Eucaristia

Os Católicos Romanos centram a sua vida espiritual na comunhão de fé a que chamam Eucaristia. É preciso trazer a vida para a Eucaristia mas também a Eucaristia para a vida…

JP in Espiritualidade Frases 6 Agosto, 2019

A vida de uma pessoa não depende da abundância dos seus bens

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 12, 13-21

«A vida de uma pessoa não depende da abundância dos seus bens»

O Evangelho fala-nos do desprendimento e do desapego espiritual dos bens. É uma linha de rumo que serve para os bens materiais, mas não só. Certos dons, relações, afectos são também para serem partilhados. No olhar Cristão, tudo serve para irradiar, nada serve para possuir. A parábola do agricultor que, em vez de partilhar a sua abundância, constrói maior celeiro para mais acumular, é de uma grande força, pela explicitação de quanto é estéril “guardar para si”. E nós, quando temos as nossas “colheitas”, tendemos a partilhar ou construímos “novo celeiro”?…

JP in Espiritualidade Frases 4 Agosto, 2019

Quando Vos invoco, sempre me atendeis, Senhor

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Slm 137

«Quando Vos invoco, sempre me atendeis, Senhor»

A vida de oração de um cristão, porque é uma relação, pressupõe a petição. Pedir é uma atitude fundamental em qualquer relação, embora pressuponha humildade. Quem entende que tem tudo, é autossuficiente e não pede… Pedir a Deus com um coração puro é certeza de receber. Será importante “não manipular”, isto é, embora colocando explicitamente o que acontece e se elabora, o que preocupa e o que se tece no tempo e no espaço, não deixar de ser sempre um pedir “o que for melhor para mim e para os outros”, o que é, por sua vez, intrinsecamente indeterminado… De alguma forma, pedir em oração, com fé, é passar um cheque em branco. A quem pedir assim, o Senhor atende…

JP in Espiritualidade Frases 28 Julho, 2019

o tic-tac de Plank…

10 -43 do segundo (sub-parte do tempo inimaginável na sua pequenez) é o “tic-tac” mais pequeno que existe. É o ‘tempo de Plank’. Especula-se se terá havido uma “flutuação de vazio quântico” na parte do tempo anterior ao que conseguimos alcançar no entendimento do big-bang. Mas tal vazio, a existir, é um vazio não ontológico… O “dedo de Deus”? Está aí e em todo o lado, mas não se crê que niguém creia por via da prova científica…

razões da minha fé

As razões da minha 

Às vezes penso que só creio porque não sei não crer.
De facto, para começar esta reflexão sobre “as razões da minha “, devo assumir as minhas fragilidades e a minha carência. Daqui nasceu (e nasce) uma procura inacabada.

Ter , acreditar, é apoiar-me num Deus que acolhe e dá sentido maior à minha vida. Mas que Deus é este? Deus é também o indizível e há limitações semânticas para o alcançar com palavras. As “razões da minha ” (aspas deliberadas, porque são mais do que razões), encontram-se na história e na minha história, no tempo que passa e no futuro que saboreio por acreditar. Este futuro com sentido dá luz maior ao meu presente. Viver acreditando, usando linguagem de uma
geração à frente da minha, é curtido à brava.

Acho que consigo mergulhar no passado e no meu passado, vasculhando algumas das raízes do meu acreditar. Se a  e a vida se jogam no tabuleiro da cabeça, do coração e das mãos, metáfora para as dimensões racional, afectiva e de acção, no meu caso, foram as mãos que “salvaram”. Por volta dos meus dezassete anos entrei em grande crise existencial, com perguntas complexas sobre mim, sobre o mundo e sobre as minhas relações com os outros e com o cosmos. Conversei com muitos, comigo próprio, escrevi e procurei. Não alcancei pensando. Tive luz particular quando um dia de manhã, meio desesperado na procura, decidi aproximar-me de alguém excluído, dando-lhe a minha compreensão, o meu tempo, as minhas mãos. Fixo esta experiência com a aproximação possível a uma “definição” de Deus: Alguém que se revela no amor, na relação. Deus é amor. Eu precisei de outros para saborear o sentido de acreditar. Certo é que comecei a viver como se o amor fosse o filão de tudo, o antes, o durante e o depois da minha história e da humanidade. E a minha vida ganhou sabor, intensidade e coerência.

