com limão faz limonada…
A célebre frase “se te oferecerem limões faz limonada!” é plena de sabedoria. Reproduz uma límpida e luminosa atitude de conciliação com a realidade.
A célebre frase “se te oferecerem limões faz limonada!” é plena de sabedoria. Reproduz uma límpida e luminosa atitude de conciliação com a realidade.
Para dores da vida (que nos fazem crescer) bastam as dores que a vida tem. Não precisamos de precipitar dores de crescimento porque a realidade encarrega-se de nos proporcionar tal. Da mesma forma, analogicamente, para aborrecimentos, tensões, cenários de constrangimento e de “ter que fazer sem grande motivação”, bastam as situações imprevistas. É prudente, portanto, discernir e decidir todos os convites e solicitações. Para que se diga sim ao que é mais carregado de motivação intrínseca, sentido e, assim fecundidade (mesmo que “doa”). E para que se diga não se “cheirar a esturro”, a prisão, a peso excessivo, pura obrigação exterior ou manipulação e, assim, menos ou nada fecundo…
Na senda das sugestões de Thomas Halik em ‘Paciência com Deus’, diante da incompletude e de muitos esmagamentos que nos sufocam, temos quatro grandes filões de resposta: 1- desespero e depressão; 2- adaptacionismo interesseiro (em Roma sê romano…); 3- droga-te (com várias coisas como droga, dinheiro, religião e outras coisas em dose alienante); 4 – fé. Isto é, perseverar pacientemente na crença vivida de que há um sentido.
Conta-se a história de um monge budista jovem que, julgando-se já iluminado, parte para longe e afasta-se da zona da sua formação. Voltando anos depois, vai ao encontro do mestre. Face a ele, o jovem vê-se confrontado com uma pergunta simples: “em que posição deixaste as tuas sandálias?”. O jovem não se lembrava e o mestre disse então: “não alcançaste iluminação”. Faltava ao jovem o que nos falta a todos: atenção simples.
A ideia de que a vida é fácil, muitas vezes vertida em teorias e práticas educativas, é de sacudir. Claro que também não ajuda o avesso pessimista, de que a vida é só e principalmente negro. Inspira a máxima de Simone Weil: “não é o caminho que é difícil, é o difícil que é caminho”…
Muitas pessoas e famílias têm (temos) agendas intensas de mais, com ‘sins a tudo’, sobrando menos tempo para o descanso, o lazer, o encontro connosco próprios, a oração, a alimentação do ‘carisma de família’, etc. Principalmente na vida urbana, há uma agenda muito carregada. Falo das (múltiplas, talvez de mais…) atividades dos filhos, dos aniversários de amigos e filhos de amigos e familiares, dos eventos que, embora sociais, têm ‘insinuações’ profissionais, de outros até de natureza apostólico-religiosa (para quem os tem), de funerais e velórios, de reuniões de associações de pais, etc, etc. (até cansa a invocação…). A pergunta tensional seria: temos de ir a todas? Suspeito que a resposta é “não”. Cada um terá um trabalho de casa interior para explorar porque, em nome de bens maiores, como o descanso, a estabilidade familiar ou outros motivos, poderá dizer menos ‘sins’ e deixar de estar em todo lado, porventura não estando bem em sítio nenhum… Estou consciente que este é um discernimento complexo e dinâmico. O que estou a partilhar e a convidar-me a praticar, tem um perigo: a instalação, o conforto egocêntrico ou a ausência de compromisso. Trata-se de uma ameaça que está no outro extremo do fazedismo e do ‘ir a todas’, que estou a especular… e é igualmente desinteressante e perigoso, para o próprio e para a humanidade. Muitas vezes move-nos um enganador ‘e o outro – que convidou – fica ofendido(a)…’. Mas a esse argumento costumo auto-responder: se fica ofendido(a), sem querer saber, confiar ou compreender os meus argumentos, é também porque tem pouco potencial de amizade… No seio desta complexidade, para nós que queremos ser coerentes e honrar os nossos compromissos, está muito o facto de, precisamente, nos comprometermos com coisas de mais. E depois do compromisso, segue-se a compreensível fidelidade… mas que às vezes atinge limites imensos, como se houvesse super-homens ou super-mulheres. E nesses casos poderá também ter de se ganhar coragem e arrepiar caminho, recuando. Há que contar bem as armas antes de aceitar certos compromissos… E uma vez comprometido, pois sejamos fieis…
Reconhecer-se reconhecido ultrapassa a autoestima. Para este processo é condição necessária uma dádiva prévia, uma confiança, um ato de amor, desde a barriga da Mãe, ao afecto de alguém, a poder mamar e agarrar. Quando reconhecer-se reconhecido se torna existencial, aí estamos no ventre do Cosmos, no centro da Graça, no essencial de um grande Encontro, que nos contém mas nos transcende…
Paradoxalmente, a fruição do momento presente, para ter qualidade, não é voraz, mas austera…
Deus não domina, tece…com fios que transportam a nossa própria liberdade.
Reparei noutro dia que há uma subtileza interior no olhar do mundo que nos pode ajudar: (talvez careça de fé, mas…) e se em vez de “más notícias” eu apenas colhesse tão só como “notícias”, tudo o que me chega e que me devolve uma realidade a partir da qual posso crescer?