eis o Cordeiro de Deus

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Jo 1, 29-34

«eis o Cordeiro de Deus»

 

A expressão “eis o cordeiro de Deus” é atribuída a João Batista, o dizente de Jesus. Os Judeus tinham o hábito de matar um cordeiro como expressão sacrificial a Deus. Jesus como cordeiro, convoca continuamente as raízes judaicas mas apresenta algumas descontinuidades relevantes: não precisamos mais de sacrifícios de animais para agradar a Deus (o próprio Cristo simboliza essa entrega) e o sacrifício que importa para Deus é o amor que a vida de Jesus testemunha. “Cordeiro de Deus” é uma frase frequente na eucaristia e aponta para celebrar a mais nobre e inspiradora entrega, aquela de morrer por amor. Em semana de particular intensidade para a unidade dos Cristãos, une-nos esta essencialidade à volta da entrega de Cristo, que nos pode tornar precisamente seguidores de Cristo, precisamente cristãos…

JP in Espiritualidade Frases 18 Janeiro, 2020

Pai nosso alternativo

Pai Nosso alternativo

 

 

 

Pai nosso

Que estás no Universo

Especial é o Teu Ser.

Abra-me à

Relação conTigo.

Se realize,

Por mim e

Com todos,

O Teu sonho.

Agradecemos-te

Todos os dons

Da vida.

Agradecemos-Te

O amor maior

Do perdão

E pedimos a graça

De também nós

Amarmos assim

Todos os nossos

Irmãos.

Dá-nos a graça

De crescer

Na tentação

E salva-nos

…apesar do mal.

 

 

 

Soutelo, 11 de dezembro de 2016

JP in Espiritualidade Poemas 16 Janeiro, 2020

Se para uma missa basta um padre, para um padre não bastará uma missa?

J. C. Paiva, Se para uma missa basta um padre, para um padre não bastará uma missa? Site PontoSJ (que se recomenda…). 10 de janeiro de 2020.

Disponível aqui

Se para uma missa basta um padre, para um padre não bastará uma missa?

A minha intenção é pegar em alguns olhares e experiências de Igreja e dar largas a uma certa reflexão crítica, partindo de uma realidade que é inequivocamente complexa e com alguns contornos desoladores. Partindo da figura do padre,  acabarei por redundar em alguma projeção de eventual visão futura (ou futurista…) da vida eclesial. Faço notar que nesta fase da vida, sou espectador/ator de dinamismos paroquiais rurais. Mas admito que muito do que se tece aqui possa ser extrapolável para realidades mais urbanas e para outras culturas.

1 –  Se para uma missa basta um padre, para um padre não bastará uma missa?

Já há muito tempo que reclamo junto dos meus amigos padres que seria melhor celebrarem uma missa por dia, porventura também ao domingo. Entendo que os padres “turbomisseiros”, embora certamente agindo por bem, alimentam e perpetuam uma realidade insustentável.

2- Então e as pessoas ficam sem missa ao domingo?

Se for preciso, sim… Mas será a resposta que cada comunidade der, em cada lugar, aldeia, capela, que vai determinar as possibilidades e, principalmente, o futuro possível dessa vida eclesial que, em muitos casos, convenhamos, aparenta e poderá mesmo ser definhante e deprimente, principalmente no que diz respeito ao não rejuvenescimento. Mas avanço desde já atenuantes num sentido muito prático, com algum caráter prospetivo:

a) celebrações de palavra presididas por leigos, se significarem solidez, preparação, envolvimento, renovação, fidelidade à Igreja, unidade com o pároco, etc. (pode não haver recursos humanos para tal).

b) dinamismos de ‘boleias’ bem organizados para que os fieis (incluindo, obviamente, os mais carenciados e com problemas de mobilidade) possam deslocar-se às celebrações em centros da paróquia (então em menor número mas certamente mais participadas). Esta atividade de fazer com que quem queira, possa ir, é, em si própria, vida cristã.

c) celebrações com a presença do padre noutros dias da semana que não ao domingo, em alguns locais mais distantes do centro paroquial.

d) sinergias em maior escala (arciprestados, etc), que otimizem ainda mais todos estes processos

3- Isto não seria uma desvalorização do sacramento da Eucaristia?

