amai os vossos inimigos

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 6, 27-38

«amai os vossos inimigos»

Poucos duvidam que a leitura da passagem de Lucas 6, congrega a mais difícil (mas também a mais original) “empreitada cristã”: a centralidade do perdão, que é (hiper)doar, pode também ver-se neste prisma de amar os inimigos. Neste texto há um conjunto de frases quasi-sinónimas, que, apesar de radicais e quase contra-natura, podem ser inspiradoras:  “fazei bem aos que vos odeiam”, “abençoai os que vos amaldiçoam”, “orai por aqueles que vos injuriam”, “a quem te bater com uma face, apresenta-lhe a outra”, “a quem te levar a capa, deixa-lhe também a túnica”, “ao que te levar o que é teu, não reclames”…

 

JP in Espiritualidade Textos 24 Fevereiro, 2019

regulação de nascimentos, química e natureza

Uma radical e não dinâmica interpretação da encíclica Humanae Vitae pode cristalizar numa posição segundo a qual só é moralmente aceitável a anticoncecionalidade que recorre aos chamados métodos naturais. Talvez não tenha que ser assim…

 

J. C. Paiva, Regulação de nascimentos, química e natureza. Site PontoSJ (que se recomenda…). 20 de abril de 2018.

https://pontosj.pt/opiniao/regulacao-de-nascimentos-quimica-e-natureza/

 

 

Regulação de nascimentos, química e natureza

Alguns dos aspetos da proposta moral católica têm tido obstáculos acutilantes nos últimos tempos. Em parte, porque há uma tendência intrínseca, externa à Igreja, para certo modernismo ou vanguardismo, ou mesmo porque sociologicamente se regista uma apropriação pouco aprofundada, com base apenas nos comportamentos da maioria. Outra fatia da responsabilidade, porventura significativa, tem a ver com dificuldades de reflexão, elaboração e comunicação a partir do seio da própria Igreja. No caso da moral sexual, a situação é particularmente frágil.

É bom notar que a moral cristã terá de ter sempre o seu toque radical e exigente, não fosse inspirada nos critérios próprios de Cristo. A Doutrina Social da Igreja, para convocar um exemplo simples e óbvio, é de uma grande exigência e vai claramente contra a corrente na sociedade consumista e individualista em que vivemos. Talvez seja, porém, mais bem comunicada, mais cristãmente essencial e mais consensual do que muitas frentes da chamada ‘moral sexual’.

Um dos reflexos destas dificuldades comunicativas é que na mente de muitos ouvintes, incluindo os cristãos, se coloca ‘tudo no mesmo saco’. E, tipicamente, considera-se o saco de tal forma esquizofrénico em relação ao mundo atual, que se ignora, pura e simplesmente, tudo o que é proposto. A elaboração poderia ser colocada nestes termos: “sobre padrões ético-sexuais, as propostas católicas são de tal forma mal apresentadas e desproporcionadas, que não consigo sintonia, elaboro (ou não elaboro…) os meus próprios critérios e atuo e opino na minha conformidade personalista.”

Em particular, no horizonte, fica a séria possibilidade de, por exemplo, serem consideradas ao mesmo nível de (i)relevância: a) o aborto; b) as relações sexuais pré-matrimoniais e c) a anticoncecionalidade. A surdez generalizada, face a tamanho descalabro de quem clama no deserto, é muitas vezes equivalente em relação a estes três aspetos. Deixaremos para outra reflexão a nossa opinião inegociável sobre a condenação radical do ato abortivo. Registamos também algum valor para as entrelinhas positivas de potencial valor do segundo aspeto: critérios de proporcionalidade na linguagem sensual/sexual, clareza da primazia do amor, balanceamento de verdade entre o que se é e o que se diz com o corpo e incondicionalidade de assunção das consequências de qualquer entrega. Há aqui uma simpatia por certa formulação realista e igualmente exigente, num formato do género “diz com o teu corpo, na justa proporção, a verdade que és. E podes usar como medida da tua entrega a preparação para receber e acolher da circunstância tudo o que se possa gerar, de cumplicidade e de vida”.

