decidir…
Uma não decisão prejudica mais do que uma má decisão. Basta pensar, com potencial analógico, no trânsito das cidades: mais valia uma decisão, mesmo que de infração, para evitar aquele engarrafamento…
Uma não decisão prejudica mais do que uma má decisão. Basta pensar, com potencial analógico, no trânsito das cidades: mais valia uma decisão, mesmo que de infração, para evitar aquele engarrafamento…
Muitas conversas de índole filosófico-teológica se situam no eixo materialidade-simbolismo. Compreende-se esse movimento mas sinto necessidade de o triangular com uma outra dimensão, a da realidade. Com efeito, não é nem decisivo nem exclusivo arrumar eventos como materiais ou simbólicos. Pode existir realidade, com ou sem materialidade, com ou sem simbolismo. As explicitações religiosas, estão plenas de gestos e momentos onde quer o ‘só material’ quer o ‘só simbólico’ são insuficientes. A nossa vida experimenta poder haver muito sentido real, com ou sem materialidade, com ou sem simbolismo…
Há quem não aprecia o conceito de “cultura”, precisamente por ser vago e poder dizer quase tudo. Mas não encontro melhor semântica para esta geografia cruzada de saberes e de vivências. Mais ainda, enquanto crente judaico-cristão, vejo com grande dificuldade a possibilidade de extrair com proveito algo da potencialidade bíblica, sem a respetiva configuração cultural. E como membro de uma Igreja, não consigo igualmente vislumbrar como será possível caminhar e estar atento aos sinais dos tempos, sem um mergulho no empapado cultural em que nos movemos. Cultura e Fé, pois claro!
A palavra mistério é usada e abusada pelos crentes. Está bem invocá-la para aquilo que não sabemos nem podemos dizer, neste tateamento da transcendência. Seria prescindível (a invocação de mistério) quando usada para esconder ignorância e contradizer a racionalidade desnecessariamente.
O desejo é das mais paradoxais realidades: move, co-move e mobiliza. Ao mesmo tempo, o mesmo desejo, pode dilacerar em autêntica escravatura…
Uso (e abuso) daquele diálogo imaginado, pleno de sabedoria e verdadeira responsabilidade vivente. Um (des)crente pergunta ao seu Deus, diante de uma criança que sofre: “meu Deus, esta criança a sofrer, e Tu não fazes nada?”. Responde Deus: “sim, faço-te a ti…”.
Nem a não certeza da fé é uma desgraça pois há graça neste processo de acreditar ser precisamente… um processo…uma graça…
Perante o (complexo e universal) problema do mal (latus sensus) arrisco uma metodologia:
1- Aceitar como condição intrínseca à vida humana.
2- Ao mesmo tempo que “me rendo”, pois também “luto” e interpreto a minha existência como certo combate ao mal, promotor do bem, em mim e à minha volta.
3- Faço por distinguir entre o mal (em mim e nos outros) que tem o selo da minha responsabilidade e o que francamente me supera. Posso trabalhar mais o primeiro…
4- … Mas sinto-me convocado em promover o bem num dinamismo que me ultrapassa, focado em sarar as feridas do ‘nós’.
Nota: pessoalmente, teria dificuldade em protagonizar os itens acima sem: esperança, contemplação da beleza que espreita… e paciência…
Muitos equívocos de fronteira entre ciência e religião e o seu ensino prejudicam uma ciência moderna e contextualizada e podem contribuir para uma religião infantilizante. Do lado religioso, muita ignorância e inflexibilidade têm alimentado imagens de Deus menos boas, incapazes de serem compreendidas e acolhidas na nossa cultura de conhecimento. Do lado da ciência, por outro lado, existem também inúmeros fundamentalismos, como se a ciência fosse resposta a todas as questões da Humanidade. A par da abordagem científica que interroga e tenta entender o cosmos, está sempre em cima da mesa a questão do sentido da vida, para o qual a religião trilha caminhos.
Se eu fosse genuinamente vadio, como quereria, não teria lugar nem hospedaria. Andaria na estrada a procurar quem me habita…