convertendo(-se)

Não simpatizando eu com certas militâncias religiosas, que mais fazem lembrar os tempos idos das cruzadas, não nego, porém, o caráter intrinsecamente apostólico da pertença religiosa cristã. Apostaria, porém, na ontologia de vida, debaixo do lema: “converter” (mesmo assim, com aspas) é converter-se… e abrir-se à aprendizagem…

JP in Sem categoria 30 Setembro, 2024

as vossas riquezas estão apodrecidas e as vossas vestes estão comidas pela traça

 

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se II Tg 5, 1-6

as vossas riquezas estão apodrecidas e as vossas vestes estão comidas pela traça

O texto da epístola de Tiago alude à precariedade da materialidade e à fragilidade da acumulação. A Bíblia, no Antigo e no Novo Testamento, aponta, em inúmeras passagens, para a fragilidade do ter, face à força do ser. Para aqueles que leem estas palavras e já possuem alguma cultura espontânea de austeridade e a quem a vida já ensinou que vale muito pouco a pena acumular, convém abrir uma outra porta, que nos conserva sempre uma positiva inquietação: é que há ainda muitos humanos no nosso planeta que não têm os mínimos e a quem seria imoral pedir qualquer desprendimento, qualquer austeridade. É legítimo que esses desejem ter o mínimo que nunca tiveram e de que precisam. Não chega, portanto, sermos modestos e austeros (embora seja um ponto de partida
importante). Parte do movimento de todos nós, mesmo dos menos materialistas, é incentivar e empreender genuínas partilhas, à escala global. No limite, criar condições para uma austeridade escolhida, fundada na dignidade de todos. Essa partilha, sim, é garantia que a traça não corrói…  

 

Este texto é adaptado em parte ou na totalidade de palavras anteriores já publicadas.

DOMINGO XXVI DO TEMPO COMUM


L 1 Nm 11, 25-29; Sl 18 (19), 8. 10. 12-13. 14
L 2 Tg 5, 1-6
Ev Mc 9, 38-43. 45. 47-48

JP in Sem categoria 28 Setembro, 2024

o Espírito e o vento…

Em Jo 3, 8 temos uma frase imputada ao diálogo entre Jesus e o fariseu Nicodemos que me merece uma atenção crítica: “O vento sopra onde quer; ouves o seu ruído, mas não sabes donde vem nem para onde vai. Assim acontece também com aquele que nasce do Espírito”. Ora, hoje sabemos alguma coisa mais sobre o vento (embora a ciência climática seja agudamente não linear) e, em certo sentido, poderíamos afirmar que esta frase está desatualizada e é infecunda… Mas acontece que nem Deus nem a Bíblia existem para explicar como funciona o mundo, na sua complexidade físico-químico-biológica. O importante não é a explicação (de onde vem o vento e para onde vai, o que em si mesmo evoluí do ponto de vista do conhecimento) mas o sentido: nascer de novo e acolher o novo, o Espírito, a ‘anima’ de tudo… que sopra “na” e pela realidade…

JP in Sem categoria 24 Setembro, 2024

se alguém quer ser o primeiro, tem que se tornar o último

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mc 9, 30-37

se alguém quer ser o primeiro, tem que se tornar o último

Este jogo de ser primeiro e ser o último (e vice versa) não é fácil de jogar. Mas há qualquer coisa de fascinante em perder (para ganhar), mais rico do que o óbvio ganhar (talvez para perder). Conta-se que Pedro Arrupe, há quase um século, quis ser o primeiro a sair do autocarro onde seguia com outros companheiros para se instalarem num colégio. Chegou em primeiro ao espaço (ganhar?) e abriu todos os quartos apressadamente para ser o primeiro a escolher um lugar (ganhar?). Procurou bem, viu todas as instalações e escolheu convictamente… o pior quarto (perder?). Alegrava-o poder proporcionar aos outros o melhor espaço (perder?). Deve ter dormido com uma paz particular (ganhar?…).

