o homem, a máquina e Deus

A inteligência artificial, os super-computadores e as biomáquinas estão aí. Até que ponto passarão a fazer cada vez mais parte da nossa identidade de seres humanos? Até que ponto se dará a fusão entre máquinas e seres humanos? Poderão as máquinas inteligentes do futuro ter consciência? Poderão ajudar-nos a resolver, mais facilmente do que agora acontece, não apenas complexos cálculos matemáticos, mas complexos dilemas éticos? Perguntarão, como nós, qual o sentido profundo e fundamental do universo e da vida? Quererão saber se existe Deus? Quererão relacionar-se com Ele? Poderão encontrar uma prova da sua existência? Poderá parecer que todas estas questões pertencem ao reino da ficção, que nunca se tornará realidade. Se, porém, considerarmos que o universo e a vida continuam a evoluir e que Deus continua a criá-los, quem somos nós para decidir o que Deus, através dos homens (mais ou menos apoiados tecnologicamente), criará no futuro?…

JP in Ciência 10 Março, 2022

diálogo como teofania

O diálogo pode ser um verdadeiro encontro com a plenitude, uma teofania. Talvez por isso, também por isso, o diálogo inter-religioso não é um apêndice facultativo da teologia que temos à nossa mercê: esse diálogo é, verdadeiramente, um fecundíssimo lugar teológico!

JP in Espiritualidade Frases 8 Março, 2022

esteve no deserto, conduzido pelo Espírito, e foi tentado

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 4, 113

«Esteve no deserto, conduzido pelo Espírito, e foi tentado»

Em início de tempo de Quaresma (preparação para a Páscoa), somos confrontados com as tentações ocorridas no deserto da vida de Jesus. Ele experimenta com forte intensidade os convites tentadores à honra, ao poder e à glória. Como cada um de nós… Mais do que na interioridade, na intelectualidade e nos sonhos (embora também importe), é no quotidiano que estes desertos se nos deparam, quando queremos ser reconhecidos forçadamente, quando queremos ‘mandar’, quando queremos ser o centro. A preparação para a grande ponte (entre a morte e a vida), que é a Páscoa, carece desta consciência de deserto, o deserto da nossa auto-centralidade…

NOTA: Este artigo é repetido/adaptado de um outro já publicado neste blog

DOMINGO I DA QUARESMA


L1: Deut 26, 4-10; Sal 90 (91), 1-2. 10-11. 12-13. 14-15
L2: Rom 10, 8-13
Ev: Lc 4, 1-13

JP in Sem categoria 6 Março, 2022

ouro e pedra

Para a cultura yoga o desapego material expressa-se em ideias como a possibilidade de atingir a sensação plena e vivida de que o ouro não vale mais do que uma pedra. Inspirador…

JP in Espiritualidade Frases 4 Março, 2022

Hoje só posso escrever sobre a guerra e a esperança…

Paiva, J. C. (2022). Hoje só posso escrever sobre a guerra e a esperança… Site Ponto SJ, 28-02-2022.

Disponível aqui

Tinha, em versão preliminar, um conjunto de reflexões escritas para o ponto sj, mas são agora minudências eclesiais… Vão ficar para mais tarde, até porque poderão mudar de sentido.

Os desafios em cima da mesa são muitos, novos e enormes. Mesmo no cenário mais otimista de desfecho rápido da invasão e do fim da guerra, o mundo, a Europa, o nosso país, a Igreja e todos nós estaremos diante de uma nova realidade, que vai pedir novas perguntas e novas e exigentes respostas.

É verdade que para alguns de nós, o sempre novo e a sempre nova resposta é o Evangelho. A fragilidade aguda, a crueldade humana no seu expoente maior, a dor, o desespero e a morte, terão sempre, em chave cristã, um paradoxal apontamento para a esperança e para a essencialidade do Amor. Porém, sucederam-me, depois de uma espécie de congelamento atónito naquele (futuramente histórico) dia de 24 de fevereiro de 2022, alguns apontamentos não sistemáticos, que partilho despretenciosamente:

1 – O mundo vai mudar muito

É inevitável. Se amanhã o exército russo recuar ou houver uma degradação interna da Rússia (a minha esperança maior, apesar de tudo, quiçá alavancada pelas Mães dos soldados…), o mundo já não é nem ficará o que era. É preciso que Put(-)in (não se escamoteie a sua crucial responsabilidade) seja put-out e ninguém sabe como tal vai acontecer. O primado da desconfiança prudente entre os povos ganhará novos contornos e um novo ciclo histórico, de consequências imprevisíveis, acontecerá. A leitura do passado e até as intuições do presente, remetem-nos para lições que se retiram dos conflitos, mas o balanço da guerra, sejamos realistas, será sempre negativo e brutal. Se somos cada vez mais, em todo o lugar e em todo o momento, cidadãos ligados e em comunicação, então a mudança geopolítica será uma mudança também em cada comunidade e em cada pessoa. Os ciclos da história apontam-nos para uma ainda maior fragilização dos mais frágeis, assim como com a pandemia, mormente ainda com a guerra.

