a vida de uma pessoa não depende da abundância dos seus bens

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 12, 13-21

«A vida de uma pessoa não depende da abundância dos seus bens»

O Evangelho fala-nos do desprendimento e do desapego espiritual dos bens. É uma linha de rumo que serve para os bens materiais, mas não só. Certos dons, relações, afectos são também para serem partilhados. No olhar Cristão, tudo serve para irradiar, nada serve para possuir. A parábola do agricultor que, em vez de partilhar a sua abundância, constrói maior celeiro para mais acumular, é de uma grande força, pela explicitação de quanto é estéril “guardar para si”. E nós, quando temos as nossas “colheitas”, tendemos a partilhar ou construímos “novo celeiro”?…

NOTA: Este artigo é repetido/adaptado de um outro já publicado neste blog

DOMINGO XVIII DO TEMPO COMUM



L1: Co (Ecle) 1, 2; 2, 21-23; Sal 89 (90), 3-4. 5-6. 12-13. 14 e 17ac
L2: Col 3, 1-5. 9-11
Ev: Lc 12, 13-21

JP in Sem categoria 30 Julho, 2022

Quando Vos invoco, sempre me atendeis, Senhor

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Slm 137

«Quando Vos invoco, sempre me atendeis, Senhor»

A vida de oração de um cristão, porque é uma relação, pressupõe a petição. Pedir é uma atitude fundamental em qualquer relação, embora pressuponha humildade. Quem entende que tem tudo, é autossuficiente e não pede… Pedir a Deus com um coração puro é certeza de receber. Será importante “não manipular”, isto é, embora colocando explicitamente o que acontece e se elabora, o que preocupa e o que se tece no tempo e no espaço, não deixar de ser sempre um pedir “o que for melhor para mim e para os outros”, o que é, por sua vez, intrinsecamente indeterminado… De alguma forma, pedir em oração, com fé, é passar um cheque em branco. Pedir é rasgar para receber. A quem pedir assim, o Senhor atende…

NOTA: Este texto é repetido/ajustado a partir de evento já publicado neste blog anteriormente.

DOMINGO XVII DO TEMPO COMUM

L1: Gen 18, 20-32; Sal 137 (138), 1-2a. 2bc-3. 6-7ab. 7c-8
L2: Col 2, 12-14
Ev: Lc 11, 1-13

JP in Sem categoria 24 Julho, 2022

Marta, Marta…

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 10, 38-42
«Marta, Marta, andas preocupada e aflita com tantas coisas, quando uma só é necessária»

É sobejamente conhecida esta passagem e muito inspiradora para nos auto-acalmarmos quando a azáfama nos toma como prisioneiros. Escrevi de propósito ‘auto’, pois dizer a alguém ‘olha que estás como Marta’ é capaz de não ajudar, como não ajuda a ninguém muito nervoso dizer ‘tem calma’… Mas não há dúvida que o atulhar de coisas para fazer, uma certa excessiva operacionalidade, nos inibe de muitas escutas e essencialidades. Convém, ao mesmo tempo, uma certa auto-condescendência para com as nossas ‘martisses’: as coisas têm de ser feitas e há fases de vida em que ser Maria é mesmo difícil…

DOMINGO XVI DO TEMPO COMUM



L1: Gen 18, 1-10a; Sal 14 (15), 2-3a. 3cd-4ab. 4c-5
L2: Col 1, 24-28
Ev: Lc 10, 38-42

JP in Sem categoria 16 Julho, 2022

Quem é o meu próximo?

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 10, 25-37

«quem é o meu próximo?»

A réplica do doutor da lei, quando Jesus invocou o antigo mandamento (“…e ao teu próximo como a ti mesmo”) é uma pergunta que nos pode server como revisão existencial continua: “Quem é o meu próximo?”. Na teoria, conhecemos já a resposta, sabiamente transmitida por Jesus na parábola do bom samaritano. Mas, na prática, quantas vezes nos esquecemos dos nossos próximos?… Em particular, como pessoa religiosa, pergunto-me: quantas vezes há envolvimento em heroicas missões apostólicas e esquecemos os que vivem em nossa casa, no nosso bairro ou no nosso trabalho, precisando de nós?…

NOTA: Este texto é repetido/ajustado a partir de evento já publicado neste blog anteriormente.

