carências
Não me escandaliza, sob certo ângulo do olhar, ver a religião como construto de “pessoas sem colo”: da carência somos feitos…
Não me escandaliza, sob certo ângulo do olhar, ver a religião como construto de “pessoas sem colo”: da carência somos feitos…
Rezar não é uma aspirina, é um bálsamo…
As teorias evolucionistas, desenvolvidas por Darwin e aperfeiçoadas por muitos outros cientistas, atestam com segurança a ideia de que a espécie humana evoluiu (e evolui!) a partir de outras espécies e que, deste modo, não terá sido criada tal qual a conhecemos, num dado instante, com um “sopro de Deus”. Neste sentido, são desajustadas as chamadas teorias criacionistas, veiculadas, entre outros, por alguns movimentos de cristãos (mormente no Norte e no Sul da América). Estas ideias, sem fundamento científico sério, baseiam-se numa interpretação literal da Bíblia. Outrora, também a Igreja Católica se associou a esse olhar ingénuo sobre os textos sagrados e patrocinou que Adão e Eva tinham sido realmente criados como homem e mulher a partir do pó da terra, tendo vivido no paraíso terrestre até ao pecado original. Hoje, a maior parte dos cristãos entende de forma muito diferente os três primeiros capítulos do Livro do Génesis que narram a criação do mundo por Deus. A leitura literal, da Bíblia e de outros livros, deixa-nos tipicamente à porta das mais profundas revelações…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 4, 1–13
«Esteve no deserto, conduzido pelo Espírito, e foi tentado»
Em início de tempo de Quaresma (preparação para a Páscoa), somos confrontados com as tentações ocorridas no deserto da vida de Jesus. Ele experimenta com forte intensidade os convites tentadores à honra, ao poder e à glória. Como cada um de nós… Mais do que na interioridade, na intelectualidade e nos sonhos (embora também importe), é no quotidiano que estes desertos se nos deparam, quando queremos ser reconhecidos forçadamente, quando queremos ‘mandar’, quando queremos ser o centro. A preparação para a grande ponte (entre a morte e a vida), que é a Páscoa, carece desta consciência de deserto, o deserto da nossa auto-centralidade…
NOTA: Este artigo é repetido/adaptado de um outro já publicado neste blog
L1: Deut 26, 4-10; Sal 90 (91), 1-2. 10-11. 12-13. 14-15
L2: Rom 10, 8-13
Ev: Lc 4, 1-13
Uma das tensões mais evidentes em Jesus de Nazaré, que me atrai e me recentra, é aquela entre continuidade e descontinuidade. Como pode ser (e está a ser, na Fé) ambas as coisas? Judeu, mas renovado, temporal mas escatológico, presente mas fugaz, visível mas invisível, alcansável mas livre…
O pulsar mais inegociável da complexa mas desafiante caminhada sinodal da Igreja é ‘voltar sempre ao Evangelho’. Os equívocos, as paregens e até os retrocessos mais tentadores, intuo eu deste meu simples lugar, terão na sua base o afastamento do Evangelho.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 6, 39-45
«Por que é que tu reparas no cisco que está na vista do teu semelhante, e não vês a trave que está nos teus próprios olhos?»
A mais radical humildade é o convite central desta passagem do evangelho de Lucas: a verdade de mim mesmo, os meus próprios limites. Ajuda ter este cenário de fundo nos exercícios críticos das mais variadas organizações: escolas, sistemas políticos, famílias, Igreja. Há sempre um ‘efeito buberangue’ que convém ter em conta. Por exemplo, eu vejo, julgo e digo (talvez bem e justamente) que “eles” não ligam muito aos mais desprotegidos, indefesos ou pobres; e eu?…
NOTA: Este texto é repetido/ajustado a partir de evento já publicado neste blog anteriormente.
L1: Sir 27, 5-8 (gr. 4-7); Sal 91 (92), 2-3. 13-14. 15-16
L2: 1 Cor 15, 54-58
Ev: Lc 6, 39-45
Poderíamos sintetizar o desejo da fé nesta formulação: abrir-me a qualquer coisa mais… que me dá abertura…
A caridade (que é o amor ao próximo) tem com a fé uma grande cumplicidade: ambas são pequenas… intrinsecamente pequenas…
As inspirações bíblicas mais críticas sobre os fariseus e outros grupos fechados, revestidos da hipocrisia e da exterioridade, são para todos, são para mim. Apesar das crises eclesiais (e a que vivemos é muito aguda), uma das coisas que me faz permanecer é, não só mas também, o reconhecimento de que eu mesmo, crente em trânsito, sou um procurante de coerência e inteireza. O nosso esculpir interior, feito de oração, comunidade, trabalho e caminho, é ir deixando de ter máscaras, aproximando-nos da verdade que somos. Tudo na primeira pessoal do plural…