Não sou o que queria ser
Sou elefante indiscreto
e queria ser um inseto.
Sou pavão exuberante
e queria ser rastejante.
Sou às vezes um trator
e queria ser uma flor…
2020
Sou elefante indiscreto
e queria ser um inseto.
Sou pavão exuberante
e queria ser rastejante.
Sou às vezes um trator
e queria ser uma flor…
2020
Uma não decisão, muitas vezes, prejudica mais do que uma má decisão. Basta pensar, com potencial analógico, no trânsito das cidades: mais valia uma decisão, mesmo que de infração, para evitar aquele engarrafamento…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mc 9, 30-37
se alguém quer ser o primeiro, tem que se tornar o último
Este jogo de ser primeiro e ser o último (e vice versa) não é fácil de jogar. Mas há qualquer coisa de fascinante em perder (para ganhar), mais rico do que o óbvio ganhar (talvez para perder). Conta-se que Pedro Arrupe, há quase um século, quis ser o primeiro a sair do autocarro onde seguia com outros companheiros para se instalarem num colégio. Chegou em primeiro ao espaço (ganhar?) e abriu todos os quartos apressadamente para ser o primeiro a escolher um lugar (ganhar?). Procurou bem, viu todas as instalações e escolheu convictamente… o pior quarto (perder?). Alegrava-o poder proporcionar aos outros o melhor espaço (perder?). Deve ter dormido com uma paz particular (ganhar?…).
Reação
Sou química.
O meu desejo maior
é o de me
transformar.
Planta
que morre
cresce.
Assim acontece
se me deixo
transformar.
Sou química…
in Paiva, J. C., Quase poesia quase química (2012) (e-book). Lisboa, Sociedade Portuguesa de Química.
acessível aqui (porventura enriquecido com uma ilustração)
Diz bem Pannemberg sobre o dinamismo da ressurreição: adianta o definitivo sem fechar o futuro. Certeza de sede e de água. Paradoxo vivível…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mc 8, 27-35
tome a sua cruz e siga-me
Jesus não convida a que se suprima a cruz mas a que se tome a cruz. Também não parece existir aqui convite a fabricar cruzes ou a ir buscá-las onde não estão… Basta a cruz de cada dia… A cruz, num sentido pascal, é a realidade existente, contingente, insuficiente, incompleta, que existe dentro e fora de nós. A cruz é um “produto” indissociável da nossa condição de finitude. Os humanos que não têm fé têm também a sua cruz, neste sentido do preço da finitude. O que é distintivo da fé, portanto, não é a cruz. É a paixão e o amor com que nos rendemos a tomar a nossa cruz, que inclui as cruzes da humanidade…
Muitos não-crentes, sobretudo alguns que trabalham e pensam na área da ciência, estão convencidos de que a religião continuará a recuar à medida que a ciência avança. Um dia, elaboram, tudo o que há a explicar estará explicado pela ciência e a religião desaparecerá completamente. Apontam muitas vezes o exemplo dos países nórdicos, altamente desenvolvidos, e onde a religião parece estar quase em vias de extinção. Ora, o que os estudos científicos sobre a evolução dos valores europeus vão mostrando é que o declínio da religião se dá ao nível da frequência das igrejas, mas não ao nível das preocupações individuais sobre o sentido da existência. É que mesmo nos países nórdicos europeus, e em outros países desenvolvidos noutros continentes, as pessoas continuam a interrogar-se sobre o sentido da existência. E, como afirmou L. Wittgenstein, os «problemas da vida» permanecem sem resposta, por maior que seja o progresso científico.
Nas culturas, na história, na vida de todos os dias, o outro pode: ser negado (tribalismo), ser absorvido (imperialismo) ou ser reconhecido (pluralismo). Cada um que reconheça em si, as suas zonas ainda ativas de tribalismo e imperialismo…
Gosto do termo “desobstaculizar” na metáfora apostólica. É libertar obstáculos para entrar a luz, o pouco que podemos fazer… O resto, é militância religiosa duvidosa…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Slm 145
louvarei o Senhor toda a minha vida
Louvar é bem dizer e pode ser um bom respiro. Fixemo-nos na expressão final do verso do salmo, isto é: “toda a minha vida”. A sociedade (não só hoje mas desde sempre), como a própria contingência do homem, é muito virada para o provisório. A nossa felicidade, por outro lado, tem muito a ver com uma certa esperança e confiança no futuro. Sem deixar escapar o presente (antes potenciando o “já”), vale a pena viver, se a nossa vida for uma vida com futuro! Louvar o Senhor, hoje, é bom. Melhor ainda, expressão de fidelidade libertadora, é louvar o Senhor, hoje, querendo também louvá-Lo “toda a minha vida”. Ser feliz, não só pelas (tantas) coisas boas que tenho hoje, materiais e espirituais, mas, principalmente, porque a fé me dá a graça de saber que serei feliz amanhã, aconteça o que acontecer…