repetição e novidade
A arte de dar sentido e novidade às rotinas mais ou menos quotidianas é das procuras que vale a pena. Se a maior parte da vida é quotidiano, porque não fazer da rotina uma festa?
A arte de dar sentido e novidade às rotinas mais ou menos quotidianas é das procuras que vale a pena. Se a maior parte da vida é quotidiano, porque não fazer da rotina uma festa?
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 5, 38-48
«Se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a esquerda»
Dar a outra face, podemos dizer, não é natural. É a chave, porém, para quebrar as espirais de violência que existem no mundo: as das guerras à escala dos países mas também as das pequenas guerras do dia-a-dia. Dar a outra face não é ser ingénuo, nem tão pouco forçar relações inconvenientes ou não queridas. Dar a outra face é até compatível com naturais maus sentimentos por outras pessoas. A originalidade está no coração, na abertura, na oportunidade que sempre podemos reservar para quem nos faz mal. Rezar por quem nos ofende é também um caminho que podemos percorrer, neste difícil mas libertador desiderato do perdão.
O tempo é onde se tece a liberdade. O tempo que passa é o dom primeiro. Enquanto viventes, temos sempre o tempo para agradecer.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Slm 118
«A vossa lei faz as minhas delícias»
As leis, no sentido jurídico e na sensação que causam nas pessoas, têm uma carga tipicamente pesada. Embora feitas, em princípio, para ajudar o homem e para lhe dar segurança, as leis provocam constrangimentos. É curioso ver no Antigo Testamento a palavra “delícia” associada à lei de Deus. Saborear a lei do Senhor como uma delícia implica a consciência vivida de uma lei especial. A lei de Deus só pode ser saborosa se for radicalmente enraizada no amor. Em Jesus, esta lei promete ser ‘jugo leve e alívio’ e o melhor teste dessa promessa seria ver a vida dos cristãos a espelhar a lei cristã como doce (mesmo que não fácil…).
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Cor 2, 1-5
«apresentei-me diante de vós cheio de fraqueza e de temor»
É curioso reparar na explicitação de Paulo em relação aos seus sentimentos e emoções enquanto protagonista da atividade apostólica. Ele não se reconheceria como o ‘herói de Cristo’, sem mácula e sem dúvidas, mas o ser frágil que se faz forte pela esperança e não pela impecabilidade. “Não me apresentei com sublimidade de linguagem ou sabedoria”, diz Paulo, como que dizendo que para se ser apóstolo não é preciso dons extraordinários mas antes humildade e confiança, fé num Deus que é amor e que se quer revelar a todos, por via de cada um de nós. A experiência de seguimento cristão poderá tornar-nos, em certo sentido, ‘maiores do que nós mesmos’. Mas o ponto de partida desse crescimento é, precisamente, a consciência de fraqueza e de fragilidade.
José Augusto Mourão afirma algo que me impressiona, mais do que pela humildade, pelo realismo que contém. Para este autor, dizer “Eu encontrei Deus” é obsceno. Deus livrou-nos de Deus e os que O julgam agarrar melhor fora declararem-se, no máximo, tateadores…
O nosso ensino está massificado, como resultado de uma democratização educativa que nos deve orgulhar, mas que teve e tem o seu custo. A todo o instante temos ainda de amortecer o impacto negativo da massificação e requalificar o processo educativo. Em alguns casos, qual movimento pendular, há que fazer alguns recuos…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 2, 22-40
«Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, para O apresentarem ao Senhor»
Dando cumprimento à Lei de Moisés, Maria e José levaram o Menino ao templo. O gesto central de Maria e de José, é o de oferecer o seu filho e, desta forma, estabelecer uma cumplicidade com a missão salvadora de Jesus e a sua doação a todos nós. Opõem-se ao gesto de oferecer, as atitudes de possuir, manipular, controlar, chantagear e construir expectativas formatadas. Quantas vezes, nas nossas relações (os pais em relação filhos mas não só), não teremos esta atitude de possuir, em vez de oferecer?…
Da indizibilidade de Deus facilmente chegamos ao estilo útil da teologia negativa: evidenciar o que Deus não é. Muitas vezes, na teologia, na argumentação do dia-a-dia, no trabalho apostólico, nos diálogos connosco próprios, a par do silêncio, podemos usar com vantagem este caminho…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 4, 12-23
«eles deixaram logo as redes e seguiram-No»
A propósito desta descrição dos seguidores próximos de Jesus, fixemo-nos na prontidão da resposta ao apelo, que é sempre um convite tão mobilizador quanto libertador. A expressão “deixou logo as redes” pode ser inspiradora. Estar prontos para deixar o que pode ser deixado e atender os outros: deixar o ritmo de trabalho para atender melhor os filhos, deixar de ter algo, para partilhar, deixar um rancor para perdoar, deixar a televisão para conversar, e muitos mais auto-recados promissores, que esperam vida para se realizarem…