ingratidão
A ingratidão é quase sempre um regresso a mim mesmo, autocentrado, potencialmente vitimista e afastado, claro está, da gratidão.
A ingratidão é quase sempre um regresso a mim mesmo, autocentrado, potencialmente vitimista e afastado, claro está, da gratidão.
É bonito e talvez seja Páscoa achar que nunca ninguém nos deve nada.
O pouco que se dá, a ser dado, é dado, não tem retorno.
Jesus fê-lo impecavelmente ao amar os homens até à cruz (na cruz importa sempre o amor e não a dor…) e vale a pena imitá-Lo nessa gratuitidade.
Por isso os Pais aos filhos, os filhos aos Pais, os padrinhos aos afilhados, os amigos aos amigos e Jesus aos homens, dão sem expetativa e sem esperar nada em troca, aceitando cada um como cada qual. Esta Páscoa te desejo!
O que Jesus faz na cruz, que é um pico de amor, mais ainda do que um pico de dor, é um grande sim à realidade, como ela é. É o primado da aceitação concentrado num único sonho que nos supera: o de sarar feridas com entregas!
Sabedoria é uma palavra onde a ciência bebe etimologicamente. Tanto tange a origem sapere como algo relacionado com ‘sabor’. Confronta-nos com a evidência de que conhecer, também pela via científica, é saboroso…
A não literalidade bíblica é uma conquista na catolicidade que não é absolutamente nova (tem muitos séculos de caminho). Tal não literalidade não está ainda defenitivamente entranhada na vida dos crentes. Embora podendo chocar um pouco, talvez se possa afirmar: “a Bíblia não é a palavra de Deus”. Pode dizer-se, melhor: “a Bíblia contém a palavra de Deus… que dela se pode extrair, dinamicamente e com fé…”
O ritual e, nele, a repetição vivida como novidade, oferecem-nos em potência uma chave de luz: a sacralidade do ordinário. Ao mesmo tempo, o ritual precisa da nossa participação e abertura, para receber como novo o que se repete. O ritual só é sagrado se o triangularmos com as nossas mãos abertas e curiosas…
Costumo usar “terrorismo moral/religioso” como expressão, que tem o seu quê de subtil. Muitas vezes me reconheço eu mesmo como um terrorista… Concretizo sem contexto teórico: “ai não comes a sopa, pois olha que há muitas criancinhas a morrer à fome”. O problema é que é verdade (e agudo) que há muitas crianças com fome mas a invocação de tão séria constatação é para cumprir uma estratégia outra, mais pessoal e mesquinha. Isto desvaloriza a nobreza do argumento, banaliza, afinal, a fome das crianças, assim instrumentalizada no argumentário…
Natal 2020
Seja esta festa para todos e para cada um, a festa da ‘normalidade do espanto’.
O espanto do amor que tudo excede e a normalidade frágil e potente que somos nós.
O Belo fez-se versão humana para que o humano seja Belo.
O que falta fazer é o véu de mistério que nos permite antever, fazer e ser o desafio maior da nossa existência.
…E o resto da história está a fazer-se com as nossas vidas que, dando vida, realizam a Vida no mundo.
Fico com a sensação que nos bastaria tomar o tempo como uma dádiva que existe sempre, até nós existirmos e porventura mais além. Ora, muitas vezes, antecipamos ou adiamos o tempo, em vez de ‘surfar’ nele como um dom…
Invoco com frequência a teologia negativa de Ekart e de tantos outros. Na teologia, como na vida, “Deus livrou-nos de (ter) Deus (no bolso)”…