amar
Amar, posso sempre…
Amar, posso sempre…
Espetro
O espetro
é esperto
pois diz
o que é
a sua raiz.
A luz,
acertada,
dança
com matéria,
na esperança
de ir perto.
O que sai
dessa dança
é coisa
bem séria:
dançam
os átomos,
com a radiação,
o espetro
te dá
a informação.
Transporta
consigo
o que é,
donde vem,
e dados
escondidos
que vão
mais além.
O teu espetro,
óh humano,
o outro
é que sente,
não é improviso.
Sincero, a metro
teu espetro
de gente
será
um sorriso…
in Paiva, J. C., Quase poesia quase química (2012) (e-book). Lisboa, Sociedade Portuguesa de Química.
acessível aqui (porventura enriquecido com uma ilustração)
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 6, 27-38
«amai os vossos inimigos»
Poucos duvidam que a leitura da passagem de Lucas 6, congrega a mais difícil (mas também a mais original) “empreitada cristã”: a centralidade do perdão, que é (hiper)doar, pode também ver-se neste prisma de amar os inimigos. Neste texto há um conjunto de frases quasi-sinónimas, que, apesar de radicais e quase contra-natura, podem ser inspiradoras: “fazei bem aos que vos odeiam”, “abençoai os que vos amaldiçoam”, “orai por aqueles que vos injuriam”, “a quem te bater com uma face, apresenta-lhe a outra”, “a quem te levar a capa, deixa-lhe também a túnica”, “ao que te levar o que é teu, não reclames”… Falam por si… Não devendo cair em “alimentação de monstros” nem em submissões indignas, poderão ser caminho de liberdade.
NOTA: Este artigo é repetido/adaptado de um outro já publicado neste blog
DOMINGO VII DO TEMPO COMUM
L1: 1 Sam 26, 2. 7-9.12-13.22-23;Sal 102 (103), 1-2. 3-4. 8 e 10. 12-13
L2: 1 Cor 15, 45-49
Ev: Lc 6, 27-38
Paradoxalmente, a fruição do momento presente, para ter qualidade, não é voraz, mas austera…
Há um (quase) mistério com o alumínio. Usa-se em janelas e outros materiais, precisamente para evitar a corrosão. No entanto, é dos materiais que oxida mais facilmente e, por isso, entra em imediata e extensa corrosão. Onde está a nuance? É que, precisamente por oxidar facilmente, qualquer pedaço de alumínio cria uma película de óxido de alumínio. Este óxido, ao contrário de outros, é impermeável ao oxigénio e protege a efetiva corrosão sucessiva. Isto é, quando estamos a olhar para alumínio, estamos a ver, de facto, uma peça metálica revestida por uma película de óxido de alumínio, transparente e impermeável ao que permite a corrosão. Em rigor, nunca de nós viu alumínio metálico sem estar protegido por óxido de alumínio… e só numa câmara de vazio se conseguiria tal. “olha alumínio!”: Esquece, já estás a ver óxido de alumínio… Quase tudo o que é… já era. No alumíno, este dinamismo é “só” muitíssimo rápido…
A pobreza espiritual é libertadora: é a abertura ao que acontece, à novidade. São as mãos vazias. É um certo ‘nada’ que acolhe como dom aquilo que o tempo e o espaço oferecem. Não é passividade, é uma pró-atividade que tenta melhorar o mundo com a riqueza da surpresa acolhida…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se 1 Cor 15, 12.16-20
«Se Cristo não ressuscitou, é inútil a nossa fé»
A frase de Paulo aos coríntios é bem conhecida dos cristãos e mote de muitas pregações e escritos espirituais. Propõe-se uma ligeira mudança no sujeito da frase “se eu não ressuscito é estéril a minha fé”. Esta frase, traduzida em vida, significa um claro respeito pelas minhas lágrimas, pelas minhas tristezas e pelas minhas “mortes”, mas um olhar sobre o horizonte, mais do que para os próprios pés cansados. Ressuscitar é recomeçar! E este respirar é tanto um alento existencial, como, principalmente, um mote para cada desafio de cada minuto, de cada espaço da nossa vida.
NOTA: Este artigo é repetido/adaptado de um outro já publicado neste blog
L1: Jer 17, 5-8; Sal 1, 1-2. 3. 4 e 6
L2: 1 Cor 15, 12. 16-20
Ev: Lc 6, 17. 20-26
A conclusão, por parte de alguns não crentes, de que o aparecimento do universo dispensa qualquer dom criador de Deus parece basear-se numa quase artesanal concepção da criação. A afirmação de que Deus criou o mundo, afirmação comum ao cristianismo e a outras religiões, não pretende ser uma afirmação científica, no sentido em que esta expressão é hoje entendida. Quererá isto dizer que as explicações científicas e religiosas do mundo são radicalmente diversas, mesmo opostas? A dificuldade em responder a esta questão reside no facto de, por um lado, parecer conveniente distinguir as explicações científicas e religiosas do mundo e, por outro, parecer inconveniente criar um tal dualismo epistemológico que possa ser interpretado como um dualismo ontológico. O aforismo filosófico segundo o qual «distinguir não é separar» é a este propósito muito elucidativo. Embora seja conveniente reconhecer uma distinção entre Deus e o mundo, tal não significa que se deva afirmar igualmente uma separação entre ambos. Esta afirmação pode levar alguns a classificá-la como panteísta. Teilhard de Chardin parece ter defendido que Deus e o mundo partilham uma mesma história, e teve consciência de que poderia ser acusado de panteísmo. Cedo se demarcou de tal posição, mas isso não evitou que viesse, de facto e injustamente, a ser assim considerado.
Há uma ratoeira espiritual em que podemos fazer por não cair: esperar pela purga total, pela limpeza total, pela perfeição, para crescer e ser o que podemos ser. O caminho é dinâmico e faz-se caminhando, com a simbiose entre a purificação e a ação…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 5, 1-11
«Deixaram tudo e seguiram Jesus»
Os cristãos, em última análise, são frágeis seguidores de Jesus, o Cristo. O relato de Lucas fala-nos de pesca, de abundância, de deixar tudo e seguir Jesus. A pesca corria mal mas a presença de Jesus trazia abundância. Fascinados com essa plenitude resultante da amizade com Jesus, os discípulos mudaram a orientação da sua pesca, deixaram tudo e tornaram-se “pescadores de homens”. Os critérios de Cristo convidam-nos a uma recentralidade humanista: são os outros homens e mulheres que nos importam. Os cristão podem provocantemente perguntar-se: Que pesca fazemos? Como “convocamos” Jesus para nos acompanhar naquilo que nos importa? Como sentimos a abundância da Sua presença? Que mudanças somos capazes de fazer para O seguir, “pescando” de outra forma?…
NOTA: Este artigo é repetido/adaptado de um outro já publicado neste blog
L1: Is 6, 1-2a. 3-8; Sal 137 (138), 1-2a. 2bc-3. 4-5. 7c-8
L2: 1 Cor 15, 1-11 ou 1 Cor 15, 3-8. 11
Ev: Lc 5, 1-11