2 – Quanto mais lento o fim da guerra, mais prejuízo sócio-económico

Já se adivinham as consequências desta guerra no plano económico-social. Os efeitos boomerang das sanções económicas e o elevado custo da energia vão fazer disparar preços e tornar os pobres mais pobres. Há ainda um impacto indireto, de médio longo prazo, que me parece incontornável: haverá algum sentido crítico sobre o gasto dos estados mais desenvolvidos nos dinamismos de proteção social, em comparação com outras dimensões, como a da segurança. Do ponto de vista político, será muito provável assistir a deslocação de verbas de pensões sociais e outras rubricas de promoção humanista para segurança e defesa. Quanto mais tempo durar a guerra, mais estas tendências se intensificam. Não sendo nem óbvio nem desejável, o envolvimento bélico de países da NATO traria esta preocupação para escalas absolutamente desesperantes.

3 – A solidariedade sustentável como caminho

A solidariedade, desde logo por mandato evangélico, mas de convocatória generalista e humanista, vai tornar-se ainda mais urgente. Esta é uma oportunidade de fraternidade que funciona como avesso do hiperconflito à escala global. Convirá somar à positiva emocionalidade do espírito de compaixão e partilha uma efetiva sustentabilidade, racionalidade e operacionalidade do que vai importar empreender. A sociedade civil, o estado e as forças regionais deverão harmonizar-se e apostar na planificação inteligente de todas estas novas demandas. Passarão numa primeira instância pelo acolhimento dos cidadãos ucranianos que nos chegarem (esteve irrepreensível, a este propósito, o primeiro-ministro de Portugal – não levou o meu voto nas últimas eleições, mas leva sem hesitação um rasgado elogio na sua ação e intervenção nesta crise). Mas rapidamente a malha de acolhimento dos mais desfavorecidos vai ser convocada para todos os cidadãos – que serão mais – em fragilidade social. A Igreja e as instituições a ela ligadas, com enraizada e efetiva ação a este nível em Portugal, serão convocadas a fazer ainda mais e melhor.

4 – Novos olhares sobre a segurança

Há uns tempos manifestei a alguém uma opinião muito pessoal, mais ou menos nestes termos: “eu, que fiz a tropa e não a acho tão má como a pintam, via com bons olhos o serviço militar (ou cívico) obrigatório em Portugal. A minha motivação prende-se com certa educação social para a privação, a obediência e o sentido de pertença comum das novas gerações. Mas sei que não há condições eleitorais para propor isso”. Pois muito bem, retiro o que disse na última parte. Antevejo nova revalorização de toda a relevância militar que espero, agora, não se torne também excessiva e desproporcionada, como se de um 8 para 80 se pudesse tratar…

Há uma importante reflexão a (re)fazer sobre a designada “guerra justa”, triangularizadora da política, da justiça e das religiões. Já estava na ordem do dia, mas poderá ganhar mais valor.

5 – Algumas oportunidades para a valorização do lado espiritual da vida humana

Somos seres espirituais, independentemente da manifestação religiosa de cada um e de cada povo. A fragilidade humana, mais privada ou mais coletiva, convoca sempre esta dimensão, reduto de interioridade, de refúgio, de encontro e de sentido. As religiões, por outro lado, poderão ser reconvocadas para (ainda mais) protagonismos de diálogo e de paz. A ida do Papa Francisco ao embaixador da Rússia em Roma (em vez de o mandar chamar, como é prática diplomática), no seu pé titubeante, é, por si só, um gesto de paz, pleno de simbolismo e sentido.

