eleger
A eleição, no sentido que lhe dá a espiritualidade inaciana, é uma ontologia de processo. Tateante, como o discernimento, está a fazer-se e plasma-se no ordinário de todos os dias. Viver é ir elegendo…
A eleição, no sentido que lhe dá a espiritualidade inaciana, é uma ontologia de processo. Tateante, como o discernimento, está a fazer-se e plasma-se no ordinário de todos os dias. Viver é ir elegendo…
Alguns crentes ficam “sem pé” diante de certa autonomia do mundo. Compreendende-se, mas esse horror ao pulsar cósmico pode relevar traços de um deus marioneteiro inconsistente. Ajuda a ciência e os seus insights (na astronomia, na física, na química, na biologia, na história, na psicologia e na sociologia, por exemplo). Torna-se mais claro, hoje, que o agir de Deus se plasma no sentido da história e é a provocação à solidariedade humana que nos dará sentido.
O quadro bíblico relatado no Livro do Génesis sobre Adão e Eva, alude com toda a certeza à crença judaica de que a criação do universo e da vida têm a sua justificação última em Deus, que no seu infinito amor criou (e continua a criar) o universo e a humanidade. Exprime também a ideia de que a nossa espécie tende a ser auto-suficiente e a virar as costas ao Deus-Amor que a criou. Adão e Eva simbolizam toda a humanidade. «Comer a maçã» representa prescindir de Deus e bastar-se a si próprio na compreensão do mundo e do sentido da vida. Comer ou não comer a maçã é ainda, neste sentido, o verdadeiro jogo da liberdade do homem, a tensão de possuir, que é o contrário de se oferecer, de confiar, de se entregar. É este o seu pecado original, isto é, o seu pecado mais profundo. Mais do que um deslize, é uma falha estrutural que há que aceitar, com a nossa própria finitude.
Definitivamente, a unidade faz-se na diversidade. O caminho será sempre pluri-identitário. O monocronismo uniformista pode ser tentador mas não subtrai apenas à estética do belo pluriforme, acabará também por esbarrar com a liberdade sagrada de cada ser…
Muitas conversas de índole filosófico-teológica se situam no eixo materialidade-simbolismo. Compreende-se esse movimento mas sinto necessidade de o triangular com uma outra dimensão, a da realidade. Com efeito, não é nem decisivo nem exclusivo arrumar eventos como materiais ou simbólicos. Pode existir realidade, com ou sem materialidade, com ou sem simbolismo. As explicitações religiosas, estão plenas de gestos e momentos onde quer o ‘só material’ quer o ‘só simbólico’ são insuficientes. A nossa vida experimenta poder haver muito sentido real, com ou sem materialidade, com ou sem simbolismo…
A palavra mistério é usada e abusada pelos crentes. Está bem invocá-la para aquilo que não sabemos nem podemos dizer, neste tateamento da transcendência. Seria prescindível (a invocação de mistério) quando usada para esconder ignorância e contradizer a racionalidade desnecessariamente.
Nem a não certeza da fé é uma desgraça pois há graça neste processo de acreditar ser precisamente… um processo…uma graça…
A palavra gás pode ter origem em ‘geest’ que, em holandês significa espírito. Terá sido Van Helmont que batizou esse ‘espírito’ como ‘gás silvestre’, afinal o que se liberta quando uma substância natural perde a forma por combustão. Seria o nosso atual dióxido de carbono. Estas histórias são curiosas e o que acho simplista e metodologicamente uma grande salgalhada é deduzir coisas como: agora que, graças à ciência, sabemos que é dióxido de carbono, então não há espírito…
Perante o (complexo e universal) problema do mal (latus sensus) arrisco uma metodologia:
1- Aceitar como condição intrínseca à vida humana.
2- Ao mesmo tempo que “me rendo”, pois também “luto” e interpreto a minha existência como certo combate ao mal, promotor do bem, em mim e à minha volta.
3- Faço por distinguir entre o mal (em mim e nos outros) que tem o selo da minha responsabilidade e o que francamente me supera. Posso trabalhar mais o primeiro…
4- … Mas sinto-me convocado em promover o bem num dinamismo que me ultrapassa, focado em sarar as feridas do ‘nós’.
Nota: pessoalmente, teria dificuldade em protagonizar os itens acima sem: esperança, contemplação da beleza que espreita… e paciência…
Muitos equívocos de fronteira entre ciência e religião e o seu ensino prejudicam uma ciência moderna e contextualizada e podem contribuir para uma religião infantilizante. Do lado religioso, muita ignorância e inflexibilidade têm alimentado imagens de Deus menos boas, incapazes de serem compreendidas e acolhidas na nossa cultura de conhecimento. Do lado da ciência, por outro lado, existem também inúmeros fundamentalismos, como se a ciência fosse resposta a todas as questões da Humanidade. A par da abordagem científica que interroga e tenta entender o cosmos, está sempre em cima da mesa a questão do sentido da vida, para o qual a religião trilha caminhos.