Excesso dos excessos
O Excesso dos excessos criou-me com a carência das carências que me permite, contudo, um reconhecimento relacionável com esse mesmo Excesso dos excessos…
O Excesso dos excessos criou-me com a carência das carências que me permite, contudo, um reconhecimento relacionável com esse mesmo Excesso dos excessos…
O ‘Deus nas panelas’ de Santa Teresa é muito comparável á forma solene e dedicada como o monge budista ata as cordas dos sapatos e, por essa via de entrega atenta, diz mais do que quaisquer palavras. Em tudo está um toque de sacralizar o momento presente. É a libertação que nos pode despertar a ‘atenção’, também muito referida nestes termos por Simone Weil. Tudo inspirador, em contrapartida com a habitual desatenção inerente à correria dos dias…
Sobre religiões comparadas (exluindo o sociologicamente patológico) podemos avançar, no máximo, em ‘bom versus melhor’, com a humildade radical de quem sabe que não há luzes sem sombras nem sombras sem luzes no tatear do mistério.
É uma grande arte encarar e, muitas vezes, explicitar as fragilidades próprias. O declamador João Vilarett contava uma história curiosa, a seu respeito, que o levou a preferir, neste contexto, encarar as situações em vez de fugir. Já numa fase avançada da sua vida profissional, encontrava-se a dizer um poema para uma vasta audiência (nada de muito diferente daquilo a que estava habituado). Podemos imaginá-lo, «Tocam os sinos na torre da igreja…». Começou a tremer da mão e reparou nisso. Não devia, com a sua rodagem, estar nervoso naquela ocasião. Dialogava consigo mesmo, dizendo «Como podes estar nervoso numa coisa destas, depois de tantas e tantas experiências, ao longo de muitos anos?». Mas cada vez a sua mão tremia mais e ele mais se distraía. E a coisa estava mesmo a correr mal, enganava-se nas falas… e continuava a lutar. A páginas tantas, resolveu interromper a actuação e dizer em voz alta: «Estou a tremer da mão: vejam lá, tantos espectáculos realizados e eu a tremer da mão». Riu-se de si próprio e prosseguiu. O tremor parou. Conta-se que, depois, foi das melhores actuações que fez. Vale a pena encarar e explicitar as fragilidades próprias…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Jo 6, 1-15
Jesus pegou então nos pães, deu graças a Deus e distribuiu-os à multidão
Este trecho do Evangelho referente ao milagre da multiplicação dos pães é muito mastigado no plano teológico e apostólico. Parece ser consensual, contudo, além do sinal da abundância, que há um véu que se entreabre no sentido de Jesus convocar os homens (cada um de nós) para o grande sonho da partilha. Há perguntas que nos podemos fazer, com algum alcance de crescimento, diante desta convocatória para receber, distribuir e partilhar: que pão me faz falta? Sendo eu aquilo de que me alimento, de que me encho? Que pão acumulo? Que pão partilho? Que pão poderia partilhar mais?
A justiça contém mas ultrapassa o contexto jurídico. É um caminho dinâmico e tateante. Procura sempre a retribuição na proporção… justa, passo a redundância. Acontece que a vida, de per si, merece os mínimos de dignidade e, portanto, não haverá justiça enquanto houver fome.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Slm 22
O Senhor é meu pastor: nada me faltará
O refrão do salmo pode ser colocado de uma outra forma: para que nada me falte, para ter o coração cheio de amor e sentir plenitude, é bom fazer com que Deus seja o meu pastor. Para ser feliz (é esse o desafio da fé), é bom deixar-me conduzir pelos Seus critérios, iluminar-me pela Sua luz, ir para onde Ele vai, amar como Ele ama. Todos nós temos sede e procuramos que nada nos falte. Às vezes tentamos saciar-nos do que não sacia, deixando-nos guiar por outros pastores…
A humildade, porque é muito central e virtuosa, torna-se difícil de dizer. Aprecio esta abordagem: “a humildade é ser o que se é, aberto à novidade, consciente dos próprios limites”.
Há várias aproximações à filosofia. Umas das mais harmoniosas, no ritmo e no conteúdo, é esta: “pensar sobre o que pensamos, para nos pensarmos melhor”.
Fracassar não é para todos, é um verbo a conjugar pelos que desejam crescer. Não há dúvida que é preciso subir para cair, ou que só se cai quando se sobe.