Na versão otimista seria o contrário, sob o lema “menos e de mais qualidade”. Seria, antes de mais, o possível e realista. Mas, porventura, mais pré-preparado, mais solidário, mais confortável, menos “a correr”, em suma, mais qualificado…

4- Então e o padre – se celebrar menos missas – o que tem para fazer?

Aquilo que este tempo de Igreja e cultura lhe pedem: que seja um dinamizador pastoral, um garante da unidade com o Bispo e a Igreja no seu todo, mas não mais o executor de tudo e por quem tudo passa. Em particular, nas celebrações e em muito mais, alguém que, rezando menos missas (e porventura reduzindo igualmente outras rotinas de “serviço religioso” questionáveis) tem mais tempo e disponibilidade para:

a) ter ele próprio – padre – “qualidade de vida”, precisamente para poder descansar, rezar, formar-se, refletir com a comunidade sobre o presente e o futuro, ter a sua vida comunitária cristã, estar com as pessoas sem agenda de pressa, etc.

b) revitalizar a ligação da prática religiosa à vida e ao Evangelho, dando mais relevância a outras atividades não necessariamente sacramentais como a lectio divina com partilha de vida, meditação e outras práticas de silêncio, o acompanhamento espiritual, outras atividades de abertura à cultura e à sociedade, etc.

c) apoiar as comunidades nos desafios – agora mais auto-responsabilizantes e auto-protagonizantes por parte dos leigos – que uma vida cristã menos padrocêntrica pode implicar.  

5- E com isto não vamos ter ainda menos gente nas Igrejas? E muitas pessoas não vão ficar tristes?

Teria de se ensaiar para ver mas, se sim, se as pessoas se afastarem mais, será uma purga razoável, diminuindo porventura o grau de consumismo religioso, fenómeno que, em si próprio, é já pouco cristão e sinal de insustentabilidade. A eventual tristeza de algumas pessoas poderá perceber-se mas não pode ser matéria suficiente para não discernir e não agir. Poderão ser criadas alternativas mas a realidade impõe-se e isso tem muita importância. Ignorá-lo é esconder a cabeça na areia e o “medo de magoar” não justifica deixar andar…

6- E muitas igrejas e capelas não ficarão desertas e sem atividade?

Poderá ser que sim e isso deve assumir-se, redesenhando-se o espaço sem nunca optar pela tentação do fechar e guardar. Convém, ao contrário, abrir e partilhar. Algumas sugestões avulso sendo que o padre, mais uma vez, nunca poderá ser o ator omniactuante mas apenas um proponente e depois um ajudador daquilo que a comunidade, nos limites das suas possibilidades e motivações, desejar:

a) criar um subespaço nas capelas mais confortável (aquecido no inverno!) e acolhedor, para dinamismos de pequenas comunidades cristãs (voltar um tanto às origens) que confrontam a sua vida em partilha e se interajudam no viver a fé, em confronto com a Palavra.

b) dispor bancos, cadeiras, altar, etc., de formas inovadoras (porventura mais circulares e onde as pessoas se veem e se horizontalizam à volta de uma fé essencial). Poderá tratar-se de uma certa redecoração intencional de interiores, não necessariamente dispendiosa. Este reinvenção espacial, aliás, poderia ser implementada independentemente dos espaços religiosos estarem mais vazios.

c) mantendo a autonomia de um espaço mais reservado e de silêncio (com o sacrário, nomeadamente) recriar outros espaços no mesmo espaço, que possam abrir a Igreja a outros serviços à comunidade, de índole artístico, cultural, social e inter-religioso. De alguma forma, recriar a coreografia do espaço sagrado a um formato mais flexível, coerente com a não rigidez que este tempo, como todos os tempos, pede aos cristãos.

7- E os outros sacramentos e manifestações religiosas?