DOMINGO XV DO TEMPO COMUM



L1: Deut 30, 10-14;
Sal 68 (69), 14 e 17. 30-31. 33-34. 36ab-37 ou Sal 18 B (19), 8.9.10. 11
L2: Col 1, 15-20
Ev: Lc 10, 25-37

JP in Sem categoria 10 Julho, 2022

não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 10, 1-12

“Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias”

A sugestão de envio, de missão, tem na expressão de leveza “Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias“, bons significados. Sim, pode ser uma crítica ao excesso de prevenção e ao controlo mas é, sobretudo, um convite à confiança e à abertura face à surpresa. Viver cristãmente é este envio para abertura e para a leveza. Pelo contrário, ontem e hoje, enchemos a mochila da viagem de profilaxias. Que seguranças prescindíveis levo ainda na minha mochila? Tal carga me inibe de mais caminho e de mais leveza…

DOMINGO XIV DO TEMPO COMUM



L1: Is 66, 10-14c; Sal 65 (66), 1-3a. 4-5. 6-7a. 16 e 20
L2: Gal 6, 14-18
Ev: Lc 10, 1-12. 17-20 ou Lc 10, 1-9

JP in Sem categoria 2 Julho, 2022

oração e vida

Talvez a vida pudesse ser oração (ou a oração vida…), neste sentido: render-se, entregar-se, exercitar a confiança, inspirar amor e expirar medo, abrir-se à dádiva e sacudir o controlo, beber a surpresa e evitar a prisão da expectativa.

JP in Sem categoria 28 Junho, 2022

Senhor: queres que mandemos descer fogo do céu que os destrua?

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 9, 51-62

«Senhor: queres que mandemos descer fogo do céu que os destrua?»

Jesus e os discípulos dirigiram-se a uma povoação na Samaria, não tendo sido bem recebidos. Tiago e João, ou por amarem e quererem defender o Mestre, ou por certa imaturidade no amor, logo sugeriram: “Senhor: queres que mandemos descer fogo do céu que os destrua?”. Jesus, porém, repreendeu-os. Há na nossa vida e principalmente no nosso interior, laivos parecidos com a aproximação de Tiago e João. São os nossos cenários imaginados (às vezes com sequência), em que bem desejaríamos surdas vinganças e insucessos para aqueles que nos recebem mal. O primeiro passo na gestão da nossa interioridade é a assunção e mesmo a autovalidação. Curto-circuitar o que sentimos e o que na realidade somos, incluindo os nossos pensamentos, com um tamponamento moral, não é normalmente libertador. Posto isso, trabalhar interiormente e apostar neste não rancor, é estar em sincronia com Jesus.

NOTA: Este texto é repetido/ajustado a partir de evento já publicado neste blog anteriormente.

DOMINGO XIII DO TEMPO COMUM

L1: 1 Reis 19, 16b. 19-21; Sal 15 (16), 1-2a e 5. 7-8. 9-10. 11
L2: Gal 5, 1. 13-18
Ev: Lc 9, 51-62

JP in Sem categoria 26 Junho, 2022

Ele vos guiará para a verdade plena

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Jo 16, 12-15

«Ele vos guiará para a verdade plena»

Temos no Evangelho de hoje uma alusão à Santíssima Trindade: ” Tudo o que o Pai tem é Meu”, diz Jesus, ao mesmo tempo que refere que o “Espírito Santo nos falará de Si próprio”, deste amor inteiro entre o Pai e o Filho. Entre outras imagens ricas do Espírito Santo, como a pomba da paz ou a água do Baptismo, temos este “qualquer coisa” que transporta um amor imenso, como o que existe entre o Pai e o Seu Filho. Se falta amor em alguma das nossas relações, ouçamos o Espírito Santo que nos convida a um coração que se doa e que recebe, como acontece entre Jesus e o Seu Pai. Convém notar que a simbologia entre Pai e filho é a possível face à indizibilidade da relação plena de Deus, mas é sempre intrinsecamente incompleta e imperfeita, já que os pais e filhos que somos ou conhecemos, podendo amar-se, (ainda) não amam como Deus ama, com tão radical gratuitidade e risco amoroso…

NOTA: Este texto é repetido/ajustado a partir de evento já publicado neste blog anteriormente.

