amizade
Um dos fios mais estruturantes da amizade é precisamente a não dependência.
Um dos fios mais estruturantes da amizade é precisamente a não dependência.
Austen Ivereigh, um dos mais notáveis biógrafos do Papa Francisco, diz que este prefere, em vez da tríade ver-julgar-agir, uma outra, sob o chapéu da misericórdia, que poderia ser contemplar-discernir-propor. Percebo este andamento, menos moralista, mais gradual, mais pedagógico, mais confiante na consciência de cada um. Por vício de síntese, tomo para mim como seria interessante ver, julgar e agir, contemplando, discernindo e propondo…
Se eu tivesse mesmo de ter uma obrigação (terei?), seria a obrigação de ser feliz.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Ex 20, 1-17
não terás outros deuses diante de Mim
Em tempos de Quaresma propicia-se o Livro do Êxodo, desde logo pelo cenário dos quarenta anos de deserto que um povo em procura, como nós, se dispôs atravessar, com fé e na fé… A sugestão de ‘não ter outros deuses’ é muito mais do que teológica: quais os meus ‘outros deuses’? Poder? Reconhecimento? Segurança? Saúde? Eu próprio(a)?…
PS: Atentemos numa ideia que não raras vezes nos faz legítima confusão e que aparece no Antigo Testamento, quando são postas na boca de Deus expressões como: “Eu castigo as ofensas dos pais nos filhos”. Importa eliminar as imagens (negativas) de um Deus castigador. E Ele, de facto, não castiga! Devemos, pois, ouvir estas palavras no contexto histórico-temporal em que se inserem, na linha de uma relação “Homem-Deus” ainda imatura, que está a crescer e que vai abrindo portas para a grande revelação, que está a acontecer e que, para nós, cristãos, se dá em Jesus Cristo.
O sublinhado explícito duma identidade ou de uma pertença (religiosa, cultural, familiar) é quase sempre exagerado… porque é uma trincheira…
Por vezes os alunos erram, não por desconhecerem mas por não saberem o que as palavras querem dizer… A desmontagem etimológica de muitos termos pode ser muito útil. Compreender a raiz da palavra, de onde vem, o que significa e que pontes semânticas se podem encontrar com significados conhecidos do aluno é uma arma didática poderosa e imprescindível.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mc 9, 2-10
como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas
Um dos aspectos que se pode abordar do texto de Marcos é o comentário de Pedro face à transfiguração. Pedro é um homem espontâneo e convida o Mestre a permanecer ali, sugerindo a montagem de três tendas. Também nós, como Pedro, principalmente no domínio do grupo religioso, tendemos a querer montar tendas no bem bom, no quentinho da fé. Sabemos, porém, que tudo o que nos fecha não vem de Deus e que, sendo útil o conforto comunitário para crescermos na fé, somos sempre impelidos a voltarmo-nos para fora. Mas é ainda mais amplamente humana esta tendência para o conhecido, para o mero conforto, para o vislumbre infecundo, para o sofá. Está na partida, na missão, no rasgo e em certa desinstalação o nosso maior encontro…
A espiritualidade indiana sintetizada no yoga convida-nos a um certo desegocentramento. Vemos aqui portas muito interessantes com o desejo de libertação de qualquer ser humano. Experimentamos que esta luta, contendo-nos, paradoxalmente, se vence “autolargando-nos”…
Hibridização
Na química,
os aromas mais nobres
são com eletrões de ninguém.
É tal ressonância
que emana
e se espalha em doação.
Na química,
como na química da vida,
é a partilha,
é a não pertença
que nos perfuma…
2019
Nem o progresso espiritual nem a caminhada psicológica (mais ou menos psicoterapêutica) apostam na irradicação ingénua do que é menos bom em nós. A estrada passa mais por reconhecer e aprender a viver, francamente, com aquilo que somos. Não é teimosia nem perguiça de melhorar: é realismo existencial…