As referências inspiradoras para esta mudança foram-me dadas pela Igreja, que me “falou” de Alguém que vivera cerca de dois mil anos a esta parte, nascera numa manjedoura e marcara a história (com as suas mãos), vivendo e propondo um estilo de vida simples, polarizado num incondicional amor a um Deus-amor, que se manifesta paradoxalmente numa vitória da vida sobre o sofrimento e a morte. Jesus Cristo teve amigos que foram seus discípulos e depois apóstolos de uma Igreja que tomou raízes no tempo e chegou pelo tempo até mim. Devo dizer que nem sempre a Igreja me apresentou (ou eu não vi) uma imagem de Deus
positiva, coerente e possível. Mas no essencial fui conseguindo apoiar-me nos aspectos mais urgentes da mensagem, redescobrindo novidades e aproximando-me dos estilos e linguagens mais sintonizados com a minha procura. Sem perder o sentido crítico, fui aderindo e comprometendo-me com a Igreja de Jesus Cristo, neste tempo e neste contexto cultural que sou. Acabava por ir sendo, vestido com os meus limites, um vivente, um discípulo e um apóstolo de Jesus.  O compromisso libertara-me. Mas há um jogo de risco no acreditar, que se repete todos os dias. Digo a mim próprio, muitas vezes, que inventei e invento um Deus que não consigo “agarrar”, vivo como se Ele existisse e descubro, com as mãos, que o que eu invento, afinal, existe e sempre lá esteve, pacientemente à espera, de “graça”…

Não se tendo alcançado a  pela razão, não significa isso, de forma alguma, que a  seja irracional. A edificação do meu acreditar centrou-se na vida e numa entrega essencialmente afectiva onde a racionalidade, sempre presente, se deixou colocar ao serviço da causa maior, apriorística e essencial do amor. Aí posso admitir uma limitação em relação a outros amigos não crentes que, numa primeira análise, poderão ter uma maior “liberdade” de pensamento (dou de barato que, para alguns, estou viciado à partida): por necessidade, por limitação, por carência, por experiência de sentido, deixei-me embriagar pela convicção, pelo risco, pela ideia de existir um Deus de amor que está antes, durante e depois de tudo. Viver assim é bom e eu rendi-me!

Utilizo a razão e a inteligência para lubrificar as minhas buscas e relações. Com todos os pensamentos “embrulho” sistemicamente o meu coração e as minhas mãos no tempo que passa. Este Deus (de amor, como preciso de insistir) é de gerúndio: vai-se revelando, sem nunca se poder possuir. Há uma dinâmica de mistério, de incompletude. Deus é “já” mas sempre “ainda não”. Mas este futuro por descobrir dá um sabor interessante à minha liberdade.

Dilemas como a teodiceia (a equação de Espinosa e de tantos outros) são desafios constantes à minha razão. Como entender um Deus omnipotente e associado a amor, que, podendo poupar os homens, permite o sofrimento e a morte, aparentemente errática e sem sentido. Talvez não seja para entender mas para ir entendendo, ou talvez para ir vivendo. Talvez Deus seja “omni-impotente”, expondo-se frágil e não impondo-se poderoso. Talvez este dilema encerre como um tesouro o melhor formato da nossa liberdade. Talvez outras coisas que posso descobrir…

A Igreja, que sou eu e os outros e não só nem essencialmente uma instituição, tem um potencial para ser fonte de Deus. Nem sempre o foi, nem sempre o é. Mas Deus, convém dizê-lo em explicitação ecuménica, é maior do que a Igreja. Tenho para mim muito claro, que na suposição imagética da barca de Gil Vicente para entrar no paraíso, ninguém me perguntará, para escolher o meu lugar na vida eterna, “a quantas missinhas fui”. O Evangelho, aliás, já estabeleceu “as perguntas”: tive fome e deste-me de comer, tive sede e deste-me de beber… (Mt 25, 34-36). Esta pergunta, claro está, é para responder com a vida do agora e do aqui. Os aperitivos do paraíso jogam-se desde já e o “prémio” (como o nosso “inferno”) são deste tempo, naturalmente. O que vem depois é a consequência natural das escolhas e das apostas do nosso tempo presente…e sobre isso a misericórdia de Deus pode ter universais e desconcertantes surpresas. Eu vou à missa porque acredito e experimento que essa celebração da paixão de Jesus alimenta, em mim e nos outros com quem comungo a , a “loucura” de viver o Evangelho.