A questão da regulação dos nascimentos é, na nossa opinião, mais complexa. Uma radical e não dinâmica interpretação da encíclica Humanae Vitae pode cristalizar numa posição segundo a qual só é moralmente aceitável a anticoncecionalidade que recorre aos chamados métodos naturais. Sobre este assunto, ocorrem-nos os seguintes aspetos:

1- O duplo sentido associado às relações sexuais num casal tem coerência interna sólida: os teores unitivo e procriativo daquela entrega amorosa de corpos são coerentes com a antropologia cristã e os insights bíblicos de certa cosmovisão, que a Igreja oferece e edifica.

2- A ideia de que só “a natureza” garante uma gestão responsável e moralmente enquadrável é muito discutível. Pode até haver certa simpatia pelos métodos naturais, do mesmo modo que se aprecia passeios nas montanhas e produtos biológicos na alimentação. Isto é, os argumentos não têm qualquer vínculo moral e estão até mais perto de uma posição algo hippie face à vida e aos recursos naturais.

3- É cientificamente muito discutível, extravasando o plano moral, a ideia segundo a qual “o que é natural é bom”. A química dá-nos boas respostas: o veneno de uma rã azul venenosa da austrália é natural, muito natural… mas mata um humano em poucas horas, mesmo que em doses pequeníssimas. Também a cafeína ou o álcool podem ser extraídos de produtos naturais, porém, ingeridos em grandes quantidades, podem igualmente matar. A exposição ao Sol em horas impróprias e em grande extensão, Sol ‘natural’, bem entendido, também pode fazer muito mal… Os exemplos são infindáveis mas centram-nos bem na constatação de que as interações que estabelecemos com a realidade são físico-químico-biológicas e seria frágil pensar que há átomos ou moléculas naturais e átomos ou moléculas artificiais ou (mano/nano)facturados. São as mesmas entidades atómico-moleculares em contextos diferentes…

4- Compreender-se-ia mal que uma dor de cabeça curada com aspirina (fruto da Graça, através do trabalho intelectual, científico e tecnológico de gerações sucessivas) tivesse menos valor moral do que se fosse curada com um produto natural com ácido acetilsalicílico… A tecnologia, neste contexto, é irrelevante e sem qualquer indução ética. Da mesma forma, não tem sentido hipervalorizar o ‘natural’ como supremacia moral, incluindo na contracepção.

5- Poderá haver casais que se sentem bem e em progresso com o recurso exclusivo a métodos naturais, quer pelas simpatias ecológicas da situação, quer por certa disciplina rotinada de contenção que entendam como positiva ou por outros fatores que considerem equilibrantes. Mas sem superioridade moral.

6- A abertura ou fechamento à vida é a mesma, precisamente a mesma, quando se tenta acertar com um período não fértil da mulher ou quando se usa um preservativo. As contas do método podem errar e o  preservativo pode estar mecanicamente avariado. Se resultar uma vida, ambos os casais terão de viver a tensão ética de acolher ou não o filho e o casal é inequivocamente convidado a dizer sim.

7- Também a ofensa ao primado do amor pode ser praticada com ou sem a natureza: é igualmente reprovável usar preservativos “a torto e a direito”, coisificando outros, como forçar uma relação sexual, porque é “dia sim” na regulação natural.

8- Valeria a pena, a este propósito, a Igreja usar o seu “tempo de antena sobre o assunto” com uma argumentação sólida, exigente e eticamente estruturada que propusesse aos casais cristãos o uso de métodos anticoncepcionais não abortivos.

9- Detalhar excessivamente a questão da regulação dos nascimentos incorre numa linha quase ridícula de “prescrevisionismo”. No limite caricatural, pode perguntar-se sobre a validade moral de certos detalhes íntimos, como as posições de cópula…

Em todos os casos, parece-nos existir um caminho e um progresso óbvio nestas questões: por mais confortável que possam ser as posições rígidas, formalistas e legalistas, que não oferecem nuances e mantêm firmes e hirtos os seus militantes, há que apostar na formação dinâmica das consciências. Não para que tudo se relativize e se perca a radicalidade da proposta cristã, mas para que se incorporem e se resignifiquem as escolhas com base numa pedagogia não moralista. Para que nos embalemos na tradição (crítica) da Igreja, sem subtrair o primado da validação misericordiosa e contemplando a avaliação positivamente subjetiva de cada caso, de cada discernimento, de cada história, de cada terreno sagrado humano…

 

