conflito
O medo do conflito, em muitas circunstâncias, pode ser pior do que o próprio conflito. O equilíbrio a procurar é o de saber conflituar.
O medo do conflito, em muitas circunstâncias, pode ser pior do que o próprio conflito. O equilíbrio a procurar é o de saber conflituar.
Relembro-o a mim próprio, para tentar compreender melhor e moderar a minha negativa reação: os fundamentalistas religiosos, nas palavras de Melloni, vivem uma defesa, face ao medo de que se dissolva o solo que pisam… O seu problema, afinal, é julgarem possuir como rigidamente sua, uma dádiva fluente…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 1, 39-56
Maria ficou três meses com Isabel; e depois voltou para casa
Em dia de festa mariana, fazemos um recorte simples, que se justifica na celebração de Maria, cujo coração é, precisamente, a simplicidade: “Maria ficou três meses com Isabel; e depois voltou para casa“. Há alguns movimentos nesta parte final do Evangelho que hoje meditamos, que são muito inspiradores: 1) “Maria ficou”. Saberia estar. Estava ali, onde estava e onde devia estar (e eu, quando fico, fico?…); 2) “três meses com Isabel”. Foi ter com quem precisava e ali gastou tempo (e eu, dou por bem empregue o tempo que gasto com quem precisa?); 3) “voltou para casa”. Certa necessidade de um regresso a momentos de encontro, de quotidiano, porventura de descanso mas, principalmente, de encontro com Deus (e eu, regresso a casa? Será que tenho uma casa?…).
Camus oferece sobre a moral uma analogia curiosa: seria – a moral – um livro com 98 páginas em branco e, na página final, a frase “o único dever é amar…”
Os cristãos em geral sabem pouco de ciência e do modo como as suas crenças e práticas religiosas se articulam com as teorias científicas. Mesmo da parte das elites cristãs, como são os teólogos, não é fácil encontrar pessoas que não só estejam informadas sobre os dados científicos, mas que também compreendam, sem ansiedades desnecessárias, as implicações que esses dados poderão ter para a própria teologia. A teologia do futuro (ou do presente?) terá de incorporar mais eficazmente o conhecimento científico.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Jo 6, 41-51
Se alguém comer deste pão…
Para os cristãos católicos a eucaristia, nas suas tensões, paradoxos e graças, é um contínuo processo de resignificação. Podemos, a propósito deste texto bíblico, repensar a eucaristia no seu sentido lato e na forma como vivemos (ou não vivemos) a nossa “fome de infinito”… A eucaristia não é uma espécie de plano de poupança-reforma, capaz de nos deixar tranquilos depois da nossa morte. A eucaristia é “capital” disponível já, capaz de nos fazer “rentabilizar” a vida, aqui e agora. Ser alimento para os outros (dar-se), como Jesus se dá por nós é o output da eucaristia… Que a eucaristia-missa se traduza em eucaristia-vida, isto é, em gestos concretos de «ser pão» para os outros…
O Excesso dos excessos criou-me com a carência das carências que me permite, contudo, um reconhecimento relacionável com esse mesmo Excesso dos excessos…
O ‘Deus nas panelas’ de Santa Teresa é muito comparável á forma solene e dedicada como o monge budista ata as cordas dos sapatos e, por essa via de entrega atenta, diz mais do que quaisquer palavras. Em tudo está um toque de sacralizar o momento presente. É a libertação que nos pode despertar a ‘atenção’, também muito referida nestes termos por Simone Weil. Tudo inspirador, em contrapartida com a habitual desatenção inerente à correria dos dias…
Sobre religiões comparadas (exluindo o sociologicamente patológico) podemos avançar, no máximo, em ‘bom versus melhor’, com a humildade radical de quem sabe que não há luzes sem sombras nem sombras sem luzes no tatear do mistério.
É uma grande arte encarar e, muitas vezes, explicitar as fragilidades próprias. O declamador João Vilarett contava uma história curiosa, a seu respeito, que o levou a preferir, neste contexto, encarar as situações em vez de fugir. Já numa fase avançada da sua vida profissional, encontrava-se a dizer um poema para uma vasta audiência (nada de muito diferente daquilo a que estava habituado). Podemos imaginá-lo, «Tocam os sinos na torre da igreja…». Começou a tremer da mão e reparou nisso. Não devia, com a sua rodagem, estar nervoso naquela ocasião. Dialogava consigo mesmo, dizendo «Como podes estar nervoso numa coisa destas, depois de tantas e tantas experiências, ao longo de muitos anos?». Mas cada vez a sua mão tremia mais e ele mais se distraía. E a coisa estava mesmo a correr mal, enganava-se nas falas… e continuava a lutar. A páginas tantas, resolveu interromper a actuação e dizer em voz alta: «Estou a tremer da mão: vejam lá, tantos espectáculos realizados e eu a tremer da mão». Riu-se de si próprio e prosseguiu. O tremor parou. Conta-se que, depois, foi das melhores actuações que fez. Vale a pena encarar e explicitar as fragilidades próprias…