livro aberto e docência

O dinamismo da profissão de professor presta-se pouco a fechos e a sínteses, sendo mais coerente falar em portas e caminhos que se abrem. Esta é uma atividade gozosa, precisamente por ser um radical e constante livro aberto…

JP in Educação Frases 30 Março, 2021

ainda que todos te abandonem, eu não te abandonarei

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mc 14, 1-15, 47

ainda que todos te abandonem, eu não te abandonarei

A descrição da Paixão de Cristo, que meditamos em domingo de Ramos, é tão longa quanto profunda e repleta de sinais. Uma das formas de mergulhar neste texto é situarmo-nos nas diversas personagens e, em atitude criativa de composição do lugar, perguntar-se “quem sou eu neste cenário?” Pedro, que prometera não abandonar o Mestre, mas que o nega? Simão, o cireneu, que ajuda Jesus a levar a cruz? Um soldado? Um personagem incógnito que vê a cena mas não se envolve nem se co-move? Pilatos, que lava as mãos? O próprio Jesus? Maria, que assiste em envolvimento e dor? Barrabás, que se safa na frincha da sorte? O bom ladrão, que in extremis se arrepende e confia?…

JP in Espiritualidade Frases 28 Março, 2021

tempo para SER

“preciso de tempo para SER”

Na frase acima, a palavra em maiúsculas é fatidicamente substituída e vivenciada como sendo: ter, empreender, fazer, concluir, testemunhar, realizar, consumar, controlar, compensar, cobrir, salvar, socorrer, etc. Palavras complicadas, todas com mais de três letras…

JP in Frases 26 Março, 2021

evolução ou transformação?

Maior complexidade é diferente de melhor performance ou evolução. Sem garantias de sermos melhores ontem do que hoje, pelo menos a alguns níveis, apetece invocar não a teoria da evolução mas a teoria da transformação (mais prudente…)

JP in Ciência Educação Espiritualidade 24 Março, 2021

monocausalidade

As explicações monocausais tendem a ser insuficientes. Principalmente em sínteses curtas, por este motivo, tenho o dever de humildemente reconhecer que posso, senão ser, pelo menos parecer categórico…

JP in Frases 22 Março, 2021

e não mais recordarei as suas faltas

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Jer 31, 31-34

e não mais recordarei as suas faltas

O Livro de Jeremias anuncia uma aliança nova, referindo-se a um Senhor que fará um pacto definitivo com os homens. Embora para os cristãos, esta aliança seja consubstanciada na vida de Jesus Cristo é interessante observar os seus indícios judaicos: “perdoar os pecados e não mais recordar as nossas faltas”. Muitas vezes não valorizamos a radicalidade libertadora desta misericórdia, que “treinamos”, em particular na Quaresma. Podemos tentar, também nós, ser instrumentos da uma nova aliança de perdão para outras pessoas. Não sendo fácil (até porque não significa, tão só, esquecer) poderemos trabalhar o “não recordar as faltas” dos outros, incrementando em nós a capacidade de ver os com olhos novos. Sem tanger a ingenuidade, façamos um esforço por ver os outros como Deus vê… Em particular, que as faltas dos humanos com que nos cruzamos sejam mais pretextos de misericórdia nossa, do que matéria para “carimbos”…

JP in Espiritualidade Frases 20 Março, 2021

Fé de segundo fôlego e o Pai Natal…

A expressão de Thomas Halik de que a fé cristã precisa de um “segundo fôlego” é muito interessante. Este autor refere, em particular, o ‘mito da nostalgia infantil do Pai Natal”, focado na decepção da criança que descobre que a fantasia do Pai Natal era isso mesmo, uma fantasia… Ele quer dizer o seguinte: se me venderam uma fé e uma religião com argumentos infantis (se me disseram que o Pai Natal existia…) eu não só posso como devo abrir os olhos e endireitar caminhos. Mas não existir o Pai Natal, não significa que não há Natal. Da mesmo forma, abandonar a fé que me passaram baratamente e inconsistentemente não significa que não tenho lugar na fé. Preciso é de a resignificar, de lhe dar novos sentidos… Salvar o Natal apesar de não haver Pai Natal seria o paralelo para salvar a minha fé, apesar das catequeses infantis e insuficientes…

JP in Espiritualidade 18 Março, 2021

Blended apostolicus: oportunidades para a Igreja no digital

Paiva, J. C. (2021). Blended apostolicus: oportunidades para a Igreja no digital. Site Ponto SJ, 14-03-2021.

