poeta esquecido

POETA ESQUECIDO

Sou um poeta esquecido!

A mancha da agenda

calou o grito da alma.

Não que a planta não cresça.

Os compromissos

taparam as flores.

Não me culpo

nem me castigo pelo silêncio.

Quando a vida passa

e o cavalo da aposta é

o que está mais à mão,

nessas alturas, como agora

paro e olho para mim,

selecciono o epicentro

e sinto que está na hora

de recolher novo centro

e não mais correr assim.

 

in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse.

acessível aqui

JP in Poemas 22 Janeiro, 2019

a ti que sofres

A TI QUE SOFRES

A ti

que sofres

não te peço

que não chores.

Que não chore

não há quem.

Que chores,

não te peço também.

Peço-te…

que chores… bem!

 

in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.

acessível aqui

JP in Espiritualidade Poemas 30 Novembro, 2018

lutar com o tempo…

Às vezes lutamos com o tempo. Não queríamos estar aqui e agora, mas adiante, noutro instante ou noutro lugar. Esta ‘birra’ leva-nos a que o tempo nos ultrapasse. Seria bem mais libertador ‘surfar’ no tempo…

JP in Frases 22 Novembro, 2018

turismos locais…

Tive o privilégio de fazer algumas viagens. O turismo, entretanto, virou moda (ou mesmo mania…). Hoje estou mais rendido ao turismo que a realidade me oferece, porventura mais centrado no meu país, na minha região, no meu quintal, naquele detalhe da natureza e dos rostos cruzantes, aqui tão perto. A realidade impõe-se bela e diversa e, vendo bem, o espanto do olhar está menos na circunstância e na geografia, e muito mais nos meus olhos…

JP in Frases 14 Novembro, 2018

tensões e discernimento

A vida está cheia de tensões. Fazer/não fazer, dizer/não dizer, permitir/anuir, agarrar/largar, etc. Seria ingénuo entender a liberdade como a fuga destas tensões. Ser livre é procurar encontrar ‘o mais’ que espreita em cada tensão e a essa arte se chama discernimento.

JP in Espiritualidade Frases 30 Outubro, 2018

pegadas em areia molhada

É um previlégio enorme haver espaço na areia molhada da praia para as minhas e para as tuas pegadas. Espaço imenso e dinâmico, onde cabe sempre mais um par de pés para fazer caminhos. Se por hipótese (quase absurda) saturassem as marcas côncovas no solo, viria o mar em ondas refazer espaço, por cortesia da Lua, mãe das marés…

JP in Ciência Espiritualidade Frases 12 Outubro, 2018

vida imposta

Às vezes não sabemos o que havemos de fazer com a vida que nos foi dada. Em nome da verdade, sem querer alimentar vitimismos, há um certo drama na existência: a vida não nos foi só dada, foi também imposta! Poderá ajudar a dica de Virgílio Ferreira e o filão da responsabilidade: “somos responsáveis pelo que fazemos da vida e até pelo que fazemos do que outros fizeram de nós”.

JP in Educação Espiritualidade Frases 2 Outubro, 2018

Agarrando o dia

AGARRANDO O DIA

Quase me escapava,

este dia igual.

Quase parecia

o bisar da repetição

mas não!

Fica quanto amei

e tantas coisas

que aprendi.

O que fiz bem,

o que falhei.

Tudo foi

bom para mim.

Um dia

… é um trampolim.

in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.

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JP in Poemas 30 Junho, 2018

solidão

SOLIDÃO

Estou sozinho

com meio coração

pendurado

no destino.

Não escondo

a tentação.

Tenho ar para respirar.

Tenho tudo

agora, aqui

neste lugar!

in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.

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JP in Poemas 28 Junho, 2018

poema sem nada para dizer

POEMA SEM NADA PARA DIZER

Até sem nada para dizer

se pode escrever um poema.

Como o silêncio fala

e o branco é cor.

Como sem forma há forma,

como sofrer é amor.

Como o curto é comprido

e o rejeitado é querido.

Como a morte é vida

e o detestado apetecido.

Como quem julga na alma

não ter nada para dizer.

Pega na tinta e papel

e acaba sempre por ter…

in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.

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JP in Poemas