É límpido, também hoje e principalmente hoje, que só o amor é a resposta. Nesta circunstância, qualquer um de nós tenderá a sacudir os seus lados mais fúteis. Sem relevar o impacto brutal, aos mais variados níveis, daquilo que está a acontecer, particularmente para os atores da guerra no terreno, sejam ucranianos ou russos, situamo-nos diante da fragilidade aguda e da morte. Como a vida nos foi ensinando, face a outras (mais pequenas) mortes: não há alternativa existencial a viver acreditando e a acreditar vivendo que o sofrimento não é a última palavra. A nossa resposta, a nossa oração, a nossa vida (que continua…), a nossa ação, serão, hoje como ontem e amanhã, as mesmas de outras guerras. Para onde iremos, Senhor do amor, se só tu tens palavras de vida?…

JP in Sem categoria 2 Março, 2022

alma e corpo…

O teólogo ortodoxo Olivier Clément faz referência às inspirações bíblicas de um “corpo animado” e de uma “alma vivente”. Este “dois em um”, no sentido inverso ao da dualidade corpo/alma, tão negativamente marcada na tradição cristã, é um convite à integração: (a menos de melhores termos) é corpo E alma. Também espreita certa ontologia essencial: não temos corpo e alma, SOMOS CORPO (relações) e ALMA (vida).

JP in Espiritualidade Frases 28 Fevereiro, 2022

Por que é que tu reparas no cisco que está na vista do teu semelhante, e não vês a trave que está nos teus próprios olhos?

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 6, 39-45

«Por que é que tu reparas no cisco que está na vista do teu semelhante, e não vês a trave que está nos teus próprios olhos?»

A mais radical humildade é o convite central desta passagem do evangelho de Lucas: a verdade de mim mesmo, os meus próprios limites. Ajuda ter este cenário de fundo nos exercícios críticos das mais variadas organizações: escolas, sistemas políticos, famílias, Igreja. Há sempre um ‘efeito buberangue’ que convém ter em conta. Por exemplo, eu vejo, julgo e digo (talvez bem e justamente) que “eles” não ligam muito aos mais desprotegidos, indefesos ou pobres; e eu?…

NOTA: Este texto é repetido/ajustado a partir de evento já publicado neste blog anteriormente.

DOMINGO VIII DO TEMPO COMUM

L1: Sir 27, 5-8 (gr. 4-7); Sal 91 (92), 2-3. 13-14. 15-16
L2: 1 Cor 15, 54-58
Ev: Lc 6, 39-45

JP in Sem categoria 26 Fevereiro, 2022

amar

Amar, posso sempre…

JP in Frases 24 Fevereiro, 2022

Espectro

Espetro

 

O espetro

é esperto

pois diz

o que é

a sua raiz.

A luz,

acertada,

dança

com matéria,

na esperança

de ir perto.

O que sai

dessa dança

é coisa

bem séria:

dançam

os átomos,

com a radiação,

o espetro

te dá

a informação.

Transporta

consigo

o que é,

donde vem,

e dados

escondidos

que vão

mais além.

O teu espetro,

óh humano,

o outro

é que sente,

não é improviso.

Sincero, a metro

teu espetro

de gente

será

um sorriso…

in Paiva, J. C., Quase poesia quase química (2012) (e-book). Lisboa, Sociedade Portuguesa de Química.

acessível aqui (porventura enriquecido com uma ilustração)

 

JP in Ciência Poemas Química 22 Fevereiro, 2022

amai os vossos inimigos

DOMINGO VII DO TEMPO COMUM

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 6, 27-38

«amai os vossos inimigos»

Poucos duvidam que a leitura da passagem de Lucas 6, congrega a mais difícil (mas também a mais original) “empreitada cristã”: a centralidade do perdão, que é (hiper)doar, pode também ver-se neste prisma de amar os inimigos. Neste texto há um conjunto de frases quasi-sinónimas, que, apesar de radicais e quase contra-natura, podem ser inspiradoras:  “fazei bem aos que vos odeiam”, “abençoai os que vos amaldiçoam”, “orai por aqueles que vos injuriam”, “a quem te bater com uma face, apresenta-lhe a outra”, “a quem te levar a capa, deixa-lhe também a túnica”, “ao que te levar o que é teu, não reclames”… Falam por si… Não devendo cair em “alimentação de monstros” nem em submissões indignas, poderão ser caminho de liberdade.



NOTA: Este artigo é repetido/adaptado de um outro já publicado neste blog

DOMINGO VII DO TEMPO COMUM

L1: 1 Sam 26, 2. 7-9.12-13.22-23;Sal 102 (103), 1-2. 3-4. 8 e 10. 12-13
L2: 1 Cor 15, 45-49
Ev: Lc 6, 27-38

JP in Sem categoria 20 Fevereiro, 2022