Disponível aqui

A situação de pandemia que vivemos forçou-nos a todos a uma maior intensidade de mediação digital. Reuniões síncronas por via de plataformas como o zoom; visualização e partilha de vídeos, textos e animações; maior interação em redes sociais; mais à vontade com recursos digitais.

Na vida da Igreja muitas das habituais interações como conferências e catequeses, reuniões de estruturas e outros encontros não pararam. A eficácia resultante surpreendeu muitas pessoas, mesmo os mais céticos, pelos progressos técnicos pessoais e pela eficiência que os processos digitais possibilitam.

Somos peregrinos. Não está no nosso ADN a simples nostalgia de desejar tão só voltar ao mesmo sítio. Por isto mesmo, há um certo mandato cristão de tirar proveito destas aprendizagens e potenciar as grandes virtudes de algumas interações digitais. Nos tempos mais próximas, espera-se, haverá uma espectável e legítima procura de presencialidade, de toque e de fisicalidade. Mas não tardará um reequilíbrio capaz de conjugar essa mesma congregação pessoal clássica com as novas janelas da tecnologia. Em educação, usa-se o termo blended-learning (abreviatura b-learning) para a utilização conjunta de momentos presenciais com interações digitais, síncronas ou assíncronas, tipicamente a distância. A palavra blended aproxima-se da palavra mistura e diz respeito à indústria do whisky, onde vários líquidos se juntavam. É algo inspirador para muitas das coisas que podemos vir a fazer em Igreja, embalados pela hiperdigitalização destes tempos: um entrelaçado fecundo (blended) entre os momentos plasmados no mesmo espaço e no mesmo tempo e outros à distância… de um clique!

São óbvias algumas vantagens das reuniões virtuais, quer na perspetiva geográfica (daqui para qualquer lugar do mundo, e vice-versa…) quer por aspetos muito práticos como: poder estar em casa, com filhos pequenos, doentes ou dormindo, poupar combustível, ganhar algum tempo, aliviar o trânsito, bem como outros contributos indiretos para a saúde da Casa Comum. Em síntese, um potencial incremento da assiduidade. Digo isto quer para aqueles encontros de preparações de eventos, secretariado e planeamento, quer para outros eventos de natureza mais “apostólica” (convivo bem com o termo – apostólico – mas sublinho que o sentido apostólico é da ordem do ser e essa ontologia é pouco dada a estratégias e a militâncias muito dirigidas…).

Poderíamos chamar a certa vida futura da nossa comunidade, b-Igreja (b de blended). De fora, compreende-se pela própria essencialidade do toque, os sacramentos. A eucaristia, em particular, não me pareceu ganhar muito com a mediação digital. Independentemente da emissão para terceiros, de per si, a missa (física) em COVID apresenta notárias falhas cénicas (mascaradas) e fragiliza intrinsecamente a liturgia. Em particular, saliento a antítese de evitar o contacto quando se celebra a comunhão. Compreende-se o mal menor das missas transmitidas em pandemia, já praticado pela via televisiva em pré-pandemia. Intensificou-se por aí uma marcada regressão, na forma como alguns se referem à eucaristia usando essa terrível expressão: “assistir” à missa…