O sonho de Deus é uma festa. Uma festa que se vai fazendo mas que está por universalizar. Sinto (diz-se ser uma graça – dada gratuitamente) que eu, como cada homem, somos feitos à imagem e semelhança de Deus. Podemos tomar como nosso o Seu sonho de festa. A nossa missão é encontrar sentido em ser pedras de uma construção comum, um mundo melhor. Nunca ninguém fez boa festa sozinho. Por isto Deus não tem mãos e as minhas, as tuas e as de todos, são as Suas mãos. É esta a “razão” da minha !

 

texto de 2015, publicado em livro de testemunhos

JP in Espiritualidade 24 Julho, 2019

revelação divina

A revelação divina quis ser clara mas misteriosamente demandante da nossa procura, vontade, crença e trabalho. É laboriosa, difícil, distendida e apoiada no tempo. Está a acontecer…

 

JP in Espiritualidade Frases 22 Julho, 2019

mandarei vir água, para que possais lavar os pés e descansar debaixo desta árvore

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Gen 18, 1-10a

«Mandarei vir água, para que possais lavar os pés e descansar debaixo desta árvore»

Abrão (que passa a Abraão – com dois’a’s – quando é Pai de todos os povos – e não apenas de um povo) poderá ter alguma historicidade. Mesmo assim vale sempre o lado simbólico e religioso (o concordismo histórico-religioso cairia desde logo com a idade dele – simbólica – de centenas de anos). Era um errante beduíno do deserto que, pela escuta, nos aponta para o monoteísmo e para a terra prometida. Na leitura do Antigo Testamento que a liturgia nos sugere vemos um Abraão atento à hospitalidade. Há uma hospitalidade relevante que tem a ver com o acolhimento do outro. No texto presente, o hóspede é o próprio Deus e, no cristianismo, torna-se óbvio e angular, que o a hospedagem de Deus e a hospedagem dos homens se confundem…

JP in Espiritualidade Frases 20 Julho, 2019

extraterrestres e criação divina

O São Francisco do futuro, além do irmão Sol, da irmã Lua ou da irmã morte, poderia falar do «irmão ET»…

 

J. C. Paiva, Extraterrestres e criação divina. Site PontoSJ. 20 de julho de 2018. Disponível em

 

 

 

Extraterrestres e criação divina

A NASA anunciou que foi descoberto no dia 14 de dezembro de 2017 um oitavo exoplaneta no sistema Kepler-90. É o conjunto de planetas mais parecido com o nosso Sistema Solar.

Há investigação científica séria, muito séria, que, de alguma forma, procura vida noutros planetas. O que se busca é a existência de corpos celestes com propriedades semelhantes às da Terra, isto e, com dimensões e distância ao seu Sol com algumas parecenças com este ‘grão de pó’ em que vivemos. É bom termos a noção da nossa pequenez: habitamos um minúsculo esferóide que anda à volta de um Sol. O nosso Sol é uma das cerca de cem mil milhões de estrelas que constituem a nossa galáxia. E no universo (neste universo…) existem cem milhões de galáxias, cada uma com as suas estrelas…

Nem ciência nem religião negam a possibilidade de vida inteligente noutros planetas e, portanto, a existência de extraterrestres (ET).

A ciência, porém, não conseguiu ainda prova de vida fora do planeta Terra. Não há prova científica de seres extraterrestres. Tentam encontrar-se sinais da vida tal qual a conhecemos, em planetas do sistema solar, mas os dados não são conclusivos. Sondas recolheram amostras na Lua e em planetas do nosso sistema, mas nenhum sinal de vida.