DOMINGO XI DO TEMPO COMUM

SANTÍSSIMA TRINDADE


L1: Prov 8, 22-31; Sal 8, 4-5. 6-7. 8-9
L2: Rom 5, 1-5
Ev: Jo 16, 12-15

JP in Sem categoria 12 Junho, 2022

Enviai, Senhor, o vosso Espírito e renovai a face da terra

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Slm 103

«Enviai, Senhor, o vosso Espírito e renovai a face da terra»

Há no salmo que hoje rezamos liturgicamente um rasgo interessante no judaico-cristianismo: trata-se duma cumplicidade entre o Espírito e a terra, entre o transcendente e o imanente. Uma fusão entre o real e o sagrado. “Esticando a corda” da inspiração, com intenção deliberadamente catequética, potencialmente ajustadora de religiosidades muito etéreas, de misticismo duvidoso e desligadas da vida, seria bom colocarmo-nos na senda de escutantes do Espírito Santo que, claramente, fala na e pela realidade. Dentro e fora do fenómeno religioso, vou ficando com a ideia de que se apostam em simbolismos mais ou menos mágicos, desligados do que somos. Pelo contrário, o sopro dá-se na matéria e os sinais da sede do Espírito topam-se numa terra que comunica… Bom domingo de Pentecostes!

NOTA: Este texto é repetido/ajustado a partir de evento já publicado neste blog anteriormente.

DOMINGO DE PENTECOSTES


L1: At 2, 1-11; Sal 103 (104), 1ab e 24ac. 29bc-30. 31 e 34
L2: 1 Cor 12, 3b-7. 12-13 ou (própria do Ano C): Rom 8, 8-17
Ev: Jo 20, 19-23 ou Jo 14, 15-16. 23a-26

JP in Sem categoria 4 Junho, 2022

Hoje, como sempre, quem canta o salmo sou eu…

Paiva, J. C. (2022). Hoje, como sempre, quem canta o salmo sou eu…Site Ponto SJ, 22-04-2022.

Disponível aqui

– “Hoje, como sempre, quem canta o salmo sou eu”.
– “Esse é o meu lugar na missa”.
– “Tanta coisa que eu dei a este grupo de catequese… e agora fazem-me isto”.
– “Se há pessoa que merece ir a este curso de formação, depois de tantos anos de empenho, sou eu”.
– “Preparei com tanta dedicação esta oração, e acabaram por meter tudo no lixo.”
– “Tantos anos a trabalhar nesta paróquia, para levar agora um ‘chuto’.”
– “Sempre quis pertencer a este grupo… e hei-de conseguir!”
– “Os cânticos são comigo!”.
– “Escolhem sempre os mesmos (nunca a mim…)”.
– “Fiz tanta formação e não me aproveitam”.
– “Uma vida dada a esta congregação, para me colocarem agora numa prateleira…”
– “Paguei tanto para esta obra e agora não tenho direito a nada”.
– Etc, etc.

Sem comentários, para lançamento de conversa, temos, acima, expressões que podemos ouvir em paróquias, grupos de reflexão Cristã, Movimentos e carismas, bastidores religiosos, congregações religiosas e comunidades.

Todas estas expressões, algures entre a imaginação e a criatividade, projetam um forte entrançado psico-socio-religioso de comparação, procura de reconhecimento, mérito, prémio, vitimismo, falta de autoestima e protagonismo. Os bastidores destas frases, sem exceção, inclinam-se mais para o privilégio e para a cobrança, do que para a gratuitidade e para a consciência do dom. Projetam também, claramente, algo que nos une a todos: fragilidade, sede, busca de sentido e procura de um lugar.

