luta e interioridade
A nossa vida interior tem algo de luta. Se assim for, a oração é um convite a pousar as preocupações, como o guerreiro pousa o arco e a flecha… e se rende…
A nossa vida interior tem algo de luta. Se assim for, a oração é um convite a pousar as preocupações, como o guerreiro pousa o arco e a flecha… e se rende…
Escrevi a uma amiga, mulher deste século, com uma provocação: Cara professora-mãe-esposa-sensual-gestora de casa-cidadã-não-super-mulher…”
A carência, é, definitivamente, o fulcro e até a alavanca da fé (como pano de fundo, bem entendido, está a Graça). Trata-se de uma carência amparável, o que demonstra a própria vida, apelando a uma fé, assim, exequível…
Há uma “pescadinha de rabo na boca” em que me sinto baralhado. Trata-se de gerir bem o tempo em que não sei gerir o tempo. Tantas vezes… Ocorre-me uma autoproibição (não me culpabilizar) e uma palavra de ordem (recomeçar).
Uma das inversões mais urgentes na prática religiosa cristã (que afeta significativamente a liturgia e as clássicas orações de petição) é a de assumir radicalmente que a graça é abundante e constante, que Deus “grita”! Vivemos numa atmosfera de graça (às vezes uma lufada, outras vezes mais abafado, mas sempre graça a respirar). Temos é dificuldade em reconhecer essa abundância, como o peixe não se reconhece molhado. E essa abertura e reconhecimento, essa mística de olhos abertos, importa pedir…
A fuga para a frente pode não ser a chave da boa morte. A (pseudo) fuga mais libertadora é precisamente a receção da vida como uma Graça, uma dádiva, uma promessa de que a fragilidade é a penúltima experiência. A isto se chama Fé.
Nas nossas incompetências de diálogo prático (a teoria costuma ser boa…) há uma parte que teima em ser curta: é aquela escuta que francamente aceita e se abre, dizendo “dá-me a tua parte, que eu quero recebê-la”.
O Concílio de Trento, iniciado em 1545, reafirmou a autoridade da Igreja Católica na interpretação da Bíblia, mas o texto do decreto conciliar é bastante genérico e até mesmo ambíguo. Os padres conciliares decretaram que ninguém se deveria permitir «interpretar a Sagrada Escritura, nas matérias de fé e de moral, que pertencem ao edifício da doutrina cristã, distorcendo a Sagrada Escritura segundo o seu modo de pensar, contrário ao sentido que a santa mãe Igreja determina». O texto conciliar não especificou, porém, critérios suficientemente precisos para a definição, por exemplo, de uma questão como sendo de fé ou de moral, nem entrou em pormenores sobre o difícil problema de decidir quando se deveria interpretar a Escritura em sentido literal ou em sentido metafórico.
Desde a tradição medieval que é comum distinguir quatro sentidos possíveis no texto bíblico, a saber: 1) histórico ou literal, 2) alegórico ou cristológico, 3) tropológico ou moral e antropológico, e, finalmente, 4) anagógico ou escatológico.
A tradição hermenêutica é, pois, bem longínqua na história da Igreja. Conhecem-se dois extremos caricaturais, em traços deixados ao longo do tempo e ainda hoje presentes: de um lado, uma visão restritiva e estaticamente ortodoxa da autoridade da Igreja na interpretação bíblica e, do outro lado, uma personificação originalista, que não tem em conta a riqueza da tradição, nem a procura duma expressão comunitária de afirmar dinamicamente as verdades da fé. Caminhamos, ainda hoje, nesta tensão…
A criatividade é e continuará a ser um motor essencial de quase tudo. Não convém confundir, na vida como na arte, com o criativismo… que é mais um ‘ismo’, onde não importa nem o critério nem o discernimento.
Às vezes caminhamos no deserto e falta-nos luz… Mais do que a luzita, talvez importe a graça do desejo de querer ver. Aquela (a luzita) pode apagar-se, mas esta (a esperança), pode ter chama abundante…