Giordano Bruno (1548-1600) pagou com a vida a defesa da tese de existência de outros planetas habitados. Uma tal hipótese parece colidir frontalmente com a concepção cristã do universo, ainda muito dependente do velho paradigma geocêntrico e antropocêntrico. Compreende-se claramente que algumas das crenças mais fundamentais do cristianismo — como o pecado original como fonte de todo o mal, a encarnação e morte de Cristo para «pagar» pela humanidade descendente de Adão e Eva a culpa desse pecado, e a salvação que a sua morte e ressurreição trouxeram à humanidade — parecem enquadrar-se mal num universo com outros seres inteligentes que nada tiveram a ver com o pecado original bíblico. Terá havido em todos os planetas habitados um pecado igualmente original? Terá a encarnação de Cristo tido um valor de salvação também para os habitantes desses planetas? Ou terá Cristo encarnado em cada um deles, assumindo em cada planeta a forma dos seus habitantes?

Para os cristãos, o Verbo de Deus veio a este mundo e habitou entre nós, isto é, na humanidade inteira. Mas os conhecimentos científicos contemporâneos não se centram necessariamente no nosso planeta. Recentes investigações em astronomia têm encontrado planetas distantes com aproximações à sua estrela semelhantes ao nosso. A probabilidade de existir vida além da Terra é enorme e pensar no assunto pode ser relevante.

O diretor do Observatório Astronómico do Vaticano disse: «Como há uma multidão de criaturas sobre a Terra, poderia haver outros seres, mesmo seres inteligentes, criados por Deus. Isso não contradiz a nossa fé, pois não podemos colocar limites à liberdade criadora de Deus.» O seu antecessor pronunciara-se no mesmo sentido, sublinhando a compatibilidade da fé com a existência de outras formas de vida distantes. O S. Francisco do futuro, além do irmão Sol, da irmã Lua ou da irmã morte, poderia falar do «irmão ET»…

Para os católicos, a ação redentora de Cristo atinge a dimensão do cosmos. Não está confinada ao planeta Terra. Por isso, o facto de haver seres inteligentes noutros planetas não põe em causa a atual doutrina da encarnação, nem da redenção. Se se verificar que eles existem, concluímos que foi também para eles que o acontecimento de Jesus Cristo se dirigiu.

A doutrina do pecado original também não sofrerá com a dita hipótese. O pecado original significa a inauguração do mau uso da liberdade que Deus deu ao ser inteligente, com a consequência do mal que a continuidade desse mau uso provoca na história. Se se descobrirem seres inteligentes noutros planetas, dotados de liberdade e com capacidade de a usar bem ou mal, a noção do pecado original, tal como a teologia a formula no momento presente, também se lhes aplica.

A probabilidade da existência de planetas semelhantes à nossa Terra é muito grande. Basta fazer umas contas… O que andamos a fazer (e de uma forma original, com a chamada ciência participada, em que qualquer cidadão pode colaborar com os cientistas) é tentar observar sinais dessa presumível evidência. Mas, na mesma proporção, a probabilidade de entrarmos em contacto com essas formas de vida é, para já, muito reduzida. Limitações espácio-temporais impedem-nos, com os dados e tecnologias que possuímos, de comunicar com entidades tão distantes. O Deus em que acreditamos, porém, supera-nos sempre. Será sempre o Deus Cósmico, nas palavras de Teilhard de Chardin, que ultrapassa a nossa cidade, o nosso país, o nosso continente, o nosso planeta, a nossa religião. O Deus Cristão supera tudo, só não supera o amor, porque Ele mesmo é amor.

 

JP in Ciência Espiritualidade 18 Julho, 2019

Alegria

A Alegria, com maiúscula, que pode conter mas supera o divertimento, é o cimento da estrutura da vida.

JP in Espiritualidade Frases 16 Julho, 2019

quem é o meu próximo?

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 10, 25-37

«quem é o meu próximo?»

A réplica do doutor da lei, quando Jesus invocou o antigo mandamento (“…e ao teu próximo como a ti mesmo”) é uma pergunta que nos pode server como revisão existencial continua: “Quem é o meu próximo?”. Na teoria, conhecemos já a resposta, sabiamente transmitida por Jesus na parábola do bom samaritano. Mas, na prática, quantas vezes nos esquecemos dos nossos próximos?… Em particular, como pessoa religiosa, pergunto-me: quantas vezes há envolvimento em heroicas missões apostólicas e esquecemos os que vivem em nossa casa, no nosso bairro ou no nosso trabalho, precisando de nós?…

JP in Espiritualidade Frases 14 Julho, 2019