espera e paciência
A espera tem como perigo maior a impaciência. Por isso a fé é, em certo sentido, a esperança ilimitada que se trilha com a paciência de viver acreditando.
A espera tem como perigo maior a impaciência. Por isso a fé é, em certo sentido, a esperança ilimitada que se trilha com a paciência de viver acreditando.
A palavra, na sua função de comunicar, de comungar, é a ponte para dizermos quem somos a quem nos queira escutar. Mas no limite, mesmo sem ser ouvida, então menos fecunda, mas válida, a palavra vale sempre a pena…
Um dos grandes equívocos dos crentes católicos romanos contemporâneos, me parece, é entenderem a formulação do Evangelho existente no cânone como ‘a formulação’. Ganhar forma é importante e, como tal, não desprezo a formulação católica. Mas é próprio da nossa formulação incluir o dinamismo cultural em que vivemos, hoje mais mutável ainda do que no passado. As formulações estáticas do passado serviram bem um passado – ele próprio algo estático – em que o que a Igreja dizia estava conforme aquilo que a humanidade vivia. Mas hoje não é assim e por isso, para darmos vida ao Evangelho, temos que recriar as nossas formulações, para que estas consigam ser entendidas e assim penetrar na cultura, em cada cultura, porventura polimoformicamente…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Ex 20, 1-17
não terás outros deuses diante de Mim
Em tempos de Quaresma propicia-se o Livro do Êxodo, desde logo pelo cenário dos quarenta anos de deserto que um povo em procura, como nós, se dispôs atravessar, com fé e na fé… A sugestão de ‘não ter outros deuses’ é muito mais do que teológica: quais os meus ‘outros deuses’? Poder? Reconhecimento? Segurança? Saúde? Eu próprio(a)?…
PS: Atentemos numa ideia que não raras vezes nos faz legítima confusão e que aparece no Antigo Testamento, quando são postas na boca de Deus expressões como: “Eu castigo as ofensas dos pais nos filhos”. Importa eliminar as imagens (negativas) de um Deus castigador. E Ele, de facto, não castiga! Devemos, pois, ouvir estas palavras no contexto histórico-temporal em que se inserem, na linha de uma relação “Homem-Deus” ainda imatura, que está a crescer e que vai abrindo portas para a grande revelação da misericórdia, que está a acontecer e que, para nós, cristãos, se dá em Jesus Cristo.
Este texto é adaptado em parte ou na totalidade de palavras anteriores já publicadas.
L 1 Ex 20, 1-17 ou Ex 20, 1-3. 7-8. 12-17; Sl 18 (19), 8. 9. 10. 11
L 2 1Cor 1, 22-25
Ev Jo 2, 13-25
Um dia inventei a palavra ‘seder’ (com um ‘s’). Desejava referir-me à procura da sede que, sendo sede do outro e de mim, é sede de Deus…
Nas escrituras, não há só a tensão entre a fisicalidade e o simbólico. Também no plano literário, há a tensão entre o enredo e a intriga. E assim como valorizo mais o simbólico e relevo alguns acidentes da fisicalidade, tendo a valorizar mais o enredo da revelação do que a intriga da história…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mc 9, 2-10
como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas
Um dos aspectos que se pode abordar do texto de Marcos é o comentário de Pedro face à transfiguração. Pedro é um homem espontâneo e convida o Mestre a permanecer ali, sugerindo a montagem de três tendas. Também nós, como Pedro, principalmente no domínio do grupo religioso, tendemos a querer montar tendas no “bem bom”, no quentinho da fé. Sabemos, porém, que tudo o que nos fecha não vem de Deus e que, sendo útil o conforto comunitário para crescermos na fé, somos sempre impelidos a voltarmo-nos para fora. Mas é ainda mais amplamente humana esta tendência para o conhecido, para o mero conforto, para o vislumbre infecundo, para o sofá. Está na partida, na missão, no rasgo, na abertura e em certa desinstalação o nosso maior encontro…
L 1 Gn 22, 1-2. 9a. 10-13. 15-18; Sl 115 (116), 10 e 15. 16-17. 18-19
L 2 Rm 8, 31b-34
Ev Mc 9, 2-10
Noite
Noite.
Bela.
Serena.
Paz.
Sol ausente.
Silêncio de luz.
Estrela cadente
de eternidade.
Noite.
Brilho.
Calma.
Sonho.
Vida escondida.
Segredo de aurora.
Noite de vida.
Noite.
Brisa.
Discreta.
Sóbria.
Lua presente.
Esboço de esperança.
Noite de Deus.
2009
Dar ao outro a liberdade de me largar é muito exigente, mas em si mesmo, libertador. Do lado crente, é importante reconhecer que é essa mesma liberdade de largar, e também de largar Deus, que o mesmo Deus nos oferece…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Gen 9, 8-15
Farei aparecer o meu arco sobre as nuvens
Deus “zangara-se” com o homem (linguagem de Antigo Testamento, que convém resignificar…) mas reconciliou-se com o mundo, por via de Noé, que foi fiel ao Senhor. O arco-íris no céu representa o arco invertido, gesto usado pelos guerreiros como sinal do fim da guerra e do convite à paz. É isto que Deus fez com Noé e que nos quer comunicar também a nós. Tentemos nós também pousar alguns arcos de batalhas que ainda travamos, deitar fora algumas flechas apontadas a alguns inimigos. Quais são as guerras que ainda existem na minha vida? Quero/posso colocar o arco das flechas invertido, como sinal de paz? O arco-íris no céu, sinal colorido de arco pousado, de paz, de cor e de beleza, é deveras inspirador…
Este texto é adaptado em parte ou na totalidade de palavras anteriores já publicadas.
L 1 Gn 9, 8-15; Sl 24 (25), 4bc-5ab. 6-7bc. 8-9
L 2 1Pd 3, 18-22
Ev Mc 1, 12-15