A Igreja é, definitivamente, uma casa para todos. Novos e velhos, bons e maus cantores, gente mais e menos culta. E falo de pessoas com variada relação, quer com a cultura das academias, quer com a (agri)cultura da natureza e da vida. O que nos une a todos é uma esperança e uma carência comuns, que converge num sentido de esperança vivida de forma comunitária, tendo o Evangelho como referência. Todos temos lugar. Acontece que Cristo – Presente na fé e inspirador – nos remete para uma tensão de (auto)descentramento constante. E, por Ele, com Ele e n’Ele, estamos não só autorizados, mas incentivados, a mexer as águas. Respeitar demasiado (entenda-se…) as posições/vontades/desejos/sonhos de cada um parece-me, cada vez mais, pouco cristão.

O equívoco central desta problemática é uma bomba explosiva de mérito e procura de reconhecimento. Quando se entende que “se merece” seja o que for, em dinamismo apostólico, está o caldo entornado. Pelo contrário, a colocação de dádiva desinteressada deveria ser o filtro da porta da entrada em qualquer protagonismo de estrutura eclesial.  Cada um propõe ou propõe-se, e a circunstância é mesmo essa: uma proposta. Só é genuína proposta se for desapegada, livre, desautocentrada, pronta, portanto, a ser aproveitada ou não. Quem se impõe, ou impõe, mesmo que subtilmente, não tem lugar na comunidade dos cristãos. Cristo é modelo de perfil proponente, numa fidelidade de desapego que sacode livremente o pó das sandálias.

É evidente que este processo de filtro purificante de intenções é um exercício complexo e moroso para todos nós, a pedir trabalho pessoal, comunitário e, sobretudo, criatividade comunicacional. Mas, esse é o ponto central desta despretensiosa reflexão, pede frontalidade e verdade. Os adultos não se devem infantilizar e os monstros não se devem alimentar. Em algumas personalidades que circulam nos corredores atuantes da Igreja, há perfis muito autocentrados e, em muitos casos, quase narcísicos. Tolerar eucaliptos que chamam a si toda a humidade da terra, é secar os campos e comprometer outras fecundidades. Dinamizar cristãmente não é ser bonzinho, mas tatear a esperança na realidade, como ela é.

Há casos particulares que merecem atuações particulares. Por exemplo, com crianças, tem sentido dar lugar a todos para lá dos seus talentos performativos. Mas para adultos (ou adultos em trânsito, como todos somos) há que ir desbravando novos e assertivos caminhos. Nos espaços de assumido terreno celebrativo ou apostólico, em particular, quem está, terá que estar desapegado, pronto a, se preciso for, não ter qualquer papel especial, precisamente porque somos todos especiais e estar e pertencer é o único eventual direito que podemos ter.

Nestes cenários não há bons nem maus. Somos todos débeis caminhantes e, quando distraídos, todos procuramos reconhecimento, muitas vezes embrulhados no feliz estrangeirismo de fishing for compliments: lança-se a isca para sacar reverências. E no final dos eventos, mais do que avaliar frutos, fazemos por colher louros. Poderá ajudar-nos a todos, no acerto da desumbilicalidade, dizer a nós mesmos, este paradoxo: “és profundamente amado aos olhos de Deus mas não tens de ser assim tão importante aos olhos dos outros”. Cada um fará por escutar as suas próprias moções e fazer o seu trajeto de descentramento. Mas no trabalho comum e nas procuras cénicas e performantivas de cariz apostólico, deixar andar não é caminho…

A parrésia, de que tem falado o Papa Francisco e que tanto inspira o atual movimento sinodal, convoca a humildade (contacto com o húmus, com a realidade…), a liberdade de expressão, a escuta e a assertividade. Quem tem lideranças apostólicas (espaço que cada mais, creio, deveria ser ampliado a todos os batizados, sem exclusividade de ordenados), poderá perguntar-se se não é demasiadamente passivo face às enquistações crónicas nas organizações cristãs. Expressões como aquelas com que se iniciou esta reflexão, nos fóruns próprios e nos modos adequados, não poderão ficar sem feedback e não poderão servir jamais para, com a boa desculpa de não ferir, deixar tudo na mesma. Julgando respeitar as várias sensibilidades e personalidades (ou enquistamentos e monopólios?) poderá estar a contribuir-se para um comprometedor status quo, que não é bom nem para os instalados, nem para os candidatos ao caminho…

JP in Sem categoria 30 Maio, 2022