dádiva
A dádiva, no seu sentido mais profundo, não inclui, do lado de quem a recebe, uma lógica de menu: ao recetor da dádiva não compete escolher mas, tão só, acolher.
A dádiva, no seu sentido mais profundo, não inclui, do lado de quem a recebe, uma lógica de menu: ao recetor da dádiva não compete escolher mas, tão só, acolher.
A alma, porventura e sem complexos «incorporada», estará para durar, como conceito. Talvez os estudos de Damásio e outros equivalentes «empurrem» a teologia para não dicotomizar o corpo e a alma. A alma sinaliza, para os crentes, a capacidade de reconhecer o criador. Para os católicos, o Deus trinitário (Pai, Filho e Espírito Santo) sublinha a crucialidade da relação. O próprio Deus «é relação». A alma de cada ser humano, que espelha o criador, reflecte-se na relação fraterna com todos os outros e com um Deus pessoal.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 28, 16-20
alguns, porém, duvidaram
Em dia de celebração cristã da Santíssima Trindade o texto de Mateus traz-nos também o dinamismo da dúvida nos apóstolos. Não há fé sem dúvida como não há realização sem desejo. O reconhecimento da dúvida nas questões pessoais e face à própria transcendência é de grande importância. A caricatura da ausência de dúvida e risco, na vida, como na fé, é uma existência categórica e rígida, normalmente pouco empática. A assunção da dúvida, por seu lado, gera abertura e crescimento, consciência de fragilidade, anotação da carência de luz e humildade. É nessa base que se pode então acreditar e viver acreditando. Ter dúvida não significa a perda de convicção e sentido. Pai, Filho e Espírito Santo, em circularidade amorosa, podem ser esse sentido, podem ser luz para cada um.
Diz Melloni que as religiões podem tornar-se indigestas – não só indigestas mas sumamente perigosas… Para revitalizar o fenómeno religioso há que o recolocar como um chamamento de “esperançadores”, geradores de esperança. Mas a semente disso é o amor que chama, o útero que carrega, a mama que alimenta e tudo o que cuida. Para os crentes, Deus é o “esperançador-Mor”, que opera, cuidando, com as nossas mãos…
O discernimento espiritual, enquanto processo de escolha e clarificação, vale como instrumento de vida. Associo-lhe duas analogias: uma científica e outra filosófica. Conhecer ao modo das ciências exatas é como que discernir, isto é, separar para compreender (que o digam os químicos, nos seus processos analíticos, quando separam e “dissecam” a radiação que vem das amostras, precisamente para alcançar o seu conteúdo…). Por outro lado, é um positivo vício filosófico clarificar os termos para não baralhar… Evitar confundir, em suma, é uma marca do discernimento, do processo científico e do dinamismo filosófico.
Deus estar a ressuscitar é, tão só, uma teimosia divina pela vida, oferecida aos humanos…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Jo 20, 19-23
Recebei o Espírito Santo
Na triangulação da fé cristã, o Espírito Santo é a transcendência amorosa que sopra, dinâmica e constante. Na passagem do Evangelho que escutamos, Jesus anuncia o Espírito Santo depois de insistências de desejos de paz. Pode ser muito inspirador para os cristãos que o Espírito Santo e a paz se entrelacem numa dialética de vida: como se um (o Espírito Santo) não fizesse sentido sem a outra (a paz). A abertura ao reconhecimento de uma Presença interior em nós quase se confunde com o encontro da paz interior. Esta paz interior, por sua vez, só pode manifestar-se em fecundos e concretos gestos de paz para os outros.
Deus, seja lá o que for, é a interrogação que teima diante de todas as respostas.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Slm 46
fortaleza da minha salvação
No salmo que hoje se reza ressalta Deus como “fortaleza da minha salvação”. Saboreie-se um Deus que torna forte a nossa fraqueza e que nos salva, que dá sentido à nossa vida e que vai além das nossas angústias. No evangelho são notadas muitas curas – pontuais e insuficientes (até porque os curados não deixarão de morrer…). Mas com mais relevância, Jesus salva, abre portas, dá sentido de ressurreição. Podemos agradecer – em dinamismo de fé – Ele ser nosso refúgio e, também por isso, pedir-Lhe a graça de, no tempo da nossa vida, sermos nós também eventuais refúgios e sinais de salvação para as pessoas com quem nos relacionamos. Sermos tónicos…
Das várias máximas do tipo “penso, logo existo”, “experimento, logo existo”, “sinto, logo existo (para nos situarmos mais no século XXI…)”, escolheria uma outra: “amo, logo existo”.