JP in Ciência Educação Textos 18 Fevereiro, 2019

Se Cristo não ressuscitou, é inútil 
a nossa fé

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se 1 Cor 15, 12.16-20

«Se Cristo não ressuscitou, é inútil 
a nossa fé»

A frase de Paulo aos coríntios é bem conhecida dos cristãos e mote de muitas pregações e escritos espirituais. Propõe-se uma ligeira mudança no sujeito da frase “se eu não ressuscito é estéril a minha fé”. Esta frase, traduzida em vida, significa um claro respeito pelas minhas lágrimas, pelas minhas tristezas e pelas minhas “mortes”, mas um olhar sobre o horizonte, mais do que para os próprios pés cansados. Ressuscitar é recomeçar! E este respirar é tanto um alento existencial, como, principalmente, um mote para cada desafio de cada minuto, de cada espaço da nossa vida.

JP in Espiritualidade Textos 16 Fevereiro, 2019

Deixaram tudo e seguiram Jesus

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 5, 1-11

«Deixaram tudo e seguiram Jesus»

Os cristãos, em última análise, são frágeis seguidores de Jesus, o Cristo. O relato de Lucas fala-nos de pesca, de abundância, de deixar tudo e seguir Jesus. A pesca corria mal mas a presença de Jesus trazia abundância. Fascinados com essa plenitude resultante da amizade com Jesus, os discípulos mudaram a orientação da sua pesca, deixaram tudo e tornaram-se “pescadores de homens”. Os critérios de Cristo convidam-nos a uma recentralidade humanista: são os outros homens e mulheres que nos importam. Os cristão podem provocantemente perguntar-se: Que pesca fazemos? Como “convocamos” Jesus para nos acompanhar naquilo que nos importa? Como sentimos a abundância da Sua presença? Que mudanças somos capazes de fazer para O seguir, “pescando” de outra forma?…

JP in Espiritualidade Textos 10 Fevereiro, 2019

Agora permanecem a fé, a esperança e a caridade; mas a maior de todas é a caridade

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se 1 Cor 12, 31

«Agora permanecem a fé, a esperança e a caridade; mas a maior de todas é a caridade»

As “trilogias” no cristianismo são muito frequentes (desde logo a centralidade no Pai, no Filho e no Espírito Santo…). Fixemo-nos nesta tão conhecida do apóstolo Paulo, “fé, esperança e caridade”. Para melhor ajuste linguista contemporâneo, podemos “traduzir” caridade por amor, e tomar esta tríade como verdadeira lupa de avaliação crítica e modo de ação. A pergunta crucial: nas minhas relações, cresce a fé, a esperança e o amor? na minha família, cresce a fé, a esperança e o amor? na minha vida, cresce a fé a esperança e o amor?… sabemos, sentimos e experimentamos, que muitas vezes, nos falta fé e esperança. Mas o ‘maior de tudo’, sempre possível de ensaiar, é o amor…

JP in Espiritualidade Textos 2 Fevereiro, 2019

«Na verdade, todos nós – judeus e gregos, escravos e homens livres – fomos baptizados num só Espírito para constituirmos um só corpo»

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se 1 Cor 12, 12-14.27

«Na verdade, todos nós – judeus e gregos, escravos e homens livres – fomos baptizados num só Espírito para constituirmos um só corpo»

A carta de Paulo aos Coríntios pode ajudar-nos a valorizar os nossos sentidos de pertença, seja a uma Igreja, seja a uma família, seja a uma outra organização. Há um primeiro sentido de convite à universalidade e abertura a todos (judeus e gregos, poderiam ter hoje outros nomes, como “betinhos” e “rurais”, por exemplo). A procura da unidade (um só corpo) na diversidade, convém tomar consciência, tem um preço e um custo. Mas tal procura de sentido de corpo (e um só corpo!) pode ser um novo sentido também pessoal e existencial. Ser sozinho, sem corpo e sem pertença, pode ser quase não ser…

JP in Espiritualidade Textos 26 Janeiro, 2019

«Não têm vinho»

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Jo 2, 1-11 

«Não têm vinho»

O relato do Evangelho que hoje nos inspira diz respeito às Bodas de Caná, onde se saboreia o primeiro carente mas depois abundante néctar do vinho. Podemos fazer uma pergunta de paragem: “que vinho nos falta?” (na família, no trabalho, na rua…). Valorizar esse desejo e tomar nota que não é tendo tudo que se está bem. Não é necessariamente cheio que se está pleno. Há que viver o processo de transformação: assim como o da água em vinho, o da rotina em sabor, o da carência em saciedade, o da morte em vida…

JP in Espiritualidade Textos 20 Janeiro, 2019

Teilhard de Chardin, a síntese e a totalidade cósmica

Deus criou e está a criar o Cosmos, para que o Cosmos, incluindo-nos, seja!

