sim à realidade
O que Jesus faz na cruz, que é um pico de amor, mais ainda do que um pico de dor, é um grande sim à realidade, como ela é. É o primado da aceitação concentrado num único sonho que nos supera: o de sarar feridas com entregas!
O que Jesus faz na cruz, que é um pico de amor, mais ainda do que um pico de dor, é um grande sim à realidade, como ela é. É o primado da aceitação concentrado num único sonho que nos supera: o de sarar feridas com entregas!
Em sábado de Semana Santa há um convite para acolher as trevas, o tempo de que precisamos para chamar ao sofrimento e à morte os nomes que são esses mesmos…
Uma oportunidade de visitar o nosso túmulo, as nossas próprias sombras. Nenhuma vida, muito menos uma vida nova, brotará da fuga daquilo que somos. Portanto, desde já afagados pela companhia duma ressurreição garantida, saibamos visitar a realidade radicalmente frágil que somos. Só conhecendo-a e aceitando-a, poderemos ressuscitar, num amanhã que se antecipa.
Ontologicamente contigo
Meio de meio
século
Contigo
É tempo
De meia vida.
Assim me ligo
Tecido
Em filhos de linho
Docemente
Protegido
Por amor prévio
Caminho.
Teu sorriso
Me seduz
Tuas mãos
Imanam luz
Tua alma
Santifica
Teu ventre
Me frutifica.
E eu, João,
Em nini
Comprometido
Te tomo
E retomo aqui
Como sendo
Teu querido.
Preso
Nesta liberdade
Sou por dentro
Teu marido.
Promotor
Sou promovido
Atulado
Em amor
Mais ainda
Agradecido.
1 de agosto de 2016
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mc 14, 1-15, 47
ainda que todos te abandonem, eu não te abandonarei
A descrição da Paixão de Cristo, que meditamos em domingo de Ramos, é tão longa quanto profunda e repleta de sinais. Uma das formas de mergulhar neste texto é situarmo-nos nas diversas personagens e, em atitude criativa de composição do lugar, perguntar-se “quem sou eu neste cenário?” Pedro, que prometera não abandonar o Mestre, mas que o nega? Simão, o cireneu, que ajuda Jesus a levar a cruz? Um soldado? Um personagem incógnito que vê a cena mas não se envolve nem se co-move? Pilatos, que lava as mãos? O próprio Jesus? Maria, que assiste em envolvimento e dor? Barrabás, que se safa na frincha da sorte? O bom ladrão, que in extremis se arrepende e confia?…
SENSUAL AVULSO
Um seio,
um olhar,
um sorriso,
uma sedução.
Um corpo,
um sexo
escravidão.
Apalpar
fazer e tocar
em provocação.
O que era belo
o que é belo
em liquidação!
…in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.
acessível aqui
OCEANO DE BEM ESTAR
O oceano
de bem estar
deixa atónita
a razão de ser
de tanta felicidade.
Vive-se sem perguntar
o mundo belo
duma aventura bonita.
Está-se leve mas
consciente,
apostado nos dois
mas aberto ao mundo!
…in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.
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ESTA NOITE
Esta é a noite
difícil e bela
em que mesmo que pudesse
não dançaria contigo.
É a noite em que te perco
e ofereço o meu
gemido de alegria.
Esta noite é dura e bela
é a noite do amor.
…in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.
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PRESENTE NA FALTA
Pela falta
sinto-te presente.
Falta o teu
calor de sorrisos
a tua voz
de vida.
Falta o teu cheiro
perfume
as tuas mãos
delicadas.
Faltam os teus
lábios belos e
teus cabelos
de cor.
Por não estares
te sinto tanto,
e só não desato
em pranto,
por saber do
nosso amar.
Assim saboreio
com gosto
o que seria
desgosto
se não fosse
acreditar.
…in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.
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ESPERAVA TUDO…
Esperava tudo
da vida
menos sofrer
de paixão!
Esperava tudo
menos respirar
dificilmente.
Esperava tudo
da vida
menos esta partida
de não me conhecer.
Sou criança.
Não sei
escrever poemas
sem nenhum
verso de esperança.
…in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.
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