selo de amor
Um envelope saído da Igreja com uma qualquer missiva, só poderia ser expedido com um selo muito especial: o selo do amor.
Um envelope saído da Igreja com uma qualquer missiva, só poderia ser expedido com um selo muito especial: o selo do amor.
Há um caminho, por um lado longo, mas apenas a começar, segundo o qual temos que colocar o lugar da consciência antes da moral, da doutrina e do dogma. Estas mediações de ajuda só interessam em função do sonho maior: uma consciência elevada, pessoal e comunitária, da essência amorosa da vida.
O cristianismo, com o seu ‘ismo’, ganhou, mas perdeu também muitas oportunidades. Talvez a ontologia de ser crístico, na sua fidelidade, mas em plena abertura, seja o devir deste tempo.
As inspirações bíblicas mais críticas sobre os fariseus e outros grupos fechados, revestidos da hipocrisia e da exterioridade, são para todos, são para mim. Apesar das crises eclesiais (e a que vivemos é muito aguda), uma das coisas que me faz permanecer é, não só mas também, o reconhecimento de que eu mesmo, crente em trânsito, sou um procurante de coerência e inteireza. O nosso esculpir interior, feito de oração, comunidade, trabalho e caminho, é ir deixando de ter máscaras, aproximando-nos da verdade que somos. Tudo na primeira pessoal do plural…
Será sempre difícil entender e renovar a Igreja (é ontologicamente próprio da Igreja renovar-se, por mandato evangélico) sem um olhar histórico, límpido e crítico das mentalidades reais das grandes épocas, desde os primeiros cristãos. E um regresso crítico aos primórdios, na dádiva de todos os tempos, é e será inevitável. Ali, no início, não sem confusão, havia sempre mais fraternidade do que hierarquia, mais serviço do que poder.
Lido mal com as expressões e vivências que passem por “defender a Igreja”. O resultado de defender pode estar perto de enterrar… Não me parece, também, esta metáfora defensiva, a agenda do fundador…. Inspira-me, portanto, uma Igreja em saída…
Passei a proibir-me de dizer ‘a igreja isto… a Igreja, aquilo’. Mantenho e quero manter a lucidez crítica mas precedida, sempre, da palavra nós, que me inclui e responsabiliza: Começo então a frase por ‘nós, Igreja…’ e digo o que (auto)criticamente ajude a iluminar e a melhorar.
É bom reconhecermos as etapas dos encontros e desencontros na matriz histórico-religiosa da nossa cultura: tribal/isolacionista, imperialista/expansionista e a etapa polifónica/pluralista: em que estamos ou desejaríamos estar neste mundo globalizado.
Javier Melloni, no seu livro “Cristo interior” lança um lastro tão cristão quanto radicalmente aberto e ecuménico, que me descansa, enquanto crente católico Romano: “A Igreja é um jardim de surpresas onde germinam sementes antigas que não germinaram na sua altura mas não morreram, e onde árvores de outrora são hoje lenha esquecida. A Igreja á maior que ele própria, mas não o sabe. Põe limites às suas possibilidades. Sempre o fez e continua a fazê-lo. Mas as sementes do evangelho não sabem destas demarcações e por isso há Igreja para lá da Igreja, como há evangelho para lá do texto e há Cristo a nascer em todo o coração desalojado de si mesmo. O Cristo nascente está albergado em cada interior humano. Há sementes de divindade – o chamamento a viver a existência como plenitude do receber e do dar-se, tal como acontece no interior de Deus – espalhadas por toda a parte. Jesus de Nazaré veio despertar-nos e, desde então, estamos a amanhecer apesar de tanto adormecimento nosso.”
Na tensão entre conservadores e progressistas, que vale o que vale, convém reconhecer que a maioria de nós convive com dialéticas de rutura e de continuidade. Se me escandalizo com o excesso do progressista, sou um conservador escandalizado. Mas se me escandalizo com o ponto de vista do conservador, sou um progressista escandalizado…. Evitar o escândalo interior face ao outro é um bom insight de abertura…