J. C. PaivaTeilhard de Chardin, a síntese e a totalidade cósmica. Site PontoSJ (que se recomenda…). 7 de dezembro de 2018.

https://pontosj.pt/opiniao/teilhard-de-chardin-a-sintese-e-a-totalidade-cosmica/

 

Teilhard de Chardin, a síntese e a totalidade cósmica

 

Pierre Teilhard de Chardin nasceu em Orcines, França, em 1881 e morreu em 1955 nos Estados Unidos da América. Padre jesuíta e paleontólogo, estudou na Sorbonne e ensinou em Paris mas em 1922 é enviado para a China, certamente também pela inconveniência dos seus escritos, principalmente em relação ao pecado original. As suas ideias foram proibidas de ensinar nos institutos católicos mas a sua obra e influência pós-morte é notável, sendo reconhecidamente influenciador do Concílio Vaticano II. Foi reabilitado pelos papas João Paulo II, Bento XVI e Francisco.

Precisamente por não ser um verticalizante teólogo, filósofo ou cientista, mas um mestre na síntese horizontal destes vetores, Chardin é um autor incontornável. Se somarmos a sua argúcia e ousadia extrema (para a época em que escreveu) ao seu ser místico, estamos diante de alguém crucial e muito relevante na Igreja mas, em certo sentido, difícil de acompanhar.

O meu amigo P. Alfredo Dinis sj, com quem fiz muito caminho nestas temáticas e a quem presto aqui homenagem, decidiu, nos últimos tempos da sua vida, reler toda a obra de Chardin. Já com a voz caída mas de sorriso alargado e cheio de honestidade, dizia-me: “João, está lá tudo!” (na obra de Chardin, bem entendido…). Estas palavras do Alfredo, porque as sinto na mente e no coração, dão bem conta do potencial deste autor e místico do século passado.

A amplitude da obra e daquilo que está também por interiorizar na vida Cristã, tornam quase ridículo um artigo de poucas linhas sobre alguns dos seus horizontes. Consciente da largueza do que representa Chardin, permito-me um ligeiro alinhamento, quase telegráfico, de algumas ideias fortes do seu pensamento. Reproduzo aqui aquilo que tem vindo a ser mais relevante para mim, já perpassado pela subjetividade de uma leitura necessariamente pessoal. Recomendo, para aprofundamentos ulteriores, as suas vastas obras e/ou os trabalhos de associações à volta desta figura ilustre (ver, por exemplo: Associação dos Amigos de Pierre Teilhard de Chardin em Portugal ).

1- Chardin pode ser sintetizado na ideia charneira de um Deus que cria evolutivamente ou que evolui criativamente… Compreende-se porque o chamaram (e perseguiram como) panteísta: o Universo é divinizador, divinizante e divinizável. Ele próprio quis reabilitar um certo “panteísmo cristão”, sublinhando que o Deus revelado em Jesus Cristo, não se confundido com a natureza, nela está radical e evolutivamente “empapado” (palavras minhas): Deus criou e está a criar o Cosmos, para que o Cosmos, incluindo-nos, seja! As suas referencias a um “Cristo cósmico” são o resultado de uma osmose positiva no alinhamento: antropogénese, cosmogénese, biogénese, cristogénese.

2- Chardin rejeita o tomismo da substância ser “o crucial”. A este substancialismo, propõe-nos uma alternativa a que poderíamos chamar relacionista-evolutiva: incorpora-se o tempo, a mudança e a relação como constituintes de Deus e dos homens.

3- Chardin talvez seja um filósofo da globalização. A sua fidelidade à terra (curiosamente uma expressão de Nietzsche) coloca no centro a unidade evolutiva entre o Cosmos e a consciência da humanidade tomada na sua unidade. A evolução, para ter sentido, tem de fazer convergir e o amor é a força-impulso deste movimento.

