexão, pede frontalidade e verdade. Os adultos não se devem infantilizar e os monstros não se devem alimentar. Em algumas personalidades que circulam nos corredores atuantes da Igreja, há perfis muito autocentrados e, em muitos casos, quase narcísicos. Tolerar eucaliptos que chamam a si toda a humidade da terra, é secar os campos e comprometer outras fecundidades. Dinamizar cristãmente não é ser bonzinho, mas tatear a esperança na realidade, como ela é.

Há casos particulares que merecem atuações particulares. Por exemplo, com crianças, tem sentido dar lugar a todos para lá dos seus talentos performativos. Mas para adultos (ou adultos em trânsito, como todos somos) há que ir desbravando novos e assertivos caminhos. Nos espaços de assumido terreno celebrativo ou apostólico, em particular, quem está, terá que estar desapegado, pronto a, se preciso for, não ter qualquer papel especial, precisamente porque somos todos especiais e estar e pertencer é o único eventual direito que podemos ter.

Nestes cenários não há bons nem maus. Somos todos débeis caminhantes e, quando distraídos, todos procuramos reconhecimento, muitas vezes embrulhados no feliz estrangeirismo de fishing for compliments: lança-se a isca para sacar reverências. E no final dos eventos, mais do que avaliar frutos, fazemos por colher louros. Poderá ajudar-nos a todos, no acerto da desumbilicalidade, dizer a nós mesmos, este paradoxo: “és profundamente amado aos olhos de Deus mas não tens de ser assim tão importante aos olhos dos outros”. Cada um fará por escutar as suas próprias moções e fazer o seu trajeto de descentramento. Mas no trabalho comum e nas procuras cénicas e performantivas de cariz apostólico, deixar andar não é caminho…

A parrésia, de que tem falado o Papa Francisco e que tanto inspira o atual movimento sinodal, convoca a humildade (contacto com o húmus, com a realidade…), a liberdade de expressão, a escuta e a assertividade. Quem tem lideranças apostólicas (espaço que cada mais, creio, deveria ser ampliado a todos os batizados, sem exclusividade de ordenados), poderá perguntar-se se não é demasiadamente passivo face às enquistações crónicas nas organizações cristãs. Expressões como aquelas com que se iniciou esta reflexão, nos fóruns próprios e nos modos adequados, não poderão ficar sem feedback e não poderão servir jamais para, com a boa desculpa de não ferir, deixar tudo na mesma. Julgando respeitar as várias sensibilidades e personalidades (ou enquistamentos e monopólios?) poderá estar a contribuir-se para um comprometedor status quo, que não é bom nem para os instalados, nem para os candidatos ao caminho…

JP in Sem categoria 30 Maio, 2022

Fortaleza da minha salvação

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Slm 46

Fortaleza da minha salvação

No salmo que hoje se reza ressalta Deus como “fortaleza da minha salvação”. Saboreie-se um Deus que torna forte a nossa fraqueza e que nos salva, que dá sentido à nossa vida e que vai além das nossas angústias. No evangelho são notadas muitas curas – pontuais e insuficientes (até porque os curados não deixarão de morrer…). Mas com mais relevância, Jesus salva, abre portas, dá sentido de ressurreição. Podemos agradecer – em dinamismo de fé – Ele ser nosso refúgio e, também por isso, pedir-Lhe a graça de, no tempo da nossa vida, sermos nós também eventuais refúgios e sinais de salvação para as pessoas com quem nos relacionamos. Sermos tónicos…

NOTA: Este texto é repetido/ajustado a partir de evento já publicado neste blog anteriormente.

DOMINGO VII DA PÁSCOA


L1: At 1, 1-11; Sal 46 (47), 2-3. 6-7. 8-9
L2: Ef 1, 17-23 ou Hebr 9, 24-28; 10, 19-23
Ev: Lc 24, 46-53

JP in Sem categoria 28 Maio, 2022