Também elas terão que ter os seus ajustes realistas e paulatinamente, haver algum filtro sobre tudo aquilo que se costuma fazer, dando mais importância ao que é essencial e relevando e subtraindo a presença do padre ao que não é crucial. A título de exemplo, em termos pessoais,  prefiro um padre que priorize funerais, mesmo à custa de centralizações e sinergias de batizados e casamentos. Prefiro um padre que se vá ausentando de algumas procissões e outras não essencialidades cristãs e tenha mais tempo para ouvir os membros da comunidade e/ou para visitar a casa de cada um… A gestão de tensões entre a continuidade e a rutura, será o discernimento maior do sacerdote…

Sei bem da ousadia e do quase simplismo que acarreta o exercício de colocar numa folha A4 um conjunto de itens que dizem respeito a uma realidade complexíssima e que traz consigo desafios gigantes. Mas reconheço, ao mesmo tempo, uma evidência clara de que as coisas não poderão ficar como estão, com todos e cada um de nós a sermos espectadores (discutíveis alimentadores?) de um dinamismo (ou falta dele) insustentável.  O traço mais marcante das ideias acima tem por base uma convicção forte de que a religiosidade mais massificada tem um perigo enorme de se banalizar. Sem resignificação criativa, fazendo-se porque sempre se fez, o perigo de afastar a religião cristã de uma vida verdadeiramente afetada pelos critérios do Evangelho é muito real. A prática religiosa, incluindo os sacramentos, parecem em inúmeras situações nada ter a ver com a vida das pessoas. A “crise das igrejas vazias” é, neste sentido, uma enorme oportunidade de requalificação da religião. Pode, a partir daqui, operar-se um certo renascimento, capaz de oferecer uma resposta coerente e integrada de uma espiritualidade que, alimentando-se também de rituais, os encara, prepara e vive como graça que se fecunda em vida-vivida num tempo que, à luz da Fé, será sempre um “tempo favorável” (2 Cor 6, 2). O padre? É um cristão, livre e feliz, com um serviço particular, centrado em animar e caminhar com outros tantos caminhantes, que queiram caminhar neste Caminho…

JP in Sem categoria 14 Janeiro, 2020

o Senhor abençoará o seu povo na paz

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Slm 28

«O Senhor abençoará o seu povo na paz»

 

As afirmações bíblicas que apontam tempos verbais futuros situam-se muitas vezes no dinamismo da Promessa. “Ele nos abençoará”, diz o salmista, confirmando que, apesar da fragilidade humana e da contingência associada à possibilidade do mal, Deus está connosco. O modo como Deus nos abençoa tem um cunho específico, que é o cunho da paz. Poderemos sintetizar: “se vem de Deus, traz paz e consolação constantes”. Podemos entender esta paz em dois sentidos: a paz que é o próprio Deus e a paz em que devemos estar para O acolher. O fluxo da paz implica proatividade e tem um enorme potencial nas relações humanas, constituindo-se como um ideal vivível, de tal forma que os que estão mais próximos de nós nos podem experimentar como sinais de paz…

JP in Espiritualidade Frases 12 Janeiro, 2020

centralidade do aluno

Discute-se muito a centralidade do aluno na prática educativa. No plano teórico e essencial, é incontestável que o aluno é o centro. Também muita reflexão se faz sobre a complexidade da educação e as suas múltiplas interacções sociais que levam a «escola muito além da escola». Poderá ter rótulo de certo conservadorismo mas são cruciais a aula e o(a) professor(a), este(a) com o seu estilo, conhecimento, entrega, protagonismo e, sobretudo, com o seu carisma.

JP in Educação Frases 10 Janeiro, 2020

pontaria…

Pontaria

A paternidade tateia o cuidado.

O direito tateia a justiça.

O professor tateia a educação.

O matemático tateia o rigor.

O pedreiro tateia a construção.

A engenharia tateia a tecnologia.

A ciência tateia uma verdade.

O discernimento tateia a pontaria…

 

JP in Espiritualidade Poemas 8 Janeiro, 2020

400 posts no Dias Pares

Volvidas cerca de quatrocentas colocações, algum tempo depois da ‘primeira pedra’ do blog “Dias Pares”, agradeço a todos os que, com alguma paciência, passam os olhos por estas palavras. Estou consciente de que o escrever é principalmente uma purga pessoal, não raras vezes vaidosa. Com o tempo, porém, há um tónus de simples largar letras, sem agenda nem intenção. A maior autocrítica que faço a este espaço é uma assumida simplificação. A lógica das pequenas frases, dos poemas fugidios, dos textos curtos, tem um lado irrealista: é que a vida, sobre a qual escrevo, é complexa. Ao fugir da profundidade especulativa, admito render-me a que apenas com poucas palavras vou fintando as complexidades da existência humana. Um dia, quando for maior, terei este espaço tecido apenas de silêncio…

