a ética e o outro
Levinas, filósofo judeu, resume a sua convicção filosófica de forma inspiradora, estabelecendo uma seta ética: “há algo mais importante do que a minha misteriosa vida: a vida do outro!”
Levinas, filósofo judeu, resume a sua convicção filosófica de forma inspiradora, estabelecendo uma seta ética: “há algo mais importante do que a minha misteriosa vida: a vida do outro!”
A Segunda Lei da Termodinâmica pode ser assim enunciada: a entropia de um sistema isolado aumenta. Numa abordagem qualitativa, podemos associar à entropia o grau de desordem dos sistemas. Abordemos os conceitos de ordem e desordem na sua acepção mais simples: dizer que a entropia está a aumentar é dizer, em certo sentido, que a desordem está sempre a aumentar. Estranhamos tal, pois observamos transformações espontâneas com aumento de ordem, como a formação de cristais (partículas que ficam agregadas e organizadas a partir da situação de dissolução em água), ou a própria formação de um bebé no útero da Mãe (hino da organização celular). Porém, a segunda lei não afirma que num dado sistema a entropia não possa diminuir (aumento de ordem). Fala de um sistema isolado. Então, se sistemas se organizam é porque as suas vizinhanças se desorganizam, de tal forma que, no conjunto «sistema e vizinhanças», de facto, a entropia (desordem) aumenta. No caso dos cristais, as moléculas de água podem desorganizar-se no processo de formação do cristal. No caso do bebé, podemos dizer, com algum humor, que, na vizinhança da gravidez, o desgraçado do marido se desorganiza fortemente ao ir comprar requeijão às 3 horas da madrugada para satisfazer um desejo da esposa grávida amada…
A ingratidão é quase sempre um regresso a mim mesmo, autocentrado, potencialmente vitimista e afastado, claro está, da gratidão.
É bonito e talvez seja Páscoa achar que nunca ninguém nos deve nada.
O pouco que se dá, a ser dado, é dado, não tem retorno.
Jesus fê-lo impecavelmente ao amar os homens até à cruz (na cruz importa sempre o amor e não a dor…) e vale a pena imitá-Lo nessa gratuitidade.
Por isso os Pais aos filhos, os filhos aos Pais, os padrinhos aos afilhados, os amigos aos amigos e Jesus aos homens, dão sem expetativa e sem esperar nada em troca, aceitando cada um como cada qual. Esta Páscoa te desejo!
O que Jesus faz na cruz, que é um pico de amor, mais ainda do que um pico de dor, é um grande sim à realidade, como ela é. É o primado da aceitação concentrado num único sonho que nos supera: o de sarar feridas com entregas!
Sabedoria é uma palavra onde a ciência bebe etimologicamente. Tanto tange a origem sapere como algo relacionado com ‘sabor’. Confronta-nos com a evidência de que conhecer, também pela via científica, é saboroso…
A não literalidade bíblica é uma conquista na catolicidade que não é absolutamente nova (tem muitos séculos de caminho). Tal não literalidade não está ainda defenitivamente entranhada na vida dos crentes. Embora podendo chocar um pouco, talvez se possa afirmar: “a Bíblia não é a palavra de Deus”. Pode dizer-se, melhor: “a Bíblia contém a palavra de Deus… que dela se pode extrair, dinamicamente e com fé…”
O ritual e, nele, a repetição vivida como novidade, oferecem-nos em potência uma chave de luz: a sacralidade do ordinário. Ao mesmo tempo, o ritual precisa da nossa participação e abertura, para receber como novo o que se repete. O ritual só é sagrado se o triangularmos com as nossas mãos abertas e curiosas…
Costumo usar “terrorismo moral/religioso” como expressão, que tem o seu quê de subtil. Muitas vezes me reconheço eu mesmo como um terrorista… Concretizo sem contexto teórico: “ai não comes a sopa, pois olha que há muitas criancinhas a morrer à fome”. O problema é que é verdade (e agudo) que há muitas crianças com fome mas a invocação de tão séria constatação é para cumprir uma estratégia outra, mais pessoal e mesquinha. Isto desvaloriza a nobreza do argumento, banaliza, afinal, a fome das crianças, assim instrumentalizada no argumentário…
Natal 2020
Seja esta festa para todos e para cada um, a festa da ‘normalidade do espanto’.
O espanto do amor que tudo excede e a normalidade frágil e potente que somos nós.
O Belo fez-se versão humana para que o humano seja Belo.
O que falta fazer é o véu de mistério que nos permite antever, fazer e ser o desafio maior da nossa existência.
…E o resto da história está a fazer-se com as nossas vidas que, dando vida, realizam a Vida no mundo.