turismos locais…

Tive o privilégio de fazer algumas viagens. O turismo, entretanto, virou moda (ou mesmo mania…). Hoje estou mais rendido ao turismo que a realidade me oferece, porventura mais centrado no meu país, na minha região, no meu quintal, naquele detalhe da natureza e dos rostos cruzantes, aqui tão perto. A realidade impõe-se bela e diversa e, vendo bem, o espanto do olhar está menos na circunstância e na geografia, e muito mais nos meus olhos…

JP in Frases 14 Novembro, 2018

tensões e discernimento

A vida está cheia de tensões. Fazer/não fazer, dizer/não dizer, permitir/anuir, agarrar/largar, etc. Seria ingénuo entender a liberdade como a fuga destas tensões. Ser livre é procurar encontrar ‘o mais’ que espreita em cada tensão e a essa arte se chama discernimento.

JP in Espiritualidade Frases 30 Outubro, 2018

pegadas em areia molhada

É um previlégio enorme haver espaço na areia molhada da praia para as minhas e para as tuas pegadas. Espaço imenso e dinâmico, onde cabe sempre mais um par de pés para fazer caminhos. Se por hipótese (quase absurda) saturassem as marcas côncovas no solo, viria o mar em ondas refazer espaço, por cortesia da Lua, mãe das marés…

JP in Ciência Espiritualidade Frases 12 Outubro, 2018

vida imposta

Às vezes não sabemos o que havemos de fazer com a vida que nos foi dada. Em nome da verdade, sem querer alimentar vitimismos, há um certo drama na existência: a vida não nos foi só dada, foi também imposta! Poderá ajudar a dica de Virgílio Ferreira e o filão da responsabilidade: “somos responsáveis pelo que fazemos da vida e até pelo que fazemos do que outros fizeram de nós”.

JP in Educação Espiritualidade Frases 2 Outubro, 2018

Agarrando o dia

AGARRANDO O DIA

Quase me escapava,

este dia igual.

Quase parecia

o bisar da repetição

mas não!

Fica quanto amei

e tantas coisas

que aprendi.

O que fiz bem,

o que falhei.

Tudo foi

bom para mim.

Um dia

… é um trampolim.

in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.

acessível aqui

JP in Poemas 30 Junho, 2018

solidão

SOLIDÃO

Estou sozinho

com meio coração

pendurado

no destino.

Não escondo

a tentação.

Tenho ar para respirar.

Tenho tudo

agora, aqui

neste lugar!

in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.

acessível aqui

 

JP in Poemas 28 Junho, 2018

poema sem nada para dizer

POEMA SEM NADA PARA DIZER

Até sem nada para dizer

se pode escrever um poema.

Como o silêncio fala

e o branco é cor.

Como sem forma há forma,

como sofrer é amor.

Como o curto é comprido

e o rejeitado é querido.

Como a morte é vida

e o detestado apetecido.

Como quem julga na alma

não ter nada para dizer.

Pega na tinta e papel

e acaba sempre por ter…

in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.

acessível aqui

JP in Poemas

sopram ventos

SOPRAM VENTOS

Sopram ventos

em imensas

direcções.

Ecoam vozes

de tons diferentes

em cada

linha do horizonte.

Forças várias

empurram-me

para muitos

sentidos.

A luz.

A cor.

A água

são o deserto

em que me encontro.

Não tenho tudo

mas sei o caminho.

Sei que depende

muito de mim…

in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.

acessível aqui

JP in Poemas

scaning da escuta

Scaning da escuta

Que os meus pés

Escutem o Teu chão

E minhas pernas

Caminhem a Tua voz.

Que as minhas entranhas

Respirem o Teu silêncio

E a minha boca

Diga a Tua presença.

Que os meus olhos

Alcancem a Tua sombra

E que eu cheire

O Teu perfume.

Que eu ouça

A Tua existência…

 

2015

mais uma Primavera

Mais uma primavera

 

Sim, gostava de
viver mais primaveras.
E ver as hortenses abrir
e o cheiro do pó…
Gostava de, mais uma vez
olhar os pitos nascer
e tocar neles pequenos,
de montar estruturas na horta
e colher morangos maduros.
Mais uma primavera,
para comer o cheiro das maçãs
e até espalhar o estrume na terra.
Quero mais uma primavera
para cortar lenha
e buscar paus e pinhas
para aquecer o inverno.
E mergulhar na piscina
quente e escura
a ver estrelas no céu.
E para partilhar com outros
estes privilégios,
uma primavera se pediria.
Mas o que eu quero mesmo
desejo e sigo,
emprestando vontade,
é colher a graça
desta Primavera,
talhada com a
sacralidade
do instante
em que escrevo.
O dom da esperança
me basta
… a ele,
me rendo amorosamente.

Fornos, 11 de fevereiro de 2015

 

JP in Poemas