culpabilidade autocentrada
A culpabilidade é uma espiral sempre com vértice em mim próprio, aparentemente preocupada com os outros mas radicalmente autocentrada…
A culpabilidade é uma espiral sempre com vértice em mim próprio, aparentemente preocupada com os outros mas radicalmente autocentrada…
Talvez escolhesse para definição de humildade, essa virtuosa mas difícil meta, a seguinte: “ser o que se é, aberto à novidade, assumindo os limites.”
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mc 4, 35-41
Até o vento e o mar Lhe obedecem
Jesus está tranquilamente com a cabeça numa almofada enquanto a tempestade assusta os homens. Acordado pelos Seus discípulos, manda parar o vento mas aproveita para apelar, não ao facto extraordinário de acalmar a natureza, mas sim à falta de fé dos seus companheiros. Eles não entendiam ainda que bastava estar com Ele. Por vezes, ocorre-nos também o desejo de um “deus bombeiro”, que aparece quando é preciso para nos superproteger dos problemas, dos desafios da vida. Parece que não é esse o Deus de Jesus Cristo. O mais importante, sublinha-se nesta parábola, é a fé. Naquele tempo, como hoje, mesmo experiências extraordinárias como parar o vento, não chegam para a revelação. É sempre preciso a fé dos homens… graças a Deus!
As feridas, as minhas e as dos outros, podem magoar e até esmagar. Não há alternativa: para amar as feridas tenho de me aproximar delas. Mais, tenho que lhes tocar…
Não se morre por desmérito. Morre-se por viver. E morre-se bem por amor…
A dádiva, no seu sentido mais profundo, não inclui, do lado de quem a recebe, uma lógica de menu: ao recetor da dádiva não compete escolher mas, tão só, acolher.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mc 4, 26-34
e a semente vai brotando e crescendo
As comparações que Jesus faz entre as metáforas agrícolas e o Seu reino são muito fecundas, mesmo neste tempo em que, infelizmente, muitas pessoas vivem longe da terra. A “semente vai brotando e crescendo” é uma referencia não só poética mas muito certeira da nossa própria vida: a valorização do processo, o tempo e a paciência que são preci(o)sos, o fruto que nasce e se desenvolve, o crescimento que robustece, a imprevisibilidade das condições, a necessidade de cuidado, a abundância eventual da colheita, a consciência da dádiva. Está aqui tudo o que podemos ser…
A alma, porventura e sem complexos «incorporada», estará para durar, como conceito. Talvez os estudos de Damásio e outros equivalentes «empurrem» a teologia para não dicotomizar o corpo e a alma. A alma sinaliza, para os crentes, a capacidade de reconhecer o criador. Para os católicos, o Deus trinitário (Pai, Filho e Espírito Santo) sublinha a crucialidade da relação. O próprio Deus «é relação». A alma de cada ser humano, que espelha o criador, reflecte-se na relação fraterna com todos os outros e com um Deus pessoal.
Ser apóstolo não é proselitismo e é quase o seu contrário: é fomentar porosidade em mim, no outro e no mundo. É tentar ser transparente face à “causa que causa todas as causas” (Melloni).
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mc 3, 20-35
os Seus parentes diziam: “está fora de Si”
Podemos apoiar-nos na ideia de que Jesus foi acusado de “estar fora de si”, para estarmos mais imunes a eventuais críticas que nos façam, quando mergulhamos em certa “loucura amorosa”, que, tantas vezes vai contra a corrente. Estas críticas vêm, não raras vezes, como aconteceu com Jesus, da própria família. Jesus, porém, não vacila e segue o Seu caminho, impelido por um bem maior do que ser alguém muito certinho. O estilo cristão não é, definitivamente, o do bem comportadinho… É importante não entender esta passagem como um convite a colocarmos em segundo plano o amor aos nossos Pais ou irmãos de sangue. Não se trata disso e seria um mau testemunho cristão, amar o mundo sem amar os nossos mais próximos. Mas, nalguns casos, temos mesmo que romper com alguns laços ou ouvir algumas palavras mais duras, para podermos, como Jesus, realizar a aventura de, como Ele, estar “fora de nós”…