Este texto é adaptado em parte ou na totalidade de palavras anteriores já publicadas.

DOMINGO XXV DO TEMPO COMUM


L 1 Sb 2, 12. 17-20; Sl 53 (54), 3-4. 5. 6 e 8
L 2 Tg 3, 16 – 4, 3
Ev Mc 9, 30-37

JP in Sem categoria 22 Setembro, 2024

concordismo

Não é só a literalidade bíblica que oprime a revelação que quer sair das palavras. É também abafante forçar o concordismo das Escrituras, na fixação espartilhada de história, da literatura, da sabedoria e da cronologia.

JP in Sem categoria 20 Setembro, 2024

ambiguidades de Deus

Uma certa ambiguidade de Deus, que intuímos e experimentamos, não é arbitrária: é uma necessidade estrutural inerente à relação entre o Criador e a criatura.

JP in Sem categoria 18 Setembro, 2024

tome a sua cruz e siga-me

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mc 8, 27-35

tome a sua cruz e siga-me

Jesus não convida a que se suprima a cruz mas a que se tome a cruz. Também não parece existir aqui convite a fabricar cruzes ou a ir buscá-las onde não estão… Basta a cruz de cada dia… A cruz, num sentido pascal, é a realidade existente, contingente, insuficiente, incompleta, que mora dentro e fora de nós. A cruz é um “produto” indissociável da nossa condição de finitude. Os humanos que não têm fé têm também a sua cruz, neste sentido do preço da finitude. O que é distintivo da fé, portanto, não é a cruz. É a paixão e o amor com que nos rendemos a tomar a nossa cruz, que inclui as cruzes da humanidade… 

Este texto é adaptado em parte ou na totalidade de palavras anteriores já publicadas.

DOMINGO XXIV DO TEMPO COMUM


L 1 Is 50, 5-9a; Sl 114 (115), 1-2. 3-4. 5-6. 8-9
L 2 Tg 2, 14-18
Ev Mc 8, 27-35

JP in Sem categoria 14 Setembro, 2024

buscadores e acomodados

Nunca convém ver o mundo a preto e branco mas, se eu tivesse de escolher uma dicotomia na linha da crença, não escolheria os crentes e os descrentes. Antes os buscadores e os acomodados, com gente de ambos os lados a ir à missa…

JP in Sem categoria 12 Setembro, 2024

se as religiões não existissem…

O famoso ateísta militante Richard Dawkins fez uma afirmação bombástica (…) perante os atentados de 11 de setembro’ 2001 em Nova York: “se não houvesse religião, nada disto teria acontecido”. O arcebispo da Igreja reformada britânica, Douglas Williams, contra-argumentou brilhantemente: “não haveria tal cruel atentado, se não houvesse aviões…”.

JP in Sem categoria 10 Setembro, 2024

disse-lhe: «Efatá», que quer dizer «Abre-te»

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mc 7, 31-37

disse-lhe: «Efatá», que quer dizer «Abre-te»

Do Evangelho de Marcos, a propósito da cura de um surdo, que mal podia falar, ouvimos uma exclamação de Jesus que bem se poderia constituir como o hino da fé: «Efatá», que quer dizer «Abre-te». Na realidade, uma das chaves de leitura para o que somos, inclui o reconhecimento das nossas prisões, das nossas paralisias, dos nossos ouvidos cerrados, das nossas mãos fechadas. Em saída, o ‘piparote da fé’ é, precisamente, Efatá. Será nesse processo, na abertura, na liberdade, no caminho, na escuta, nas mãos abertas, que nos encontraremos, abandonados e rendidos à dádiva. O grito de Deus é só este: Efatá.

Este texto é adaptado em parte ou na totalidade de palavras anteriores já publicadas.

DOMINGO XXIII DO TEMPO COMUM


L 1 Is 35, 4-7a; Sl 145 (146), 7. 8-9a. 9bc-10
L 2 Tg 2, 1-5
Ev Mc 7, 31-37

JP in Sem categoria 8 Setembro, 2024