concordismo
Não é só a literalidade bíblica que oprime a revelação que quer sair das palavras. É também abafante forçar o concordismo das Escrituras, na fixação espartilhada de história, da literatura, da sabedoria e da cronologia.
Não é só a literalidade bíblica que oprime a revelação que quer sair das palavras. É também abafante forçar o concordismo das Escrituras, na fixação espartilhada de história, da literatura, da sabedoria e da cronologia.
Uma certa ambiguidade de Deus, que intuímos e experimentamos, não é arbitrária: é uma necessidade estrutural inerente à relação entre o Criador e a criatura.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mc 8, 27-35
tome a sua cruz e siga-me
Jesus não convida a que se suprima a cruz mas a que se tome a cruz. Também não parece existir aqui convite a fabricar cruzes ou a ir buscá-las onde não estão… Basta a cruz de cada dia… A cruz, num sentido pascal, é a realidade existente, contingente, insuficiente, incompleta, que mora dentro e fora de nós. A cruz é um “produto” indissociável da nossa condição de finitude. Os humanos que não têm fé têm também a sua cruz, neste sentido do preço da finitude. O que é distintivo da fé, portanto, não é a cruz. É a paixão e o amor com que nos rendemos a tomar a nossa cruz, que inclui as cruzes da humanidade…
Este texto é adaptado em parte ou na totalidade de palavras anteriores já publicadas.
L 1 Is 50, 5-9a; Sl 114 (115), 1-2. 3-4. 5-6. 8-9
L 2 Tg 2, 14-18
Ev Mc 8, 27-35
Nunca convém ver o mundo a preto e branco mas, se eu tivesse de escolher uma dicotomia na linha da crença, não escolheria os crentes e os descrentes. Antes os buscadores e os acomodados, com gente de ambos os lados a ir à missa…
O famoso ateísta militante Richard Dawkins fez uma afirmação bombástica (…) perante os atentados de 11 de setembro’ 2001 em Nova York: “se não houvesse religião, nada disto teria acontecido”. O arcebispo da Igreja reformada britânica, Douglas Williams, contra-argumentou brilhantemente: “não haveria tal cruel atentado, se não houvesse aviões…”.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mc 7, 31-37
disse-lhe: «Efatá», que quer dizer «Abre-te»
Do Evangelho de Marcos, a propósito da cura de um surdo, que mal podia falar, ouvimos uma exclamação de Jesus que bem se poderia constituir como o hino da fé: «Efatá», que quer dizer «Abre-te». Na realidade, uma das chaves de leitura para o que somos, inclui o reconhecimento das nossas prisões, das nossas paralisias, dos nossos ouvidos cerrados, das nossas mãos fechadas. Em saída, o ‘piparote da fé’ é, precisamente, Efatá. Será nesse processo, na abertura, na liberdade, no caminho, na escuta, nas mãos abertas, que nos encontraremos, abandonados e rendidos à dádiva. O grito de Deus é só este: Efatá.
Este texto é adaptado em parte ou na totalidade de palavras anteriores já publicadas.
L 1 Is 35, 4-7a; Sl 145 (146), 7. 8-9a. 9bc-10
L 2 Tg 2, 1-5
Ev Mc 7, 31-37
Effattha é uma palavra bíblica com forte potencial de síntese. A sua melhor tradução seria “abre-te” … Mas o que destacaria, como Graça e como Promessa, é o abrir-se, principalmente, à novidade trazida na realidade do tempo…
A busca espiritual enquanto procura de significados faz de todos nós seres espirituais e afasta a espiritualidade de monopólios, nomeadamente em relação às religiões…
Quem se não confronta consigo mesmo tem sérios riscos de ficar na mesma…
Ser responsável, no seu contexto etimológico, significa “ser capaz de dar respostas”. Admitamos que todos nós, ainda que uns mais do que outros, temos certa irresponsabilidade existencial!…