4- São de Chardin as ideias de que o Deus do ‘em frente’ supera o Deus do ‘em cima’. Sem prejuízo da transcendência, enfatiza-se uma horizontalidade muito humana (e Cristã, diria eu) e que nos convida a evitar os moralismos.

5- Chardin teve um forte investimento na reteologização do pecado original. Mais do que uma falha em certo instante da história, o pecado original é evolutivamente constitutivo. Relaciona-se com o mau uso da liberdade humana, amorosamente “arriscada” por Deus, querendo dizer principalmente que a criação acarreta falta, fragilidade intrínseca e custo. De arrasto com o problema do pecado original, Chardin dá subsídios novos para rever teologicamente o mal e a cruz, assim tomados no seu dinamismo evolutivo e, crucialmente, tonificados por uma vida que valha a pena viver. Podemos dizer que com Chardin se pode abrir uma visão menos “pessimista” do pecado original, não esquecendo nunca o contexto de um Deus que “viu que era Bom”…

6- Desconheço sínteses mais libertadoras sobre a complexa tensão entre a totalidade e a singularidade do que a obra, em si mesmo, de Chardin. Diz ele: “A preocupação com o Todo tem as suas raízes no fundo mais secreto do nosso ser. Por necessidade intelectual – por carência afectiva – por impressão direta, quiçá, do Universo, somos essencialmente levados, a cada instante, à consideração do Mundo, tomado na sua totalidade”. É verdade que Cristo, é, Ele mesmo, para nós e para Chardin, esta mesma síntese.

7- Chardin teve também rejeições da comunidade científica (não apenas do lado religioso, portanto). Compreende-se tal pois o seu lado místico cria ruído cognitivo a quem está do lado de fora da fé. Embora Chardin tente uma lucidez e uma linguagem universais, é certo que será preciso ter fé para entender Chardin (mais do que conhecer Chardin para ter fé). Mas será que não precisamos de fé para entender “por dentro” seja o que for?…

8- Juan González de Arintero, no final do século XIX, afirmava que havia que fazer com a teoria da evolução de Charles Darwin o que Tomás de Aquino fez com Aristóteles. Chardin, para mim, foi o obreiro desse trabalho. À boa maneira chardiana, reformulo: “Chardin está a ser o obreiro desse trabalho”… pois que, da sua obra, há muito ainda para compreender, extrair e incorporar na vida dos Cristãos!

JP in Ciência Espiritualidade Textos 18 Janeiro, 2019

O Espírito Santo desceu sobre Ele como uma pomba

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 3, 15-16
«O Espírito Santo desceu sobre Ele como uma pomba»

O sinal com que Deus sela o baptismo de Jesus é uma pomba branca. Esta pomba representa o Espírito Santo, o legado divino que também nós recebemos. O Espírito Santo, para os cristãos, “sopra” (sentido muito amplo…) nas entranhas da realidade. A pomba branca é o símbolo da paz. Podemos refletir na cumplicidade existente entre o Espírito Santo e a paz. Ligar-se ao Espírito Santo é ligar-se à paz. Ouvir o Espírito Santo, é ouvir a paz. Dar o Espírito Santo é dar a paz. Viver o Espírito Santo é viver a paz!

PS: Pode usar-se a propósito deste texto uma ironia quase cómica, para reforçar a não literalidade bíblica: é que o espírito santo, se fossemos literais, punha ovos… como as pombas…

JP in Espiritualidade Textos 12 Janeiro, 2019

«regressaram à sua terra por outro caminho»

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 2, 1-12
«regressaram à sua terra por outro caminho»

Em celebração de “dia de Reis”, já depois do Natal, há vestígios ainda de “conversão”, no melhor sentido dos termos, isto é, como mudança de vida. O simbolismo dos Reis Magos terem “regressado por outro caminho” é forte: significa que aquele encontro especial (com um sentido, com O sentido…) os fez mudar trajetórias. Talvez uma das maiores riquezas da ritualização espiritual seja o radical e sistemático convite à novidade, ao confronto, à mudança de trajetória, ao “regresso por outro caminho”. Era bom cultivarmos interiormente a disponibilidade de nos tocarmos, de nos co-movermos, quando visitamos alguém, quando ensaiamos novos cenários, quando nos entregamos a novos encontros. E diante, dessas novidades, das novidades da vida, alvitrar outros regressos…

JP in Espiritualidade Textos 6 Janeiro, 2019