JP in Frases 6 Janeiro, 2020

ouro, incenso e mirra

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 2, 1-12

«ouro, incenso e mirra»

 

Os presentes dos reis magos a Jesus podem apresentar uma simbologia curiosa na epifania: o ouro era um apontamento dos reis, o incenso era usado para louvores a Deus e a mirra ajudava no embalsamento dos corpos. Esta tríada de rei-Deus-morte pode ser útil para uma aproximação cristã: em Jesus Cristo está, na nossa fé, um Rei especial que é filho de Deus e que é precisamente Rei, de forma original, por servir amorosamente até à morte (e, assim, libertando a morte e libertando da morte). Estes presentes dos magos são presentes a Jesus mas, igualmente, são presentes para nós…

JP in Espiritualidade Frases 4 Janeiro, 2020

o dia teima em nascer

É impressionante a forma como o dia teima em nascer. Podem existir nuvens, dentro ou fora de nós, mas o Sol é teimoso e, de forma mais ou menos visível, dá-nos energia, luz e vida. Esta constatação, bastaria para tecer a nossa esperança…

JP in Frases 2 Janeiro, 2020

Uma dúzia de notas sobre discernimento apostólico

J. C. Paiva, Ciência e religião: Uma dúzia de notas sobre discernimento apostólico. Site PontoSJ (que se recomenda…). 27 de dezembro de 2019.

Disponível aqui

Esta reflexão resulta, sobretudo, de um processo autocrítico e de alguns ensaios apostólicos relativamente mal sucedidos. Soma-se, claro está, um olhar mais ou menos atento ao que se vai passando à minha volta em certas dinâmicas eclesiais.

Convém, antes de tudo, situarmo-nos em relação ao que é apostólico. Tocados pelo fascínio e sentido de seguir o estilo de vida de Cristo, os Cristãos tornam-se, por assim dizer, Seus amigos, isto é, Seus discípulos. A alegria que gera esta Boa-Nova-vivida é, em si própria, contagiante e não se consegue conter. Talvez seja consensual que ser apóstolo é uma sequência (sobre)natural de ser discípulo. É próprio de ser cristão, portanto, um certo mandato apostólico.

A questão de fundo no dinamismo apostólico é, sobretudo, pedagógica. O dilema apostólico transforma-se, sobretudo, num desafio pedagógico. Em vários movimentos da história, sem excluir alguma perturbação  pendular, assistimos, a par de grandes virtudes, a empreitadas cristãs forçadoras, impositoras, amedrontadoras, conteúdescas, moralistas, etc.  É consensual que importa, nos nossos dias, em coerência com o que os evangelhos nos dizem do próprio Jesus, propor em vez de impor, dialogar em vez de apresentar categoricamente, ser pergunta aberta em vez de resposta fechada.

Nesta linha, autorecomendo-me e partilho com simplicidade, face ao dilema apostólico, o seguinte:

1- Evitar a militância... Falo das bandeiras muito içadas, que dão mais evidência à exterioridade da pertença do que à essência e ao futuro do ser. Entre um Deus que se quer revelar e o espaço livre de cada ser há um terreno sagrado que nenhum apostolado realiza. Não somos convidados nem a sermos a revelação, nem a fazermos o caminho de quem pode receber. A nossa missão é, tão só, desobstaculizar. No máximo, poderemos ser discretamente transparentes a certa luz que nos atravesse. Tirar algumas pedras do caminho não é isento de criatividade, esforço, inteligência, eficácia e entrega, mas é, (in)significantemente, apenas remover barreiras, apenas isso…

2- Ser mais pergunta! Sim, temos convicções e podemos afirmá-las. Mas de pouco vale afirmar o que não é perguntado. Só será fecundo o que deseja ser recebido. Muita água a quem não tem sede não sacia, encharca.  Neste sentido, nem sempre e talvez quase nunca com palavras, o apostolado mais eficaz é o que gera uma pergunta… Acresce ainda que na boa linha de ventos pedagógicos modernos, no melhor dos sentidos, as perguntas são muito vitais. O pensamento filosófico, a empresa científica, a própria curiosidade existencial alimentam-se de perguntas. Uma das consequências desta consciência é o estímulo das perguntas em dinamismos catequéticos e afins. Compreende-se que haja alguma doutrina básica mas o grosso do caminho da Palavra anunciada há-de tecer-se sobre as perguntas de quem vai receber, muito mais do que nos planos (rígidos) de quem engendra ofertas… Não será Deus uma pergunta?…