Por outro lado, passível de potencialidade digital, claro está, estão realidades como o acompanhamento espiritual, as reuniões comunitárias de fé e de vida, conferências temáticas, debates, catequeses, secretariado de equipas de serviço, etc. Será lamentável se não se aproveitar este embalo. O formato blended (não falamos de digitalização exclusiva) será equilibrado e permitirá respeitar os vários ritmos. Não será razoável, em pós-pandemia, fazer reuniões de cariz nacional, principalmente de secretariado, no formato virtual (pelo menos algumas vezes, senão na maioria dos casos…)? Não será interessante evitar viagens cansativas e arriscadas, principalmente no Inverno, fazendo-se a parte ou o todo de um grupo, presente não fisicamente? Pode colocar-se a questão, aqui e ali, de haver ritmos e sensibilidades diferente na tensão encontro presencial/encontro digital. Para estes dilemas sugiro o caminho salomónico, respeitador de todas as equações e estilos: quem entender como melhor estar fisicamente, assim estará. Quem entender como melhor (ou só puder assim), estará digitalmente. Estes formatos mistos presencial/digital parecem-me de enorme futuro. Hoje em dia, tecnicamente, qualquer telemóvel de gama média colocado no meio de uma mesa, capta o som do conjunto e fornece a participação de quem estiver a distância. Para eventos com mais pessoas, não será desproporcionado adquirir um microfone/emissor de maior alcance, dispositivos cada vez mais acessíveis e que otimizam a receção e emissão de som para grupos de muita gente.

Costuma ser notado, no contexto destes argumentos, o problema da infoexclusão, particularmente dos mais idosos ou desprotegidos económico-culturalmente. Sem prejuízo de ser precisa ainda alguma solidariedade cristã digital, impressionou nestes tempos a quantidade de pessoas que se superaram e apareceram on line. Mais ainda (e digo-o com experiência própria), foram lançadas e vividas oportunidades a gente do interior do país, nos mais variados lugares europeus e até do outro lado do oceano.

Pode caber aqui, em véspera de ano inaciano, o exemplo de Inácio, forçado a parar em confinamento por fraturas da vida. O seu momento Pamplona (equivalente ao nosso momento COVID…) levou-o a reformular (-se) e a reformular a vida. O essencial desta resignificação que vivemos não é a digitalização mas existirá, também no bom uso da tecnologia, uma alternativa de alavancamento.

Sim… há perigo de sofá, de quentinho, de ir pelo mais fácil. Por outro lado, via tanta gente cansada, a ir a todas… Via uma sociedade poluída, ruidosa, azafamada (mesmo com a agenda das ‘coisas de Deus’), excessivamente urbanizada… Caberá a cada um e a cada grupo ir vendo e avaliando sistemicamente tudo isto, surfando nas aprendizagens COVID. Aferir o grau blended para a bebida do grupo… ou até tomar sempre whisky quase puro! Com ânimo e alegria há que ir caminhando, com um pé na fisicalidade e outro pé no digital…

JP in Sem categoria 16 Março, 2021

porque Deus não enviou o Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Jo 3, 14-21

Porque Deus não enviou o Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele

Acreditar é um movimento perpétuo de “jás” e “ainda nãos”. É bom colocarmo-nos na Quaresma como caminho de preparação para acolher amorosamente a morte e a ressurreição de Jesus, neste ritmo de esperanças e de incertezas. Tudo aquilo que nos prejudica, em todas as dimensões da nossa vida (psicológica, corporal, social, amorosa, etc.) odeia a luz, fica no escuro. Ficar no escuro é estar escondido, é estar no lugar onde nada nem ninguém se vê, é estar no segredo. Quais as nossas áreas de maior ou menor escuridão? Quais os nossos segredos? Podemos também confrontar-nos com a evidência de que há relações familiares que são de escuridão ou de luz, relações de trabalho, de “mim comigo”, de realidade social, política local, nacional e mundial, que estão envolvidas pela luz ou pela penumbra, ou mesmo pela escuridão total. Identificar essas situações e deixar vir à luz a bondade que há em nós e nos outros é caminho de Quaresma…

JP in Espiritualidade Frases 14 Março, 2021

amizade

Um dos fios mais estruturantes da amizade é precisamente a não dependência.

JP in Frases 12 Março, 2021