selo de vida
A morte de Jesus na cruz já levava o selo de muita vida: a vida do amor até à morte…
A morte de Jesus na cruz já levava o selo de muita vida: a vida do amor até à morte…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Jo 15, 1-8
toda a vara que em mim não dá fruto…
A linguagem da videira, do fruto e da poda, tem uma coerência interna interessante e pode com grande facilidade ser antropoligizada. Sabemos que damos fruto se estivermos ligados à videira, que, na linguagem da nossa fé, é Deus-amor. A poda que é necessário fazer, nos ramos que precisamos de deitar fora, é uma constatação importante. Quando alguém nos aponta um defeito, uma atitude menos correta, um vício, temos natural tendência de “deitar as garras de fora”, de nos defendermos e até de contra-atacar. Inspirados neste Evangelho podemos ter um entendimento e um acolhimento diferentes das críticas que nos são feitas: possam ser (nem sempre são, bem entendido) instrumentos de reflexão para crescimento, para eventual poda e para dar mais fruto.
Confesso-me de pendor racional, com as vantagens e desvirtudes disso mesmo. Digo de mim que até o meu coração é tecido de neurónios ligados à cabeça (e assim é). São alguns neurónios, talvez rarefeitos (…) e oxalá me levem a outra essência que os supere…
Para aprender há que ter em conta que «não se fazem omeletas sem ovos». Não se criam textos sem conhecer as palavras, nem se é criativo matematicamente sem saber a tabuada. Aprender deve e pode ser agradável, mas sem «sangue, suor e lágrimas», sem esforço e sem alguma mecanização, não se vai muito longe…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Jo 10, 11-18
Eu conheço as Minhas ovelhas e elas seguem-Me
Os apóstolos têm no Apóstolo dos apóstolos, o Bom Pastor, o seu modelo. Jesus conhece as suas ovelhas, o que no sentido metafórico pastorício é de uma grande relevância e dá um tom muito personalista à nossa Fé. Entendemos que Deus, em Jesus, conhece, “está com” e ama cada um de nós. Inspirador também para os cristãos, eles próprios apóstolos, é conhecer os outros: ouvir, “perder tempo” com eles, saber da sua vida, interessar-se pelos seus problemas (sem invasões, claro…). Esta atitude – e escreve quem a deseja mas quem reconhece inúmeras dificuldades – não pode ser voluntarista e superficial. Esta atenção ao outro terá de brotar de uma atenção ontológica, ao que se é, onde se está e ao que se vive… Ninguém ama o desconhecido e conhecer os outros humanosé um aspeto incontornável da vida de todos. Conhecer os outros e interessar-se genuinamente por eles é, além de um mandato humano, um estilo agudamente cristão…
Os meus raros momentos (dádivas) de quase vivência esmagante de eternidade são tecidos, apesar de tudo, de entregas plenas a instantes de presença agradecida.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 24, 35-48
assim está escrito, que o Messias havia de sofrer e ressuscitar
A frase do evangelho: “assim está escrito, que o Messias havia de sofrer e ressuscitar” é curiosa e muito sintética da nossa fé. Poderíamos resumir aquilo em que acreditamos na ideia vivida de que, como Jesus, entendemos (mais ainda, acreditamos e vivemos) que todo o sofrimento que a existência acarreta não é a última palavra. Convínhamos que em alguns redutos, incluindo religiosos, esta frase aparece truncada e apenas: “Assim está escrito, que o Messias havia de sofrer…”. Ora é uma afirmação não truncável, porque a Páscoa está a acontecer. Agradeçamos e vivamos em alegria a última parte não descartável, que ilumina a primeira: “…e ressuscitar”.
Há uma pergunta que nos deve ocupar, principalmente aos mais ativos na (pseudo)caridade: “faço isto porque os outros precisam ou porque preciso que os outros precisem de mim?…”
Impressionante como Chardin, já no início do século, intuia a força não literalista do pecado original: o Livro do Génesis não aponta o erro da transgressão mas o sublinhado do risco, do custo, dos limites e da incompletude da amorosa criação humana…
Martin Buber, o grande filósofo judeu, introduz-nos num acutilante relacionismo, de carácter não substancialista. “Eu sou porque tu és”. Não é uma radical novidade (a pessoa, depois de Tomás de Aquino, já se entrevia como uma relação) mas rediz-nos com linguagem de século vinte a cumplicidade entre o eu e o tu.