3- Evitar a redundância. Se há excelentes materiais de pontos de oração para a Quaresma, por exemplo, nas mais variadas formas e feitios, ponderar bem antes de elaborar mais. Se já se testou um mecanismo, atividade ou estilo de apostolado, porque não replicar de forma contextualizada. Se há materiais, recursos e ideias noutras línguas, porque não traduzir e implementar? Há que contextualizar personalizadamente mas sempre evitando a redundância…

4- Fugir dos personalismos. Cada um de nós é único e carismático. O movimento apostólico não há-de ser neutro mas antes seiva do contributo original de cada um que, em comunidade, cria força maior que a soma das partes. Há sempre uma margem de personalização em todos os empreendimentos e assim também no apostólico. Mas, tendencialmente, seria interessante concorrer para criar, alavancar, ajudar, sustentar… mas depois ‘desmamar’ e ir saindo, para que a obra continue para além de quem a começou a esculpir.

5- Uma boa (ou mesmo excelente) ideia é insuficiente. Ideias cheias de potencial apostólico e aparente oportunidade têm ser ratificadas pela realidade (o Espírito Santo que sobra…) e, em particular há que ter em conta se, de facto, no tempo, espaço e condição contextual, a realidade (as pessoas) pedem, têm sede, solicitam, vão aderir, ao que se pensa empreender…

6- Evitar a estatística. Apesar do item anterior, na vida apostólica, não há-de ser o quanto (quantas pessoas aderem, por exemplo) mas a qualidade… a qualidade dos frutos que conta.

7- Criar diversidade. Sempre que possível, propor na lógica de menu: várias opções, escolhíveis de acordo com os perfis e as necessidades, porque unidade não é uniformidade.

8- Evitar agrupamentos ingénuos e muito voluntaristas. É verdade que em Igreja se constrói com os diferentes e todos os mesmismos são de evitar. Mas, temos de convir, há feitios incompatíveis, visões divergentes, ambientes grupais insuportáveis. Vou mais longe: quando possível, em vez de nomear pessoas diversas para um grupo de trabalho, parece-me quase sempre melhor delegar em alguém a escolha/convite dos elementos para determinado grupo ou projeto apostólico. Depois, deixar trabalhar bem as boas lideranças…

9- Não estar agarrado a coisa nenhuma apostólica, isto é, garantir a gratidão. Tudo o que é apostólico é dádiva gratuita e desinteressada. Evitar as paixões possessivas e não valorizar em absoluto as birras por entrelançamento afetivo e falta de lucidez. Em dinamismo apostólico, qualquer cristão está pronto a largar… e sem remorsos, birras ou amuos…

10- Agradecemos aos senhores padres mas fazemos-lhes o favor, a eles e ao mundo, de não dependermos deles para idealizar, gerar e manter atividades. Não é só o imperativo do Concílio Vaticano II a apontar-nos a Igreja circular. São os recursos humanos escassos destes ministros especiais e cruciais que nos convidam a colocá-los numa posição mais estratégica do que executiva, mais monitorizadora do que controladora.

11- Avaliar sempre e sistematicamente e fazer a cheklist acima, podendo usar como grelha de observação filtros éticos e muito cristãos para ponderar o que fazemos, como: os meios estão adequados? estão a tornar-se fins? as finalidades estão claras?… Nesta avaliação, importa apontar para a sustentabilidade. Não é só um termo moderno, é um imperativo. Há que contar armas e perguntar sempre: isto tem pernas para andar, para se suster frutiferamente? Para ir um pouco além das pessoas e do tempo?…

12- Não esquecer que o principal é a inteireza. Acima escrevi que a tensão apostólica é fortemente pedagógica. Um entendimento mais ingénuo de tais envolvências pedagógicas poderia apontar para posturas marcadamente estratégicas ou, pior ainda, magistrais. Acontece que a melhor pedagogia é sempre tonificada pela autenticidade do ser, mais do que pelo engendrar, pelo dizer ou mesmo pelo fazer. Para ser apóstolo, portanto, basta ser…

JP in Espiritualidade Textos 30 Dezembro, 2019