tomando banho…
Quantas vezes me dei ao luxo de tomar banho sem saborear, valorizar, significar e agradecer a água que corre e me limpa?…
Quantas vezes me dei ao luxo de tomar banho sem saborear, valorizar, significar e agradecer a água que corre e me limpa?…
A atenção requere tempo e como eu tenho a mania de não gostar de perder tempo, tenho desqualificado a minha atenção…
Eu seria mais livre se o meu controlar e o meu conduzir dessem asas à entrega e à fruição…
Albert Camus, ao expressar que “a moderação não tem que ser morna”, oferece-nos um trilho que contempla a radicalidade (ligação às raízes) e o equilíbrio sistémico…
Para a crença pagã os trovões eram a ira divina. Hoje sabemos que há electroestática que explica… Em salto metafórico, os trovões da nossa vida não são dramas: a existência madura e adulta concilia-se com esses feixes abruptos e pode até reconhecer-lhes, não sem estrondo ou mesmo dor, certa beleza luminosa…
Impressionam os relatos de Primo Levi – o químico escritor – ou Esther Hillesum sobre o Holocausto. Também no filme ‘a vida é bela’ se foca nesta saída: a abertura à novidade gera-se no nosso interior, se a trabalharmos, se a buscarmos, se a descobrirmos e se a recriarmos. As circunstâncias, todas as circunstâncias, por mais irónicas e agudas que sejam, são propícias ao sentido, à liberdade e à abertura à transcendência, berço da novidade.
Procuramos a bênção como se ela fosse exterior, mas talvez devêssemos procurar, antes, o reconhecimento que já nos habita. E esta procura, por sua vez, tem uma lanterna paradoxal: não há bênção sem custo…
A nossa arte de ‘matutar’ não é necessariamente má. O que pode haver, é bons e maus ‘matutamentos’. O matutar para o empreendimento ético e de serviço é saudável. O matutar muito autocentrado e controlador será menos candidato a bons frutos…
Fico com a sensação que nos bastaria tomar o tempo como uma dádiva que existe sempre, até nós existirmos e porventura mais além. Ora, muitas vezes, antecipamos ou adiamos o tempo, em vez de ‘surfar’ nele como um dom…
Há que apostar no que está na nossa mão (alimentar a paciência, a receção, o silencio, a leitura, o estudo, o crescimento e, principalmente, o ânimo, que é tanto trabalho quanto graça…). Depois, quando a realidade vier (e está sempre a vir), seja qual for, tecer com essa mesma realidade qualquer coisa de belo…