espaço, tempo e transcendência
Agradeço o tempo, o espaço e neles a transcendência que habito. Agradeço também o tempo, o espaço e a transcendência que habitam em mim…
Agradeço o tempo, o espaço e neles a transcendência que habito. Agradeço também o tempo, o espaço e a transcendência que habitam em mim…
Os teólogos da segurança ficam arrepiados com as aproximações ecuménicas menos diferenciativas, assustados com o ‘tanto faz’ das religiões. Sim, há diferença nos caminhos espirituais da humanidade, mas, por submissão positiva à bondade universal e amorosa de Deus, há uma relativização da via religiosa-espiritual, que redunda quase nisso: salvação no trilho da boa vontade vertida nas possibilidade de cada pessoa e de cada cultura, um ‘quase-tanto-faz’, sim… (para positivamente escandalizar tal teologia securitária…)
Ter fé está muito para além de acreditar na existência de Deus. Uma criança que está ao colo da sua Mãe não questiona a sua existência, antes goza o acolhimento maternal. A fé tem algo de semelhante: muitas vezes, o «colo de Deus» vem antes da «confirmação» da Sua própria existência…
Sou honestamente compreensivo face aos meus amigos em retirada das “coisas de Deus”. Eu próprio partilho o dilema, mais ou menos traumático, de propostas religiosas com muito ruído. Mas invoco o insuspeito Nietzsche que, perdoe-se-me o salto, coloco em confronto com palavras do Evangelho. Escreveu Nietzsche: “o desaparecimento de uma ilusão não proporciona necessariamente uma verdade”. Dizia o apóstolo Pedro, a propósito das complexidades de seguir o Mestre: “para onde iremos, Senhor, se só Tu tens palavras de vida eternal?”
Sou prudente no amparo da expressão, muito usada em contexto religioso, “escutar Deus” (pode derivar para “Deus disse-me”). No seu impulso metafórico, emprestando atenção, silêncio, cuidado aos sinais e inteireza, a expressão tem sentido e pode ser vivida como real. Mas já me deparei com a convocatória desta expressão para as mais infantis incorporações: mandatórias, excessivamente explícitas, e, principalmente, desresponsabilizantes…
O Deus em quem os cristãos acreditam e confiam e a quem, por isso, dão crédito, pode valer a pena. Os crentes não sabem explicar muito sobre o que a Ele se refere, mas o pouco que sabem é suficiente para fundamentar a sua fé. Mais do que saber explicar, procuram saber viver de acordo com os valores cristãos. Deus tem mais a ver com a sabedoria do que com o saber. Acreditar em Deus relacional, pessoal e comunitariamente, na Igreja Católica (também noutras denominações, com toda a certeza), dá aos cristãos paz e sentido para a vida. Por isso mesmo, dão crédito a Deus e à Igreja, apesar da inalcancibilidade total do primeiro e das fragilidades da segunda… O fundamento desta crença é, pois, simultaneamente, racional e relacional.
Alguns crentes ficam “sem pé” diante de certa autonomia do mundo. Compreendende-se, mas esse horror ao pulsar cósmico pode relevar traços de um deus marioneteiro inconsistente. Ajuda a ciência e os seus insights (na astronomia, na física, na química, na biologia, na história, na psicologia e na sociologia, por exemplo). Torna-se mais claro, hoje, que o agir de Deus se plasma no sentido da história e é a provocação à solidariedade humana que nos dará sentido.
Uso (e abuso) daquele diálogo imaginado, pleno de sabedoria e verdadeira responsabilidade vivente. Um (des)crente pergunta ao seu Deus, diante de uma criança que sofre: “meu Deus, esta criança a sofrer, e Tu não fazes nada?”. Responde Deus: “sim, faço-te a ti…”.
Não procuramos Deus para explicar as causas físicas do que acontece, mas sim para ir procurando o mistério último do significado do mundo e da vida.
Em linguagem religiosa usa-se com frequência a expressão: “levar Deus aos outros”. Tem muito que se lhe diga e, na fase de vida em que me encontro, não tem grande significado, podendo até ser uma expressão perigosa. Deixo algumas perguntas: quem sou eu para me arvorar em ‘ter Deus’? Levar, mas levar “como”? Não estará já Deus em qualquer todo-outro? Não será antes “receber Deus do outro”?…